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Entrevista à Tribuna Expresso

(17maio2018) | Manuel Fernandes: «Não joguei melhor nem pior por sair mais ou menos à noite»

2020/04/14 19:20
E0

Entrevista da autoria da jornalista Alexandra Simões de Abreu da Tribuna Expresso, originalmente publicada a 17 de maio de 2018 e que pode ser vista na publicação original aqui.

Campeão da Rússia pelo Lokomotiv, Manuel Fernandes passa em revista a sua carreira, assumindo que cometeu muitos erros, desde logo o de ter saído do Benfica. O jogador de 32 anos fala das noitadas e da má imagem com que ficou, da filha que nasceu há dois anos, de pilates, do gosto pela leitura e de como foi amadurecendo. Diz que quer voltar a estudar, na área da gestão, e confessa que gostava de ter no currículo a participação na fase final de uma grande competição, como o Mundial da Rússia, que está à porta. Esta quinta-feira, às 20h15, Fernando Santos anuncia os 23 convocados. 

Para começar, peço-lhe que diga onde nasceu e que faça um resumo da sua família.
«Nasci em Alcântara, nunca conheci o meu pai. Tenho quatro irmãos, todos mais velhos. A minha irmã mais velha tem mais 18 anos do que eu e o que nasceu antes de mim tem mais nove. A minha mãe é empregada de limpeza. Vivi na Amadora e depois fui para o Cacém com 10, 11 anos».

Como foi a infância na Amadora?
«Estava mais tempo na escola e, como fui cedo para o Benfica, tinha o tempo ocupado também depois das aulas».

E o futebol vem de onde? Ouvi dizer que começa no computador?
«[risos]. Sim, jogava futebol nos antigos computadores Commodore Amiga, é a primeira memória que tenho do futebol. Mas o futebol a sério começa com uma breve passagem pelo Sporting e depois seguiu-se logo o Benfica».

Como surge o Sporting?
«Através dos pais de um rapaz que andava comigo na escola. Tínhamos uma equipa de futebol de sete na escola, entretanto jogámos os Jogos de Lisboa e o pai dele levou-nos aos treinos de captação do Sporting. Na altura fiquei, mas estive lá só dois meses, porque eu ainda tinha dos BI azuis. Os meus pais eram cabo-verdianos, mesmo tendo eu nascido em Portugal fiquei com a nacionalidade dos meus pais; era considerado estrangeiro. E na altura só se podia convocar um estrangeiro, como já havia um estrangeiro no Sporting, eles disseram-me que podia ficar, mas que ia ter muito poucas oportunidades para jogar. Decidi ir embora».

Foi o Manuel que foi bater à porta do Benfica?
«O mesmo casal que me tinha levado ao Sporting levou-me também ao Benfica, porque a mãe era do Benfica e como o filho deles andava no Benfica, passámos a ir os dois».

Quando era pequeno torcia por que clube?
«Não torcia por ninguém. Comecei a ganhar afinidade pelo Benfica à medida que os anos foram passado e tornei-me naturalmente adepto».

Chega ao Benfica com oito anos. Lembra-se de quem era o treinador e quais as primeiras impressões?
«Eram o Rui Rodrigues e o [José] Morais, que depois se tornou adjunto do Mourinho. Era muito mais competitivo do que estava habituado. Era tudo mais a sério. Essa foi a primeira impressão, a exigência».

Em casa sempre teve apoio para jogar futebol?
«Sim. Para a minha mãe era algo extracurricular e desde que não interferisse com os estudos, tudo bem».

A propósito de estudos, gostava da escola?
«Não desgostava. Gostava mais do convívio do que estudar [risos]. Mas as notas não eram más. Só comecei a desleixar-me um bocadinho mais para a frente. A partir do 8º, 9º ano, porque já estava mais focado no futebol, mas até aí nunca chumbei uma vez. Só quando me tornei profissional é que deixei a escola, no 12º ano».

Ficou 11 anos no Benfica. Quando é chamado a primeira vez à equipa principal?
«Sou chamado pelo Camacho no meu primeiro ano de júnior, se não me engano, em 2002. Fui treinar com a equipa A. Senti-me um bocado deslocado, naturalmente, ainda por cima chamaram-me em cima da hora. Não houve nada de especial, não houve muitas conversas. Mas já não voltei à equipa B, continuei a treinar com eles».

Na primeira época na equipa principal não faz muitos jogos, mas conquista a Taça de Portugal. Qual foi a sensação do primeiro título na equipa principal?
«Foi boa. Mas foi um misto de emoções porque nesse dia deram-nos também a notícia de que o Bruno Baião, que foi capitão dos juniores, tinha falecido com um ataque cardíaco».

©Getty /

Gostou do Camacho?
«Era bom a lidar com o grupo. Não era um grupo fácil, tinha jogadores com grande qualidade, muito importantes, de seleção, e pode ser complicado lidar com tantos egos, mas ele tinha o respeito de toda a gente. Era muito bom a gerir o plantel».

No ano a seguir veio Trapattoni. Era muito diferente do Camacho?
«Era um pouco mais pedagógico. Tinha uma forma de lidar com os jogadores mais próxima, o Camacho parecia uma pessoa mais distante».

Nessa época com Trapattoni foi campeão. Foi uma emoção diferente ganhar o campeonato?
«Foi. Primeiro porque joguei bastante e senti que o meu contributo foi muito maior. E o campeonato é diferente, é maior, é o ano inteiro a trabalhar para esse objetivo,enquanto a Taça tem outras variantes».

