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Bruno Pereira em entrevista ao zerozero

O português que foi campeão nos Emirados e que já trata o continente asiático por tu

2024/05/08 19:29
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*com Diogo Moreira dos Santos

O Al Urooba conquistou o título de campeão da segunda liga dos Emirados Árabes Unidos e conseguiu a tão desejada subida ao primeiro escalão. A equipa de Fujairah festejou após um trajeto marcado por 22 vitórias, numa época que pode ser descrita como 'de sonho'- o clube averbou apenas uma derrota até ao momento.

O responsável por esta caminhada foi Bruno Pereira, técnico natural do Funchal que somou assim mais uma conquista ao seu palmarés no que diz respeito ao Médio Oriente (já havia conquistado o campeonato em Omã e a Supertaça no Barém). O treinador português, que iniciou a carreira em 2004, mudou-se para o estrangeiro enquanto treinador principal em 2017 pela porta do Al Nahda, de Omã. 

As passagens por clubes do Barém, Omã e Tailândia abriram as portas à chegada de Bruno Pereira ao futebol dos Emirados Árabes Unidos, país no qual brilhou agora em 2023/24. A equipa, que na temporada 2022/23 não tinha ido além de um modesto 12º lugar, reverteu a situação com a chegada do português e alcançou pela terceira vez na sua história o primeiro escalão.

Em entrevista ao zerozero, o treinador falou do trabalho desenvolvido, fazendo uma reflexão sobre o seu trajeto até ao momento e deixando também pistas sobre o seu futuro.

ZEROZERO (ZZ): Mais uma conquista, desta vez a subida à primeira divisão dos Emirados Árabes Unidos. Como surgiu a oportunidade de comandar o Al Urooba?

Bruno Pereira (BP): É verdade, mais uma conquista numa época que, apesar de desgastante, tem sido muito prazerosa. Não foi a primeira vez que fui abordado pelo mercado dos Emirados Árabes Unidos. Já tinha surgido a oportunidade de treinar não só este clube, mas também um outro no ano passado. Quando me falaram deste projeto percebi de imediato que podia ser um passo interessante para a minha carreira. O facto de ser um projeto sério e de, ainda por cima, haver ideias de lutar por títulos pareceu-me bem. Nós, treinadores, vivemos disso, embora não seja possível estar sempre nesse tipo de projetos. 

@Al Urooba

ZZ: Assumiu há pouco tempo que o objetivo era a subida de divisão. Agora que o conseguiu, como pode descrever o processo?

BP: Sim, desde o primeiro dia que o foco era a subida de divisão, mas lógico que, para atingir um objetivo destes, era necessário melhorar a organização de tudo o que rodeia a equipa principal, reunindo condições para que a equipa possa pensar só em futebol.  A partir desta base, reuni um grupo de jogadores competentes para que pudéssemos entrar em todos os jogos para ganhar. Esta forma de agir, com o apoio da direção, foi uma das chaves do nosso sucesso. 

O treinador é a pessoa que melhor percebe o que vai precisar para ser competitivo e as características que procura no seu jogo. Felizmente correu bem e é a prova de que, quando as coisas são feitas com pés e cabeça, ficamos mais próximos do sucesso.

ZZ: Nesse processo longo, quais foram as principais dificuldades que enfrentou?

BP: É lógico que nem tudo foi um mar de rosas. Aqui e ali apareceu um problema, principalmente relacionado com a parte organizacional, porque esta é apenas a terceira vez que o Al Urooba sobe à primeira divisão, não estando ao nível dos clubes da primeira liga. Essa questão organizacional foi a “tecla que mais premi” ao longo da época; para chegar à primeira liga não é preciso ter estrutura de (clube de primeira liga), mas é preciso caminhar para uma estrutura de. Nesse aspeto demos passos muito importantes.

ZZ: Disse várias vezes que a comunicação com os seus jogadores é uma das bases do seu trabalho. O facto de ter jogadores maioritariamente estrangeiros dificulta muito esse processo?

BP: A barreira linguística, principalmente nos primeiros anos de Médio Oriente, foi algo difícil de lidar. No entanto, foi ultrapassada com maior ou menor dificuldade. O facto de andar nestes meandros há já algum tempo possibilitou-me aprender não tudo, mas principalmente as questões relacionadas com o treino e com o jogo. Mas claro, ter portugueses ou jogadores que falam bem inglês na equipa é uma grande ajuda para implementar a minha ideia de jogo.  

@Al Urooba

ZZ: Em 2011 sai de Portugal para abraçar uma aventura no Al Ittihad enquanto treinador-adjunto do mister Toni. Como surgiu a oportunidade?

BP: O futebol é como a vida, muitas vezes surgem coisas do inesperado. Felizmente tive essa oportunidade que surgiu da minha amizade com Vitor Campelos. Conheci o Vitor há uns anos, num curso de treinadores, e ele foi durante muitos anos o braço direito do mister Toni. Nessa altura necessitavam de mais uma pessoa para o staff não só no campo, mas também para a análise tática da equipa e dos adversários. O convite surgiu e eu senti que era uma oportunidade que devia agarrar, ainda por cima num clube histórico da Arábia Saudita, com um staff tão competente e ao lado de uma figura histórica como é o mister Toni.

ZZ: Depois dessa primeira experiência no estrangeiro, regressa a Portugal e obtém bons resultados no SC Braga B e no Trofense, por exemplo. Apesar disso, volta a abandonar o país pela porta do Al Nahda, de Omã. O que o levou a tomar esta decisão?

