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Poente B2
José Pedro Fernandes

Sobre a desilusão e a grandeza

2016/12/14
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Poente B2 é o olhar de José Pedro Fernandes sobre o desporto, o futebol e os media. Uma perspectiva a partir da pedreira, com um espectro vermelho e branco, sem amarras ou pressupostos de isenção, mas tendo como linha orientadora a honestidade intelectual.

Quinta-feira, 8 de dezembro de 2016, 20 horas. A desilusão apoderou-se de mim, o meu clube havia sido eliminado da Liga Europa 2016/2017 no último minuto de um jogo que não jogou.

Após o jogo de Braga, os meus olhos não largaram o telemóvel à espera do momento em que o jogo na Turquia terminasse e o resultado que perdurava, desde o apito inicial, se mantivesse. Mas isso não aconteceu, o Gent, aos 90’+4’, passava a ganhar na Turquia. Nos instantes que se seguiram, só os sorrisos e abraços da minha esposa e do meu filho conseguiram arrancar-me do marasmo que me consumia e prendia ao sofá, estava incrédulo.

O grupo não se vislumbrava difícil e o apuramento era possível, desde que não se permitissem veleidades. O certo é que ao longo das jornadas não fomos suficientemente unidos, solidários e consistentes para salvaguardar a nossa vaga nos 16 avos de final, fomos.... Portugueses, esperamos pela última chamada para apanhar o comboio que passou depressa demais e nos deixou apeados.

Chegar à última jornada dependentes de uma vitória sobre uma equipa que está ao nível de muitas que se apuraram para os oitavos de final da Champions League foi, no mínimo, jogar “com a corda no pescoço” e, pelas circunstâncias do jogo, estar dependente do que se passava bem longe do nosso estádio.

Há culpados? Certamente. A começar por nós sócios e adeptos que, jornada após jornada, fazemos questão de demonstrar desagrado, na pessoa do treinador, pelas exibições e/ou resultados menos conseguidos pela equipa. E quando falo de nós, falo de todos, mesmo daqueles que, tal como eu, apreciam e reconhecem o trabalho e o mérito de José Peseiro e que, num dia mau, de falta de astúcia, de visão ou de sorte se permitem questionar um trabalho rigoroso que nos permite, volvidas 13 jornadas, estar colados aos três “grandes”, envolvidos na defesa da Taça de Portugal e ainda reconquistar, numa inédita final four, a Taça da Liga.

Na noite da passada quinta-feira e durante todo o dia de sexta-feira, saltei de jornal em jornal à espera de um comentário ou de uma entrevista a António Salvador, não surgiu. Por instantes pensei que o lugar de José Peseiro estava em causa. Mas António Salvador, com inteligência e arteirice que lhe é reconhecida, soube salvaguardar o treinador e o grupo. Se fez valer a sua palavra, a sua desilusão e a sua revolta pela precoce eliminação da Liga Europa, fê-lo onde devia ser feito, em privado, olhos nos olhos.

Mas se esta contrariedade sofrida de forma imprevista me deixou cabisbaixo, a mesma teve a capacidade de me mostrar o quão enorme está o clube pelo qual vibro. Naquela intempérie de sentimentos contraditórios de paixão ao clube e revolta pela eliminação, fui passando os olhos pela página oficial do SC Braga no Facebook, vendo as publicações que eram feitas e lendo os comentários dos internautas.

Não me espantaram os comentários de insatisfação dos sócios e adeptos que na sua maioria pediam a cabeça de José Peseiro. Espantaram-me, isso sim, os comentários ressabiados que ali pululavam de adeptos de outros clubes, que exortavam com a derrota do Braga. Não só pelos comentários em si, mas também pelo facto de haver gente de outros clubes que se dá ao trabalho de colocar um “GOSTO”(!!!!!!) na página de um clube que não é o seu, para poder usufruir o direito à ofensa gratuita e descarregar nos outros as agruras e frustrações que passam enquanto adeptos dos seus clubes. O Braga está cada vez maior, enorme, e estes adeptos que vestem outras cores são sintomáticos do quão as nossas conquistas incomodam e reflexo de um estatuto e grandeza que já alcançámos.

CHUTO PARA CANTO...

- Ainda tenho dificuldade em vislumbrar o assombroso ponta de lança que se faz crer que André Silva é. Vejo demasiados tiques de vedeta, sobranceria e falta de respeito para com os adversários de alguém que, sendo profissional de futebol, à mínima aragem se estatela dentro da grande área na tentativa de cavar penáltis. E não é que lá lhe vão fazendo as vontades?

- A julgar pelas declarações expressas em jornais e em programas de entretenimento desportivos travestidos de programas de informação, parece-me poder concluir-se que, nesta 13ª jornada da liga, só o Sporting saiu prejudicado pela arbitragem. Na semana anterior, a única vítima da arbitragem foi o Benfica, na Madeira, e há duas jornadas atrás foi o Porto, em Belém.

Raios partam os homens do apito que só prejudicam os “grandes”!



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