Quem são as amizades maiores que fez no Benfica?
«O Tiago Gomes. Jogámos juntos desde os oito anos até à equipa principal. É com quem tenho ligação mais forte, somos padrinhos dos filhos de cada um. O Luís Zambujo, que jogou no Portimonense, e depois há outros jogadores que não tiveram uma carreira tão proeminente. Mas a relação mais forte é mesmo com o Tiago».

Na época seguinte ganhou a Supertaça, mas teve problemas com o departamento médico. O que aconteceu?
«No final da temporada anterior já estava com problemas de pubalgia. Adiei para não ter que ser operado e depois houve um mau diagnóstico, no sentido em que começámos a pré-época na era do Ronald Koeman e fui operado a duas hérnias inguinais. Realmente tinha uma hérnia inguinal e fui operado a duas, mas não resolveu o meu problema, que era a pubalgia. Andei essa temporada basicamente lesionado. Depois era o dito pelo não dito, havia quem me culpasse, porque não queriam assumir a culpa, que nem era culpa, era não terem solução para aquilo».

Por que é que o culpavam a si?
«Porque era mais fácil. Era mais fácil culpar o atleta do que tentar identificar o problema, que nem foi identificado. Os problemas começaram aí e infelizmente não consegui fazer uma temporada de jeito. Fiz uma temporada muito aquém da expectativa, fiz uma performance mais ou menos na Liga dos Campeões, mas foi uma época fraca. Depois começou a desenrolar-se aí a minha saída do Benfica».

Além dos problemas com o departamento médico, as coisas não correram bem com o Koeman?
«O Koeman também não ajudou. Penso que é o típico treinador que vai sempre atrás do peixe pequeno. Não me parece que tenha o mesmo tipo de diálogo ou forma de estar com todos os jogadores. Ser treinador não é nada fácil. Só que ele tinha pesos e medidas diferentes e isso era notório. Começou aí o mau relacionamento e, mesmo indo embora, fez com que eu quisesse mudar de ares. Pedi para sair e a solução que se arranjou foi ser emprestado ao Portsmouth, de Inglaterra».

Até aí vivia em casa da sua mãe?
«Sim».

É a primeira vez que sai do ninho e ainda por cima para um país estrangeiro. Foi difícil?
«Não foi tão difícil porque eu falava inglês e falar a língua ajuda bastante. Foi mais difícil no conseguir organizar-me sozinho, mas também não demorei muito tempo. Tinha pessoas do clube que ajudavam e tinha o Pedro Mendes que também me ajudou bastante no tempo que lá estive».

Foi nessa altura que largou os estudos?
«Não, já tinha largado a escola no ano do Trapattoni. Fiquei com 12.º ano incompleto».

Esteve sempre sozinho?
«Tive alguns amigos, antigos colegas de escola, que me visitaram algumas vezes, mas passei a maior parte do tempo sozinho».

Nessa época acaba por não jogar muito.
«Cheguei lesionado, estive três meses a recuperar, entretanto havia uma cláusula no acordo entre o Benfica e o Portsmouth em que, se eu jogasse um certo número de jogos, eles tinham de me comprar obrigatoriamente. Quando comecei a jogar as coisas começaram a melhorar e a correr bem, eu fazia quatro jogos seguidos e já não jogava o quinto, entrava durante o jogo, ou seja não fazia os cinco jogos como titular, porque senão eram obrigados a comprar-me».

Irritava-o essa situação?
«Quando tomei conhecimento da situação foi algo muito desagradável. Tinha vindo de lesão e quando consigo ganhar um posto e chegar ao quinto jogo e não poder jogar... Só vim a saber da cláusula lá. Mas mesmo que me tivessem dito antes não havia muito que pudesse fazer».

Começa no Portsmouth mas em janeiro é emprestado ao Everton. Porquê?
«Primeiro, porque sucede isso no Portsmouth; a segunda razão é que o Benfica não me queria de volta e teve de arranjar outra solução. Eu tinha assinado contrato por 5 anos com o Benfica, por isso...»

Gostou mais do Everton?
«Muito mais. Do clube, das pessoas e dos próprios jogadores. Quando cheguei ao Everton encontrei um bom plantel, uma equipa bastante sénior, gostei muito mais e aprendi muito mais no Everton».

Sentiu muito a mudança do futebol português para o inglês?
«O futebol inglês é muito mais físico, não acho que seja assim tão técnico, tirando as quatro equipas de top que têm uma forma de jogar diferente. A maior das equipas joga muito com bolas longas, segunda bola, bola no espaço. Ainda para mais vindo do Benfica, que domina o campeonato português e tem muito mais posse de bola, custou vir de uma equipa assim, que dominava tanto, para uma equipa como o Everton, que às vezes sofria contra equipas mais frágeis. Mas tive de adaptar-me».

O Everton queria que o Manuel ficasse. Por que razão não fica?
«Daquilo que percebi foi porque não chegaram a acordo sobre valores. O Everton na altura não estava disposto a pagar o que o Benfica pedia, se não me engano eram 18 milhões de euros. Num espaço de seis meses o Benfica passou de não me querer, a não querer deixar-me sair. Mas o futebol é isso mesmo, o que hoje é verdade, amanhã é mentira».

©Epsilon / Getty Images

Mas o Benfica já o queria outra vez?
«Não me queria deixar sair pelo menos, vou partir do pressuposto que queria que eu ficasse. Não fiquei porque já tinha no meu mindset que ia embora. Pensava que ia acabar no Everton. Também não quis ficar».

