Edmilson Camala Sá é o que diz o cartão de cidadão, mas é por Kutchy que responde desde muito cedo. A alcunha, diz-nos, vem desde criança e tem a mãe como origem, embora nunca tenha parado para lhe perguntar o porquê. No Jovens Talentos deste mês, falámos com uma das peças da AD Fundão que ocupa o terceiro lugar na Liga Placard.
O futsal foi sempre a escolha de eleição de Kutchy e a história de como tudo começou assemelha-se a tantas outras. «Foi na escola, nos recreios. Andava sempre a jogar à bola com os meus amigos e fora da escola era a mesma coisa. A partir dos cinco, seis anos estava sempre a jogar no ringue ali perto de casa. Foi assim que surgiu, na altura levava por brincadeira», conta o jovem de 19 anos.
Nas brincadeiras é que estão, por vezes, as coisas mais sérias, e o exemplo do jogador da AD Fundão, que tem contrato com o SL Benfica, é um desses. «Comecei a jogar federado a partir dos oito, no clube do bairro, que é o Arroja», diz-nos. Um ano mais tarde, a coisa tornou-se séria.
Ao fim de apenas um ano com as cores do Sporting, Edmilson Kutchy atravessou a Segunda Circular para rumar ao SL Benfica, com quem tem contrato ainda hoje. «Já quando estava na Arroja tinha o interesse dos dois», diz-nos. Então, o que o levou a escolher os leões naquela altura? «Eu dizia ao meu pai que queria ir para o Benfica, porque sou benfiquista, mas ele dizia que não. Dizia para ir para o Sporting, porque ele é sportinguista. Ele tinha mais voz que eu e então fui para o Sporting».
Depois da temporada ao serviço da equipa leonina, abriu-se a porta que Kutchy queria. «Eles [Sporting] acabaram por me dispensar e, como tinha o interesse do Benfica, fui para lá». Em 2013/14 começou a caminhada do ala de 19 anos com as cores benfiquistas, que vestiu durante praticamente toda a formação. Uma estabilidade que o ajudou a desenvolver-se como jogador. «Ajudou-me a crescer bastante, tanto como jogador como pessoa fora de campo. Lidei com muitas pessoas boas. Também lidei com pessoas más, mas faz parte».
Dos tempos da formação sobressai o nome de Cláudio Moreira, o treinador dos juniores. «Foi o que mais me marcou. Foi ele que me deu aquele salto do Benfica para a seleção», conta.
«Existe uma diferença enorme. Na segunda consegues adaptar-te rápido, mas numa Liga Placard estás a jogar com os melhores do mundo numa das melhores ligas do mundo. Exige muita coisa. Exige muita intensidade, muita cabeça, raciocínio rápido, muita dinâmica. É muito mais mexido. Não é que a segunda divisão não seja mexida, porque também é intensa», afirma, acerca das diferenças que encontrou entre os dois escalões.
Quisemos saber se a AD Fundão era opção única, ou se havia outras. Kutchy não esconde: «Havia outras opções». Sendo assim, porquê a equipa beirã? É aqui que entra o "agente" Tunha. «Eu falei com muita gente. Falei com o mister Cláudio e ele disse que era uma boa opção. Mas o que me deu mais este salto foi o Tunha. Ele também já cá esteve e disse que ia crescer muito, ia gostar muito. Tudo o que ele me disse está a bater certo».
A boa temporada tem resultado também em chamadas regulares aos trabalhos da seleção de sub-19, que ajudou a garantir o apuramento para o Campeonato da Europa. «O sentimento é como todos dizem: não se explica, sente-se», começa por nos dizer sobre o que significa vestir a camisola das quinas. «É um orgulho enorme estar a vestir aquela camisola. Muitos queriam estar ali e eu fui escolhido e conseguimos apurar-nos para o Europeu. Foi muito bom e agora temos que ir com muita confiança para o Euro, em Espanha».
Vamos ser muito diretos: que sonhos tem um jovem de 19 anos por realizar no futsal? Para Kutchy, o maior deles é jogar lá fora. «Gostava de ser jogador profissional e tenho o sonho de jogar a liga espanhola. Gosto muito do futsal espanhol», diz.
E por gostar muito do futsal espanhol, não admira que seja lá que joga uma das principais referências que Kutchy leva na sua carreira, o brasileiro Dyego. Pany Varela é outro nome para o qual olha frequentemente, mas o maior ídolo joga no Benfica: «O meu ídolo mesmo é o Silvestre».
Em jeito de conclusão, o jogador da AD Fundão deixou uma mensagem para os mais novos que, como ele, perseguem o sonho de ser profissionais da modalidade: «Vou dizer o que digo ao meu irmão, que nada é impossível e que siga os meus passos para fazer ainda melhor que eu. Tudo vai dar certo, com foco e trabalho».