Turbulência inquietante

A época desportiva do SC Braga sofreu, de modo repentino, um abalo completo no que à liderança da sua equipa principal de futebol diz respeito. Havia sinais exteriores de insatisfação de uma franja alargada de adeptos, nos tempos mais recentes, em relação à prestação de Artur Jorge, enquanto líder do futebol arsenalista, com as redes sociais a mostrarem, de modo inequívoco, que a facilidade da crítica pública é hoje muito maior e voraz do que no passado, em que isso acontecia nas conversas de café. Outros tempos, outros contextos.

Muita gente não tem qualquer noção sobre a forma como as críticas acontecem por escrito em público, uma vez que as fronteiras de uma publicação deixaram de existir e uma qualquer consideração feita individualmente por alguém deixa de lhe pertencer quando uma publicação acontece e o controlo sobre isso deixa de existir por parte do seu responsável. É o uso ilimitado das redes sociais, para o bem e para o mal, de modo mais ou menos responsável.

A oportunidade de Artur Jorge sair para o Botafogo aconteceu e o treinador, bracarense e braguista, mostrou de imediato vontade de deixar o seu clube de coração e abraçar um novo projeto, num local em que a sua imagem está fresca e sem desgaste. Veremos por quanto tempo, pois no Brasil tudo acontece muito rapidamente e as lideranças duradouras são uma exceção, como acontece com Abel Ferreira no Palmeiras, também ele saído outrora de Braga para o estrangeiro.

Não me vou pronunciar sobre as versões existentes e os contornos reais da mudança, uma vez que não possuo dados que me permitam emitir uma opinião minimamente isenta e verdadeira. Factualmente o SC Braga deixou de ter treinador depois do jogo de Portimão que os bracarenses venceram (5x3), o que permitiu uma saída com algum sorriso do técnico, ao mesmo tempo que reforça a posição arsenalista na luta pelo terceiro lugar da liga, em função da derrota portista no Estoril.

Com a saída do treinador, estava instalada uma turbulência inquietante na Legião do Minho que pode prejudicar os objetivos do SC Braga na presente temporada e angustia, por certo, os adeptos braguistas. Curiosamente, os adeptos dos clubes rivais não gostaram muito desta mudança, por considerarem que, aparentemente, a situação anterior lhes era mais favorável. Nunca saberemos se assim era.

Rei morto, rei posto e António Salvador voltou a ser ágil na resolução do problema criado com o vazio momentâneo no comando técnico existente em Braga. Assim, o presidente bracarense tentou resgatar Daniel Sousa ao Arouca, em resposta a um desejo alargado, mas esbarrou na exigência financeira dos arouquenses, que tornavam surreal o preço de cada jornada até ao fim da temporada e podia prejudicar uma preparação cuidada e atempada do desejado treinador.

Face a este contexto, a solução híbrida encontrada foi de contratar de imediato Daniel Sousa, que entra no início da próxima época e até ao final desta a equipa de futebol do SC Braga fica entregue a Rui Duarte, que tem assim uma oportunidade de mostrar que no futuro pode ser uma possibilidade para ser uma opção a considerar.

O novo técnico, Rui Duarte, fica de modo interino e estreia-se precisamente contra o Arouca, comandada pelo futuro treinador dos Gverreiros do Minho, o que pode colocar algum amargo de boca para os lados da Serra da Freita, pelo timing em que foi anunciada a contratação a custo zero do seu treinador, em vez da quantia exorbitante agora exigida.

A solução encontrada, comunicada oficialmente por António Salvador, parece ser equilibrada e permite encarar o futuro com esperança de ver o SC Braga terminar a atual liga portuguesa com um sucesso dentro dos parâmetros existentes nos seus adeptos, uma vez que Rui Duarte chega a este lugar depois de orientar a equipa de Sub 23, onde venceu dois títulos na época anterior, e os jovens Gverreiros que participaram pela primeira na Youth League, onde tiveram uma prestação meritória, de onde foram injustamente afastados da competição pelo AC Milan, e a fase de transição permite uma atempada preparação arsenalista dos tempos vindouros.

O futuro já começou com a mudança de timoneiro no leme brácaro e Rui Duarte terá, por certo, o apoio generalizado das bancadas braguistas, tanto em casa como fora, e a união entre equipa e adeptos só pode fortalecer o SC Braga. Resta-me desejar boa sorte a Rui Duarte e má sorte a Daniel Sousa nesta jornada, querendo, contudo, que ambos sejam felizes no futuro enquanto forem elementos da estrutura do futebol do clube.