Porquê o Valência?
«Foi uma opção que apareceu no final. Estive até dia 28 de agosto em Liverpool, as coisas não se resolveram e voltei a Lisboa. Entretanto aparece a opção do Valência».

Nessa altura tinha empresário?
«Tinha, o Jorge Mendes. Foi meu empresário dos 16 aos 24 anos».

Quando vai para o Valência, o treinador já era o Koeman?
«Não, era o Quique Flores, se fosse o Koeman nunca tinha posto lá os pés [risos]. Ainda estou com o Flores durante dois ou três meses, entretanto perdemos em Sevilha 3-0 e o Quique é destituído e passado uma semana entrou o Koeman».

Viu a sua vida a andar para trás?
«Sim, já sabia que não ia ser fácil. Mas também não estava com o mindset correto. Queria ter ido para o Everton e não estava com a cabeça a 100%. Não posso estar aqui a culpar o senhor Koeman de tudo e mais alguma coisa, porque eu não estava com a cabeça no sítio certo. Isso foi uma das razões para que as coisas não tivessem corrido como deviam, mas obviamente que a vinda do Koeman só veio piorar tudo o resto».

O que ele lhe disse quando chegou?
«Teve o descaramento de dizer que o que tinha acontecido no Benfica eram águas passadas e agora era um começo novo [risos]».

E foi um novo começo ou não?
«Foi um começo novo para ele neste caso porque se não me engano perdemos 3-0 em casa, num jogo da Liga dos Campeões, foi um resultado complicado, em casa, e ele culpou-me a mim da derrota».

Porquê?
«Isso agora teria de lhe perguntar a ele. Não faço a mínima ideia, era mais fácil assim. Foi das piores pessoas que apanhei no futebol, de longe. Pode gostar-se mais ou menos como futebolista ou como treinador, cada um tem os seus gostos. E jogar ou não jogar, há que respeitar as decisões por mais difícil que seja, mas a parte humana...Esse tipo de comportamento não me parece ser o mais correto».

Na altura fez alusões graves em relação a si.
«Sim, obviamente não estava esquecido do Benfica. Só que no Benfica estava de certa forma protegido porque também era um ativo importante do clube e ele não podia fazer o que queria e bem lhe apetecia. No Valência era diferente, tinha acabado de chegar, era muito mais vulnerável e não tinha esse tipo de proteção. Ele aproveitou-se disso, mais o facto de também não estar a jogar bem. Como disse, não posso só apontar-lhe o dedo a ele, porque se eu estivesse a jogar bem não havia críticas, nem nada do género».

Por que razão não estava jogar bem, consegue explicar?
«As coisas não estavam a sair. Lembro-me que o último jogo que me correu bem foi por acaso antes dele chegar [risos]. Um jogo em Maiorca. Pensei que só podia melhorar. Mas com a vinda dele, aquilo deu uma volta estranha e voltou-se a complicar».

É por essa razão que pede para sair ou é o próprio Valência que o manda embora?
«Entretanto com ele eu sabia que não ia jogar, o Koeman chegou ao ponto de pôr jogadores da equipa B à minha frente. Pedi para sair, falei com o Everton, eles queriam-me de volta e fui, emprestado».

Fica pouco tempo no Everton.
«Só seis meses. Na época seguinte, entra o Unai Emery, penso que a direção perguntou-lhe o que ele queria fazer em relação à minha presença na primeira equipa e ele disse que não me conhecia mas que queria ver-me na pré-época. Gostou e deu-me oportunidade de jogar nessa temporada, até me lesionar».

Notou muita diferença de Inglaterra para Espanha a nível futebolístico?
«O futebol de Espanha é muito atrativo, é mais técnico, mais parecido com o português, com mais qualidade. Gostei muito de jogar em Espanha, acho que é o país onde se pratica o melhor futebol».

Esteve no Valência duas épocas e meia. Nessa altura vieram a público várias histórias sobre saídas à noite. Nomeadamente uma para festejar o aniversário de Miguel, em que o Manuel acaba preso. O que se passou?
«Essa situação aconteceu durante aqueles primeiros seis meses do Koeman, umas semanas antes de ir embora».

O que aconteceu, pode esclarecer?
«Estava no lugar errado, à hora errada. Foi uma confusão que não tinha a ver comigo, mas estavam envolvidas pessoas que eu conhecia, tentei separar as pessoas. Depois houve uma confusão com dois polícias que estavam fora de serviço, que disseram que lhes tinham tentado roubar o relógio e tentado agredir. Entretanto sobrou para mim e tive de passar uma noite numa cela da esquadra».

Como foi essa experiência?
«Não estava a entender o que se estava a passar. Mas não tenho nada a apontar sobre a forma como me trataram. Não era um hotel, como era evidente, mas não me trataram mal. Estive numa cela das seis da manhã à uma da tarde, havia lá mais pessoas dentro, mas só conhecia uma. Foi uma experiência diferente, digamos assim».

Foi nessa época em Espanha que fez as suas maiores loucuras?
«Não diria que tenham sido loucuras. Pegando nesse incidente, acaba por se pensar que era isso todos os dias, mas não era. Só que quando acontece uma situação dessas leva-se com o rótulo. Não digo que fosse algum santo, não é o caso, mas o rótulo que é posto depois de uma situação dessas sem sequer as pessoas saberem o que realmente aconteceu... É difícil de tirar».

