Falta de humildade

O SC Braga é o novo Campeão de Inverno. O título foi conquistado na cidade de Leiria, depois de uma vitória por 1-0 frente ao Sporting, na meia final, e do saboroso triunfo frente ao Estoril, conseguido no desempate através dos pontapés da marca de grande penalidade, uma vez que no tempo regulamentar o empate a um golo fora o resultado. Os jogadores jogaram com raça e com coração, como eu tinha pedido, ainda que a qualidade de jogo não tenha sido companhia regular.

O jogo decisivo foi a demonstração de que uma final sem nenhum dos três clubes habituais pode redundar num espetáculo digno, cuja grande presença de adeptos eleva o futebol, ainda que nesta como noutras finais não se tenha assistido a um jogo sublime. O caráter decisivo de uma partida neste contexto inibe os jogadores de arriscarem, sob pena de comprometerem a obtenção de um troféu. 

O momento em que o jogador estorilista atirou a bola para a bancada, no último penálti, foi de libertação de todas as tensões acumuladas ao longo de um encontro em que Ricardo Horta pintou um belo quadro com o seu pé direito em forma de pincel, cujas tintas foram bem servidas por Zalazar, na sequência de um canto que mostrou que a tradução do trabalho efetuado nos treinos pode resultar se for bem executada no relvado. A explosão de alegria dos mais de 13 mil adeptos braguistas que foram a Leiria foi simultânea à da equipa e contrastava com a tristeza de quem caíra no último segundo de uma final bem disputada, ainda que não bem jogada.

Os festejos no estádio leiriense foram, por certo, estendidos àqueles que, por diversas razões, não puderam marcar presença e aos que boicotaram a ida aos jogos da competição, num protesto em que eu concordo com o conteúdo e discordo da forma de implementação. 

A meio da semana havia um jogo na Pedreira frente ao GD Chaves, num duelo que poderia homenagear os novos campeões, pelo que a equipa merecia uma moldura humana superior e com mais calor aquando da exibição do troféu. Mesmo assim, foi com alegria que os braguistas viram de longe o oitavo título conquistado pelo SC Braga, em todos os anos que esteve no principal escalão, em que dois foram obtidos nas primeiras oito décadas e meia de vida e os restantes seis na última década e meia. É substancial a diferença entre os dois períodos referidos, ao nível da conquista de títulos, que alimentam o crescimento de um clube.

O empate consentido frente ao GD Chaves, a um golo, deixou triste a Legião e alguns adeptos mostraram o seu descontentamento, numa altura em que deveria ter falado mais alto o orgulho pela conquista da Taça da Liga, havendo mesmo que menorizasse o troféu conseguido, num comportamento com tiques de quem é adepto de outros clubes, normalmente criticados pela sua postura. Era grande a falta de humildade de alguns adeptos, tanto a seguir ao jogo com os flavienses como noutras alturas nos tempos mais recentes. Estive presente nos dois jogos de Leiria e senti um orgulho imenso no título conseguido, ainda que ele não signifique o final da época desportiva, como parecia na abordagem da equipa contra os valentes transmontanos, cuja forma arcaica de fazer antijogo não se coaduna com as necessidades de pontos na classificação, nem com a necessidade de promoção do espetáculo. Pensei, com sinceridade, que já não se assistisse a tantas quedas num só jogo e que este degredo defensivo já não se usasse. 

O programa desportivo segue dentro de momentos, com a receção ao vizinho Moreirense, cujas dificuldades se anteveem em dose superior, face ao que os cónegos têm feito na presente edição da liga portuguesa. Neste confronto existe a curiosidade de (re)ver antigos jogadores dos brácaros, uma vez que no adversário há oito atletas que já estiveram em Braga.

À equipa, peço que suba os níveis de entrega e concentração, evitando dar meio jogo de avanço ao rival, pois as dificuldades a seguir são, por norma, elevadas. Aos adeptos apenas solicito o apoio que a equipa precisa e merece, numa fase que em breve terá o regresso das competições europeias, agora na Liga Europa, além da liga onde ainda existem muitos pontos para conseguir, apesar da distância indesejada que existe para o topo da classificação.

Vamos à luta e olhar em frente, porque atrás vem muita gente.