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A Tasca do Silva
Paulo Silva

Sob o Signo B

2023/12/10
E0
A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

B(estiais)

O FCP ganhou, o Benfica não e o Sporting perdeu. Em consequência, apanhámos o líder e só não está mesmo tudo igualzinho à conta de um golo do...Fernando Andrade. Go figure. No rescaldo, Sérgio Conceição lembrou que não ficámos agora bestiais por isso. Como quase sempre, o treinador do FCP faz uma análise muito certeira. De facto, não ficámos. Aliás, a primeira parte do jogo contra o Casa Pia, que contou com o desperdício habitual do nosso ataque, terminou com vantagem para a casa graças a São Diogo e embrulhado na polémica do lance de Pepe. Pois, pá, não foi bestial, não senhor.

A segunda parte não foi melhor, até pelo contrário. Mas contou com dois cantos batidos para a área. No primeiro, golo. No segundo, golo em sequência de. A bola não ter rodado por meia equipa, até chegar ao guarda-redes, é capaz de ter permitido que o central ainda estivesse na área para finalizar a jogada de insistência. Ora aqui está uma inovação, hein? Bolas paradas sem cinco variáveis - quais equações quânticas - aparte, não tornam as bestas eliminadas da Taça da Liga em bestiais, da mesma maneira que aquela eliminação não foi uma sentença de bestialidade do plantel.

Sérgio Conceição tem uma dificuldade clara em lidar com talento. Faz-lhe confusão e ele precisa de passar muito tempo a diminuí-lo, até que o jogador possa, efetivamente, contar para o totobola. A maneira como Pêpê parece ter, muitas vezes, dificuldade em colar a bola no pé na receção e passar a preceito a 5 metros, não lhe era detetada quando chegou. Galeno continua a progredir tropeçando na bola, sempre em equilíbrio precário, como se fosse um espelho do futebol da equipa: sempre no limite, a fazer a bola chegar ao destino na última hipótese, no ressalto, ganhando o duelo. A gente sente sempre que a jogada vai terminar e ela continua apenas em esforço, raramente limpa. 

Porque os jogadores são maus? Não, nem todos, aliás, os mais deles são mesmo bons jogadores. Porque às vezes a gente vê o Eustáquio receber orientado, entre o lateral e o central, passar com açúcar para o Evanilson, num dos raros momentos em que estava lá no centro da área, encostar para golo. Eles sabem, sabem muito, mas têm muito mais com que se preocupar. Como nas bolas paradas, Conceição parece ser avesso á simplicidade. A coisa tem que ser mais do que jogar à bola. Mas vá que, assim na loucura, nem tem.

B(ês)

Por exemplo, a equipa B perdeu na manhã em que a A chegou ao topo. E, digo-vos eu que estive nos dois jogos, jogou bastante mais. Conceição, como Folha, quer ganhar e não dar espetáculo. Eu não só aceito isso, como, enquanto adepto fanático do FCP, quero o mesmo. É por isso que quando Conceição diz que vai prestar mais atenção aos B e aos sub, a gente sabe que ele está a falar do moço de 26 anos que é central e capitão da B. Não do Vasco Sousa, um jogador nível Vitinha, mas que, vai-se a ver, ainda tem que passar por um empréstimo com cláusula obrigatória a um Wolves da vida. Muito menos de verdadeiros sub, como Mora, um génio em potência. 

O próprio Folha prefere Romain e dispensa Vinhas, usa Wendel - e o que está a jogar o moço - em vez de desenvolver Anhá, precisou que Vasco o convencesse para lá de qualquer dúvida razoável, acha melhor dar minutos a Nilton varela do que deixar jogar Martim Fernandes e deixa Gonçalo Sousa na sombra do sublime Marcus. Porquê? Porque quer ganhar, apesar da sua principal função não ser essa. Este ano, vou-lhe perdoando isto, à conta do prazer que me dá ver os Bês do Folha a jogar. Mesmo quando não ganham.

Nada de confusões, Sérgio Conceição tem total legitimidade para fazer estas e todas as outras opções. Mas não devemos tomar a pele de lorpas e fazer de conta que não vemos, certo? A linha defensiva do FCP contra o Casa Pia era composta de Sanchez, Pepe, Zé Pedro e João Mendes. Tirando Pepe, que devia estar guardado para jogos em que a sua experiência fosse fundamental e, ao invés, anda a ser ovacionado contra o 11º classificado - sim, ele, um central! - todos os outros seriam, no limite, segundas ou terceiras opções para os respetivos lugares. Reparem, eu exulto com assistências do João para o Zé, porque são da "minha" B, mas nenhum deles deveria ser titular de caras do FCP. E, neste momento, são. Diz muito dos outros.

Disto é que o treinador não tem culpa nenhuma, não é? Não, não é. Demorar 2 anos a perceber que até o João é melhor do que Zaidu não é o melhor cartão de visita para um técnico. Estamos a falar do mesmo treinador que não considerou Dalot imprescindível; que, pelo que vemos, considera Zé Pedro mais adequado do que Diogo Leite; e que demorará o tempo que for preciso até fazer de Ivan Jaime um novo Otávio ou, no limite, um criativo com tiques de Galeno. Isto é, que fugirá a sete pés do talento e da simplicidade. Porque, de alguma maneira estranha, se sente ameaçado por eles.

Vamos em dezembro e o FCP apanhou o primeiro, apesar dos desastres Arouca e Estoril. E isso é, obviamente, mérito de Sérgio Conceição. Da forma como, ao fim de tantos anos, continua a mobilizar o balneário e a liderá-lo, a incutir, em quase todos os momentos, o espírito antes quebrar do que torcer, tão próprio do FCP, tão incrustado no nosso ADN. Vejam a quantos pontos estaríamos se não fosse assim. Basta contabilizar as vitórias garantidas nos descontos, as remontadas, os pontos que valeram mais do que as exibições. Mas também vamos em dezembro e já voaram 2 títulos. Sim, porque se os ostentamos quando são nossos, também devemos chorá-los quando os perdemos. Supertaça e Taça da Liga já lá vão. Faltam outros 2 e é imperativo que os vençamos.

B (SAD)

Na quarta-feira joga-se a final da Champions da SAD. O Presidente diz que o clube é dos sócios - pelo menos dos que não usam telefones em AG - e não dos bancos, mas a primeira preocupação é garantir milhões. Também apregoa que os portistas querem saber é de títulos e não de contas, mas os objetivos que define implicam zero títulos: contas, capitais, oitavos da Champions. Ainda mandamos fazer uma taça de cartolina, um dia destes.

Para nós, a bancada, é um jogo que vale passar à próxima etapa. E eu acredito que o sentimento do treinador e da equipa é igual ao nosso. Porque sim, nós continuaremos a sonhar com Istambul e o Shakhtar é só o próximo degrau. E podemos? Então se somos o Porto, não podemos o quê, senhores? Podemos tudo!

Next please.

Outros disparates sobre bola, a vida e copos de 3 em http://atascadosilva.blogspot.com



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