Sentiu-se preocupado ou revoltado com o facto dessa imagem se ter colado a si?
«Sinceramente nunca me preocupou muito, porque se me preocupasse daria mais entrevistas, para me dar mais a conhecer. Não tenho essa preocupação nem essa necessidade».

O rótulo então não o incomodava.
«Não me aborrece, porque as pessoas que realmente me conhecem sabem como eu sou, sabem neste caso em concreto o que é que aconteceu. Não vou preocupar-me com o que pensam pessoas que não me conhecem de lado nenhum e nem sequer passaram cinco minutos comigo».

Não se sentiu injustiçado?
«Injustiçado senti-me, porque não fiz nada de errado para me encontrar numa situação daquelas, não tinha nada a ver comigo e acabei por levar por tabela. Nesse sentido sim. Agora, o que as pessoas possam ou não pensar quando pegam no jornal e leem as notícias... As notícias são dadas da maneira como os jornalistas querem dar ou interpretam, mas eu percebo que as notícias dadas de uma certa forma vendem mais».

Foi também o que aconteceu quando Samet Aybaba, técnico que o dirigiu no Besikas, o veio acusar de chegar aos treinos a cheirar a álcool?
«Por exemplo. Isso é outra situação que não tem ponta por onde se pegue. O que o treinador fez é de uma hipocrisia enorme, porque era uma pessoa que chegava ao pé de mim e pedia para falar com os meus colegas, apesar de eu não ser capitão, para ser um exemplo, um líder e que me respeitava muito como profissional. Depois sai-se com uma dessas... Não sei se ele disse isso, se veio da boca dele ou não, mas irrita-me este tipo de situações porque tentam usar esse tipo de declarações para fugir ao trabalho que fazem, um treinador limitado como ele era».

Chegou a confrontar Samet Aybaba?
«Não. Nem seria conveniente, porque ele disse publicamente que não tinha dito nada, portanto se eu fosse perguntar obviamente ia dizer-me que não. Íamos acabar numa conversa que não interessava a ninguém. Eu percebo que os jogadores de futebol são figuras públicas e que há um escrutínio sobre o que fazem, mas o que interessa é o que se passa dentro de campo e as pessoas esquecem-se disso».

Mas o que se faz fora de campo pode influenciar o que se passa em campo.
«Obviamente. Mas as pessoas não me conhecem. Vão buscar essa situação com a polícia ou o que o treinador disse, mas nunca foram buscar declarações dele, na altura em que o Fenerbahce queria contratar-me, a dizer que para me levarem de lá tinham de dar cinco jogadores do Fenerbahce. Foram buscar as declarações de que cheirava a álcool quando chegava ao treino, mas não foram buscar declarações em que dizia que eu era o melhor jogador do campeonato turco e em que me elogiava de uma forma enorme. Depende muito de como queremos passar informação».

Reconhece que houve situações em que chegou ao treino a cheirar a álcool ou isso nunca aconteceu?
«Não. Nem sequer é conversa. Seja quem for que quis fazer isso, foi para denegrir ou para magoar».

Ou seja, não nega que tenha feito as suas noitadas, mas sempre dentro do que era permitido?
«Nem posso negar. Não tenho nenhum arrependimento. Fiz o que queria fazer desde que isso não prejudicasse o meu futebol, que não prejudicou, porque na Turquia infelizmente não consegui ganhar nenhum campeonato, mas foram as melhores épocas a nível profissional. Se eu estivesse sempre na noite não conseguia fazer o que fiz no Besiktas, mesmo com 24 anos. Mas as pessoas lá terão as suas ideias».

As saídas que fez nunca o prejudicaram a nível desportivo?
«Se prejudicaram foi ao olho do público, porque eu sempre soube distinguir quando é que podia ou não sair de forma a não me prejudicar nos treinos e nos jogos. Não joguei melhor nem pior por sair mais ou menos à noite. Trabalhava da mesma forma. Na altura não afetava. Se calhar, já mais velho, começou a afetar - e comecei a reduzir, a ter uns cuidados diferentes. Mas na altura não posso dizer que me afetava. As coisas estavam a correr bastante bem, sobretudo a nível pessoal».

Então gostou do futebol que se pratica na Turquia.
«Foi uma boa experiência. Lá vive-se futebol 24 horas. Reencontrei-me, foi o desfrutar outra vez de jogar à bola, desfrutar no sentido de poder jogar com continuidade. Nos primeiros meses não agarrei logo o lugar, mas com o tempo tornei-me praticamente indiscutível».

Tinha lá o Ricardo Quaresma, Simão Sabrosa, Hugo Almeida. Fez amizade especial com algum deles?
«Já tinha jogado com todos. Com o Simão, no Benfica, e com o Ricardo e o Hugo nos sub-21. Dos três com quem criei uma relação mais forte foi com o Hugo Almeida».

Quando hoje lhe falam em Besiktas qual é a primeira coisa que lhe vem a cabeça?
«Os adeptos. Provavelmente os melhores adeptos que já vi. A atmosfera à volta do clube é fantástica para quem gosta de jogar à bola. Então a jogar em casa parece que estamos mesmo a jogar com mais um».

Ficou a viver onde?
«Nos seis meses de empréstimo, inicialmente estive umas semanas na casa do Ricardo, depois mudei-me para a casa ao lado da dele. Quando fiquei lá em definitivo mudei-me para o centro de Istambul. É das minhas cidades favoritas».