BP: Desde a minha passagem pelo Al Ittihad que senti que, apesar de o nível de profissionalismo e mentalidade não se poder comparar ao do futebol europeu, podia ser um mercado apelativo e com tendência natural de crescimento, algo que se confirmou.

Se prestarmos atenção no impacto que, por exemplo, a liga saudita tem e o aumento qualitativo ao nível dos jogadores e treinadores, conseguimos perceber isso mesmo. Acredito que este crescimento se alastre também para o Catar, Emirados Árabes Unidos, entre outros. Depois, olhando também para a minha capacidade de adaptação, pareceu-me um grande desafio. Não que fosse para fazer a minha carreira inteira cá, mas naquele momento foi interessante.

ZZ: Que impacto podem ter as experiências que vai adquirindo e as conquistas que vai somando no seu futuro?

BP: Naturalmente, conquistando títulos e atingindo objetivos como este, esse próximo passo pode se mais fácil. Embora tenha de reconhecer que as pessoas olham para um treinador que, como eu, está fora do país com algumas interrogações e, muitas vezes erradamente, pensam «este treinador só tem bons resultados no estrangeiro». A verdade é que, para se confirmar, é preciso dar-se oportunidade num bom projeto. Eu acredito que, se um treinador chega a quatro países e completa os objetivos em todos eles, significa que tem uma capacidade de adaptação e de trabalho. Isso é que permite que se obtenha sucesso, independentemente do país. Isto significa que posso também ter sucesso dentro de portas, mas continuo a aguardar sem pressas nem obsessões por essa oportunidade. O que eu quero é trabalhar em projetos ambiciosos e sentir-me valorizado seja lá onde for.  

Bruno Pereira nos tempos de SC Braga B @Global Imagens / Fábio Poço

ZZ: O futuro pode passar por Portugal? Tem esse desejo?

BP: Confesso que, até por razões familiares, gostava. Tenho uma filha com sete anos e posso dizer-lhe que, juntando todos os dias ou semanas que estive com ela, deverá dar pouco mais de um ano e meio. É mesmo muito complicado. Temos de ser mentalmente fortes e obstinados para conseguir ultrapassar este tipo de dificuldades. Não me arrependo do meu trajeto até hoje, mas a curto-médio prazo gostava de abraçar um projeto pelo menos mais próximo de Portugal.

ZZ: Uma das principais diferenças de Portugal para muitos dos países onde trabalhou está relacionada com a  questão cultural e social. Como lidou com isso?

BP: O contexto muda, a cultura muda, mas o fundamental é haver preparação mental para o que vamos encontrar e procurar identificar quais são as principais diferenças entre o nosso país e o país para onde vamos. Temos de respeitar os hábitos e culturas de cada país, assim como gostamos que os estrangeiros façam o mesmo quando visitam o nosso país. A partir daí, é a capacidade de adaptação de cada um que conta. O meu foco no trabalho também ajuda, reservo pouco tempo para explorar os países porque mantenho o meu foco no trabalho.

ZZ: Acredita que essa obstinação pode ser a chave do sucesso português no Médio Oriente?

BP: A chave do sucesso é o nível de conhecimento elevado. Os treinadores portugueses e a sua escola é para lá de boa e não tenho a menor dúvida. Para além disso, acrescentamos uma capacidade de adaptação que nos é mundialmente reconhecida. A competência do treinador português é notável e isso nota-se nos resultados. 

qTenho uma filha com sete anos e posso dizer-lhe que, juntando todos os dias ou semanas que estive com ela, deverá dar pouco mais de um ano e meio

ZZ: Com passagens por tantos clubes, com certeza tem muitas histórias. Há alguma que possa contar?

BP: São tantas as histórias que ao mesmo tempo é difícil lembrar-me de uma [risos]  Mas posso contar uma que aconteceu na minha primeira experiência em Omã. No meu segundo jogo, em que enfrentava o primeiro classificado, a hora da reza coincidiu com o intervalo do jogo. No regresso para o segundo tempo, olho para o campo e percebo que me faltam dois jogadores, só que, como o guarda-redes tinha regressado, o árbitro deu início à segunda parte. Fiquei ali desesperado sem saber o que estava a acontecer. Concluindo, fiquei um tempo a jogar em inferioridade numérica por causa de dois «artistas» que, depois de a reza já ter demorado um pouco mais, ainda foram à casa de banho. 

ZZ: De todos os desafios que enfrentou na carreira, qual foi o mais difícil?

BP: Talvez a minha primeira passagem pela Tailândia [Ratchaburi]. Primeiro porque fui sozinho, sem qualquer staff. Depois apanhei um presidente que entendia muito de futebol e gostava de entender os processos de treino e de jogo por completo. Isso, aliado à sua personalidade bipolar, dificultava muito o meu trabalho. Para além disso cheguei quando faltavam apenas três meses para o fim do campeonato e o clube lutava pela manutenção. Essa dificuldade e o presidente sempre a «chatear» tornou tudo complicado. Mesmo com essas dificuldades posso dizer que foi dos melhores balneários que tive.



Portugal
Bruno Pereira
NomeBruno Miguel Fernandes da Costa Meneses Pereira
Nascimento/Idade1981-11-28(42 anos)
Nacionalidade
Portugal
Portugal
FunçãoTreinador

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