Em termos culturais houve alguma coisa que lhe tenha feito confusão?
«Só mesmo, ao inicio, as mesquitas e a hora do chamamento para rezar. Acordar as cinco da manhã com o chamamento era chato [risos]. Mas foi só ao início».

©Catarina Morais

E da equipa, o que pode acrescentar?
«Tínhamos um grupo muito bom, a equipa além de qualidade, era muito unida. Saíamos muitas vezes para almoçar, para jantar ou mesmo só para o convívio. É difícil arranjar assim um grupo tão bom em que nos dávamos todos tão bem».

Conseguiu aprender turco?
«Não, não tentei também. Mas devia ter tentado já que falo russo, naquela altura podia ter tentado».

Sai para o Lokomotiv, mas nessa altura já não trabalhava com o Jorge Mendes, certo?
«Sim, quando cheguei ao Besiktas deixei de trabalhar com o Jorge. Chegou a altura de cada um seguir o seu caminho. Ajudou-me bastante naquele período da minha carreira, mas não havia mais necessidade de continuarmos a colaborar juntos. Entretanto, venho embora para o Lokomotiv porque estávamos no processo de negociação para renovar e não chegámos a acordo».

Tinha outro empresário?
«Não, não tenho empresário desde essa altura. Não chegámos a acordo e assinei com o Lokomotiv, que já tinha tentado contratar-me antes. Assinei em janeiro de 2014 um pré-contrato».

Foi um choque quando chegou à Rússia, ou não?
«Choque foi ter chegado e ter demorado três horas para chegar à clínica para fazer exames. O trânsito caótico... Adormecia e acordava e estava sempre no mesmo sítio. Esse foi o primeiro choque. Inicialmente não houve nada a apontar. parecia tudo correr com normalidade. A barreira linguística foi o mais complicado. Falar a língua nativa de qualquer país tem vantagens mas na Rússia as vantagens são ainda maiores, porque eles não se dão ao trabalho de falar qualquer outra língua».

Disse que inicialmente não houve nada a apontar. E depois?
«Depois há dois intervenientes, a presidente do clube e eu - os outros não contam porque eram paus mandados, eram basicamente marionetes, - numa situação que, resumindo, passou da presidente ligar-me no meu aniversário para um ano e meio depois mandar-me para a equipa B, sem nenhuma razão plausível».

Alguma coisa se passou pelo meio.
«Tem que se perguntar a ela. Eu tenho as minhas teorias, podem ser da conspiração, mas são as minhas teorias. Mas até ao fim do meu primeiro ano aqui, na Rússia, fui o melhor marcador da equipa, ainda ganhamos uma taça, não joguei ao nível que estava a jogar no Besiktas, é verdade, nem de perto nem de longe, era um nível inferior».

Porquê?
«Adaptação. Era um futebol diferente. Também precisei de algum tempo para me adaptar e por isso não estive ao mesmo nível. No primeiro ano ainda não tinha conseguido um nível muito bom, mas foi uma boa época. Fui o melhor médio centro da equipa. E na época a seguir joguei só os jogos para a Liga Europa e joguei três ou quatro jogos para o campeonato. Faz um total de 12 jogos num ano inteiro. Tive uns problemas com a presidente do clube porque ela tinha umas ideias sobre um contrato que já estava assinado».

Como assim?
«Ela queria que fosse alterado quando na altura ninguém apontou uma pistola à cabeça dela nem à minha para assinar os contratos, então não me parecia justo alterar. Depois começou a descambar. Deixei de jogar basicamente. Não me punham a jogar».

E foi treinar para a equipa B?
«Isso foi no começo do terceiro ano, ainda com três anos de contrato vigente».

Porque é que o mandaram para a equipa B?
«Por isso, porque ela queria alterar o contrato».

Mas porquê, qual a razão?
«Tinha a ver com a subida e descida do rublo. Eles achavam que era conveniente fazer alterações por causa disso».

Tem a ver com dinheiro então?
«Sim, basicamente. A segunda época infelizmente foi uma época perdida, joguei pouquíssimo. Depois estive desde julho até setembro ou outubro a treinar na equipa B. Até ela ser despedida. Ela e o genro que, vai-se lá saber porquê, era o diretor desportivo. E o treinador também, também fazia parte do grupinho».

Quando eles saem a sua situação melhora?
«Sim. Vem um presidente novo, um diretor desportivo novo e um treinador novo. E passada uma semana volto a integrar a equipa principal. As coisas, pouco a pouco, começam a melhorar».

No final dessa época há uma confusão no final da Taça, em que o Manuel é agredido. O que aconteceu?
«Começa com o mau perder da equipa adversária, estávamos a ganhar 2-0. Eles sentiam-se impotentes e há uma jogada que começa comigo, faço uma finta a um adversário e ele dá-me uma cotovelada. Perguntei-lhe em inglês qual era o problema, disse-lhe que não havia nenhuma necessidade daquilo e ele veio encostar-me a cabeça, começa a haver empurrões, depois junta-se um colega meu e vêm outros e acaba numa confusão e várias expulsões».

©Catarina Morais / Kapta +

Alguma vez sentiu racismo na Rússia?
«Senti. Coisas do género estar a jogar e começarem a fazer sons de macacos, mas isso não me atinge nada, honestamente. Só espero é que no Mundial não haja nenhum tipo de incidentes».

E na rua nunca sentiu nada?
«Eu e a maior parte dos meus colegas vivemos numa bolha. Somos figuras públicas e estamos bem mais protegidos, por várias razões, pelos sítios que frequentamos, pelas pessoas que andam à nossa volta. Não quer dizer que não possam acontecer situações mais desagradáveis, mas estamos muito mais protegidos. Para um emigrante normal não me parece que as coisas funcionem como funcionam connosco».

Esta época tem estado a correr-lhe de feição, termina como campeão da Rússia, juntamente com o Éder.
«É verdade. Temos muito boa relação, apesar de só nos termos conhecido aqui. Ele é uma pessoa muito fácil de se gostar».

Ainda continua solteiro?
«Não, tenho uma namorada e uma filha. Conheci a Micaela em 2014. É portuguesa, trabalha para uma farmacêutica. Conheci-a na Rússia. Em maio de 2016 nasceu a nossa filha, a Maria Beatriz».

Nasceu em Portugal ou na Rússia?
«Nasceu em Portugal, porque a Micaela não deixou o emprego e vive em Lisboa. Sempre que pode vem à Rússia e passamos tempo juntos».

Assistiu ao parto da sua filha?
«Não assisti porque foi cesariana, mas assim que me deixaram, entrei para vê-las».

Como é a sensação de ser pai?
«É especial e difícil de explicar. Obviamente que é uma felicidade enorme, mas eu pelo menos não o consigo explicar por palavras».

Mas sentiu que é aquele momento em que já não pode pensar só em si e que tem mais responsabilidade?
«Logicamente que sim porque é realmente uma pessoa que depende de ti. É uma responsabilidade enorme».

Acha que a paternidade o fez crescer?
«Sim, acho que me deixou mais maduro».

Custa-lhe estar longe dela?
«Sim, bastante, mas eu analiso de uma forma fria. Faz parte do meu trabalho. Isto tudo também é para poder garantir um futuro melhor para mim e para os meus e mais tarde quando voltar a Portugal, ter outro tipo de salário, para além de poder estar mais perto dos meus amigos e da minha família. Acho que é um sacrifício que no futuro vai ter sentido e vai dar frutos».

Houve algum jogador ou treinador que lhe tenha dito alguma coisa que o tivesse marcado mais profundamente?
«Sinceramente, acho que não. Eu analiso bastante, penso bastante sobre as coisas, acho que é um trabalho pessoal. ... Lembro-me agora que um treinador adjunto do Everton, na altura em que ele já sabia que eu não ia voltar ao Everton, desejou-me boa sorte e disse-me para não desperdiçar o meu talento. Foi uma coisa que nunca mais esqueci».

©Getty Images

Vamos ao capítulo seleção. Quando é chamado a primeira vez à seleção?
«Foi com o Scolari, tinha 18 anos, no ano em que ganhamos o campeonato no Benfica».

É uma sensação diferente vestir a camisola da seleção?
«Vi mais como o reconhecimento do trabalho que estava a fazer e fiquei contente. Portugal tinha sido vice-campeão da Europa, tinha perdido o Europeu em casa com a Grécia, com uma geração, que para mim é a melhor, com o Luís Figo, o João Pinto, o Rui Costa, o Fernando Couto e por aí em diante. Foi uma emoção ter a possibilidade de jogar com o Luís Figo e com o Deco, e com esses jogadores de muito nível».

Como é que foi a receção? Estava nervoso?
«Foram todos muito porreiros. Na altura também pertenciam à seleção o Nuno Gomes, o Simão, o Miguel, por isso de alguma forma sentia-me em casa com estes três colegas do clube. Fui tratado super bem por toda a gente».

Antes da seleção A foi chamado à de sub-21, não foi?
«Fui. A primeira foi a de sub 17 para o Mundial na Finlândia. Depois fui a uma de sub-19, fazer uma qualificação, mas não passamos. Depois diretamente para os sub 21 e depois para a A».

Estava a dizer que foi chamado pelo Scolari. Estreou-se em que jogo?
«Estreei-me num amigável contra a Irlanda. Entrei para o lugar do Ronaldo».

É um médio centro, mas agora está feito quase extremo. Porquê?
«Já no Besiktas, na minha fase final, jogava atrás do ponta de lança quando cheguei aqui também joguei atrás do ponta de lança. Agora, com este treinador, jogo mais pela esquerda como um falso extremo».

Onde é que se sente mais confortável a jogar?
«Gosto muito de jogar a médio ofensivo, mas a solução que temos aqui adapta-se bem ao nosso estilo de jogo e dá-me a possibilidade de receber a bola mais vezes sozinho, dá-me mais possibilidade de criar e estar mais perto da baliza».

Participou em quatro qualificações, para Mundial 2006, Euro 2008, Mundial de 2010 e Euro 2012, mas nunca foi a uma fase final. Isso deixa-o frustrado?
«Honestamente se alguma vez mereci ir a alguma fase final foi em 2012. Tinha feito uma época muito boa na Turquia e tinha ido ao último jogo antes da lista final e não fui convocado. Foi a única vez que achei que merecia ir e não fui».

E depois o Paulo Bento vai à Turquia para falar consigo e o Manuel não o recebeu.
«O que aconteceu foi que o Paulo Bento foi à Turquia ver um jogo, tinha contactado vários colegas, mas a mim não me contactou e por coincidência nós ganhámos o jogo por 3-2 e eu fiz um jogo bastante bom, fui considerado o melhor jogador em campo contra o Fenerbahce. Foi o último derbi no estádio antigo do Besiktas e no final do jogo disseram-me que o Paulo Bento queria falar comigo e eu disse que não, porque queríamos ir festejar. Disse que estávamos a festejar, que não ia falar com ele, e ficámos assim. Isso é pós-Europeu, não tem nada a ver com o Europeu».

Percebeu porque é que não foi ao Euro 2012?
«Percebi que o treinador optou por outros jogadores, foi o que percebi. E muito mais não pode ser dito. Não há aqui nenhuma teoria da conspiração, foi uma questão de opção por outros jogadores, apesar da forma como foi feito, com critérios pouco coerentes. Não há muito que dizer. Do meu ponto de vista, acho que merecia ter ido, merecia uma oportunidade de fazer parte desse grupo. Não fui. Optou por outros jogadores, optou por outras características porque achava que se enquadravam melhor no grupo».

Foi a vez em que se sentiu mais frustrado?
«Não fiquei frustrado, simplesmente achei que as coisas não estavam a ser feitas de uma forma correta».

Ninguém lhe disse nada?
«Não, nem estava à espera que dissessem. Não têm que justificar nada. Para justificarem a mim, tinham que justificar aos outros seis jogadores que estavam nas reservas. Eu só acho é que as coisas não são feitas de forma coerente. Não posso dizer que não gosto de batatas e depois você olha para mim e estou a comer batatas. Não faz muito sentido. Essa falta de coerência é que irrita. Mas são águas passadas, valem pelo que valem, já foi há seis anos».

Depois disso quando é que volta a ser chamado à seleção?
«Fui chamado em outubro passado, pelo Fernando Santos. Fui fazer o jogo com a Arábia Saudita e com os EUA».

Como é que lhe correu?
«Correu bem. No primeiro jogo com a Arábia Saudita fiz o primeiro golo, ganhámos 2-0. Contra os EUA empatámos, mas era uma equipa mais difícil, uma equipa mais física. E joguei recentemente contra a Holanda, mas esse não correu tão bem. Mas, em geral, deu para tirar ilações positivas».

O Fernando Santos disse-lhe alguma coisa quando o chamou, teve alguma conversa consigo?
«Não. Deu-me as boas-vindas».

No Benfica apanhou o Fernando Santos como treinador na sua última época e foi chamado por ele à seleção. Encontrou o mesmo treinador ou já é uma pessoa diferente?
«Penso que quer um, quer outro, somos diferentes do que éramos no tempo do Benfica. Já passaram mais de 10 anos, joguei em vários clubes diferentes, pertenci a várias seleções e o Fernando Santos também, por isso não digo que tenhamos mudado, mas somos diferentes do que éramos há 10 ou 12 anos. Acho que é completamente natural».

Agora está naquele suspense de saber se vai ou não. Está nervoso?
«Sinceramente acho que nem ansioso estou. Obviamente ficarei muito feliz se conseguir fazer parte de uma fase final, ainda para mais na fase da minha carreira que é. Mas se não acontecer não vou ficar desiludido porque há que ter em conta que este é um grupo campeão da Europa, é um grupo da confiança do selecionador, e eu não sei se faço parte sequer desse grupo. Mas obviamente que gostava de ter no currículo uma participação na fase final de uma grande competição. Ser convocado para o Mundial era realmente a cereja no topo do bolo».

Quem são os seus maiores concorrentes?
«Todos os médios centro, todos eles [risos]».

Mas acha que seria uma mais valia para esta seleção tendo em conta as suas características e o momento que está a atravessar?
«Penso que sim, acho que estou num bom momento, isso sem dúvida, mas no final do dia será o selecionador a decidir».

Em relação a Portugal no Mundial, acha que temos condições para chegar a uma final?
«Nunca estive em nenhuma competição desse género mas basta dizer que nesta competição vai estar a Argentina, o Brasil, as equipas sul americanas que são bastante fortes. Já foi difícil ganhar o Europeu, mas penso que o mais importante é focar-nos no primeiro grupo e depois logo se vê. Não me parece que seja positivo estar acrescentar uma pressão desnecessária a Portugal».

©Carlos Alberto Costa

É supersticioso?
«Não».

Crente?
«Sou baptizado, tenho o crisma, fui à catequese mas não diria que sou praticante».

Tem contrato até 2019. Já está em fase de negociação?
«Sim estou numa fase inicial de negociação para a renovação do contrato».

Gostava de continuar no Lokomotiv?
«Se for bom para mim e para o clube, sim. É a minha 4ª temporada aqui, não vou dizer que me sinto desgastado, mas nas férias tenho que fazer uma reavaliação daquilo que quero para o futuro, se é continuar aqui, se não é. Logo se verá».

Há algum clube de sonho onde ainda gostasse de jogar?
«Não, nenhum em especial. Agora com esta idade sou muito pragmático [risos], esse tipo de sonhos já não mora aqui».

Mas gostava de terminar a carreira em Portugal?
«Obviamente que gostava, mas isso não vai acontecer. Não vou dizer que é impossível mas as probabilidades são muito baixas».

Porquê?
«Por várias razões, pela minha idade, pelos salários que se praticam aqui e os que se praticam em Portugal, são várias razões que tornam as probabilidades baixissímas de eu voltar a Portugal».

Ao longo da sua carreira onde é que ganhou mais dinheiro?
«Não me sinto muito à vontade para responder a essa pergunta [risos]».

O primeiro ordenado calculo que tenha sido no Benfica. Recorda-se da primeira coisa que quis comprar?
«Uns Nike Air Max [risos]. Na altura recebia o salário mas entrega à minha mãe, tirei para compra os Air Max mas a minha mãe é que ficava com o dinheiro».

E carro, qual foi o primeiro e com que idade?
«Tirei a carta com 18 anos e comprei um Mini Cooper».

Novo?
«Sim».

Isso é que é arriscar.
«Sim, o carro deve ter chorado [risos]. Ainda o tenho. Já vai fazer 13 anos».

Qual foi o melhor carro que teve até agora?
«O Lamborghini Huracan. Ainda o tenho também».

Quantos carros é que tem?
«Também não estou à vontade para responder a essa pergunta [risos]».

Qual foi a maior loucura que fez porque podia?
«Foi uma vez, ainda jogava no Valencia, estava com os meus amigos em Valência e tive dois dias livres que não estava à espera, alugámos um avião privado e viemos para Lisboa todos».

Muitas vezes os jogadores veem-se muito novos com bastante dinheiro no bolso, com fama, e deslumbram-se. Sentiu isso?
«Isso é normal. A maior parte dos atletas de futebol vêm de meios com mais dificuldades e quando se apanham com dinheiro, o que querem fazer é comprar tudo aquilo que não conseguiram comprar quando eram mais novos e acaba sempre por ser complicado gerir isso. Conseguiu chegar aonde chegou e agora vai-se negar aquilo que sempre quis, ou que não conseguia ter quando não tinha capacidades para tal? Começa por aí. E depois há também as pessoas à volta, como aconselham, como não aconselham, isso também é determinante para o futuro. As decisões tomadas nessa altura são elas aquelas que vão afetar o futuro, mas a maior parte acha que não. Infelizmente há muitos que não têm ninguém que os ajude nesse sentido. Há uns que têm a própria maturidade de antemão para pensarem a longo prazo e há outros que não têm».

Teve ou tem alguma pessoa, algum amigo que seja uma espécie de confidente ou que lhe dê bons conselhos, ou esteve sempre por sua conta?
«Estive por minha conta mas sempre ouvi as pessoas que me quiseram dar conselhos. Podia concordar ou não, mas sempre ouvi. Errei bastante obviamente, mas no meio dos erros consegui perceber aquilo que era importante e o que não era e penso que hoje, mantenho esse discernimento».

Qual foi o seu maior erro em termos profissionais?
«Cometi muitos. Quando sai do Benfica por exemplo, ter ido para o Valência. No caso do Valencia o erro não foi ter ido para lá, o erro foi não ter conseguido triunfar lá, porque não fiz o que era devido, não joguei o futebol que era pedido. Foi um erro porque não consegui mostrar realmente aquilo que podia fazer e foram dois anos que, bem ou mal, perdi, no sentido em que não consegui mostrar o meu futebol, joguei menos ou não joguei, e sem jogar não dá para evoluir».

Isso foi por culpa própria ou foram as circunstâncias que não ajudaram?
«Na maior parte por culpa própria. Mas tudo isto ajudou-me a crescer, como pessoa e como atleta, ajudou-me bastante a saber lidar com as situações menos boas. Mas não vejo tanto como erro, mas como oportunidades de aprender. Parece um bocado conversa de psicólogo [risos]».

No futuro o que é que se vê a fazer?
«Nada relacionado com o futebol».

Faz pilates, boxe e gosta de ler. Quando e como é que isso surge?
«Pilates comecei na Turquia, entretanto mudei para tai chi. Boxe também comecei a fazer na Turquia. Quando vim para Moscovo fiz um ano de ioga e depois no ginásio que frequento, o rapaz com quem costumo treinar, sugeriu-me pilates e deixei o ioga para fazer pilates».

Quando é que sente necessidade de treinar fora daquilo que é o treino normal dos clubes?
«Treino por fora, muito também por hóbi. Eu gosto de treinar e tenho bastante tempo livre então aproveito para ir ao ginásio e fazer esse tipo de atividades».

O que é que gosta de ler?
«Por acaso agora estou a ler um livro de uma sueca, Camilla Lackberg. É um thriller, mas gosto de ler um pouco de tudo. Gosto de ler livros sobre economia, sobre a mente, de tudo um pouco».

Sentiu a falta de um pai?
«Isso é um bocado... Não se pode sentir falta daquilo que nunca se teve, não é?»

Nem nunca teve curiosidade de ir à procura do seu pai?
«Não, também não. A minha mãe ocupou os dois postos».

Ela dava-lhe muito na cabeça quando apareciam aquelas notícias sobre si, sobre as noitadas?
«Ligava a perguntar se era verdade ou não. Não ficava muito contente».

Foi-se afastando das amizades das noitadas?
«Eu sair ou não, não tem nada a ver com os amigos. Se eu saia é porque tomava a opção de sair».

Tenciona voltar a estudar?
«Sim, quando terminar a minha carreira faço tenções de voltar a estudar».

Mas tem ideia de alguma coisa que queira fazer?
«Algo relacionado com gestão e economia. Gostava de focar-me nisso».

Alguma vez se meteu em algum negócio ou tem algum negócio?
«Tenho dois negócios pendentes, mas de momento vou guardar para mim. Não tem nada a ver com o futebol».



Portugal
Manuel Fernandes
NomeManuel Henrique Tavares Fernandes
Nascimento/Idade1986-02-05(38 anos)
Nacionalidade
Portugal
Portugal
Dupla Nacionalidade
Cabo Verde
Cabo Verde
PosiçãoMédio (Médio Centro)

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