Dias de Todos os Santos

1. Deus na Terra

Decorreu, na segunda-feira, mais uma AG do FCP. Desta vez foi das ordinárias e o intuito era debater e votar as contas do clube. Não há notícia de incidentes violentos, tirando algumas espinhas que estalaram, mas isso já nem sequer é novidade. Naturalmente, a reunião de associados, bastante menos concorrida e efusiva do que a anterior, ainda que o tema fosse igualmente relevante, serviu para muito mais do que o estipulado na ordem de trabalhos.

Desde logo, como SEGUNDO facto mais relevante, assistimos à definitiva assunção da candidatura de André Villas Boas à presidência do FCP em 2024. O que era mera formalidade, transformou-se em rigorosa obrigação, depois da intervenção do protocandidato nesta AG. Se isto parece importante, como pode ser só o segundo aspeto de maior impacto? Porque provocou aquilo que é, na minha opinião, o verdadeiro momento da vida do FCP: a vinda de Deus à Terra. Jorge Nuno Pinto da Costa, pela primeira vez em 40 anos, viu-se na contingência de descer os degraus do Olimpo e juntar-se aos mortais. Isto é, na sua intervenção, o Presidente apresentou-se na arena eleitoral e discursou como um candidato e já não como a reserva moral acima das questiúnculas da plebe. Pessoas que muito respeito disseram-me que as suas palavras foram o ponto final nas eleições, garantido, logo ali, uma retumbante vitória, sustentada nos anos de vida e vitalidade que AVB lhe entregara minutos antes. Mantenho o respeito, está claro, mas acho um absoluto disparate. Nada de confusões, ainda creio que PdC é o grande favorito, mas, pela primeira vez, fiquei com a sensação de que não são favas contadas. Para o ambiente no Dragão e à volta do FCP, não são as melhores notícias, mas é o que é.

Vejamos, Deus teve que vir arengar à populaça, atiçando-a contra os infiéis, nomeadamente o seu suposto novo líder. Os argumentos que utilizou foram: este não sabe o que diz e tem que vir ler um papel que lhe escreveram; é apoiado por jornais com da capital - aproveito para perguntar onde é a sede do grupo detentor do jornal O Jogo e, já agora, do Jornal de Notícias? Convenhamos que é muito curto. Tão curto como as generalidades que o adversário de circunstância lhe atirara antes, bem como o apelo populista à devolução dos prémios de gestão. Tudo espremido, dá-me como resultado uma grande preocupação, nada mais.

No entanto, a direção vigente faz alarde de uma estupenda vitória na AG. De facto, as contas foram aprovadas, ao contrário do pretendido por quem votou contra, como André Villas Boas. Mas ninguém parece particularmente atento aos números, embora tenha sido de números que se tratou. 

As contas foram aprovadas por 53% dos associados presentes - são cinquenta e três. Se acharmos lícito assumir que quem se absteve representou um voto de protesto - conforme o próprio presidente sugeriu, quando referiu que quem se absteve demonstrou responsabilidade, pois, sendo contra, sabia o que o chumbo das contas significaria para o FCP - concluímos que 47% dos associados estiveram, se não contra, pelo menos não a favor. Que grande vitória pela margem mínima, hein?

Por fim, o pouco entusiasmo que o discurso do futuro candidato Villas Boas me provocou, só tem paralelo na renovada confiança expressa pelo atual líder numa estrutura caduca e manifestamente incompetente, com Fernando Gomes à cabeça e Fernando Madureira nas ruas. Pelo menos, fica claro que a provável vitória de PdC nas eleições significará que tudo fica igual. 

Voz aos associados e ao Shakhtar que, sem saber porquê, viu o dia do seu jogo no Dragão transformar-se no dia de Todos os Santos da SAD, como se fosse um feito à altura de Viena. De onde viemos e aonde nos encontramos, senhores. 

2. O Calvário

Por falar em Shaktar, o Porto perdeu em Barcelona. Pela segunda vez, ficou-nos a sensação de que podíamos ter tido melhor sorte, levado mais pontos, sido cobertos de glória e acabámos bebés chorões, sem regaço nem mama, abençoado Sérgio. O Godinho, neste caso. É ainda mais doloroso se nos lembrarmos que este Barça não será assim tão melhor do que aquele do qual desdenhámos quando o Antuérpia cá do Burgo - aka clube até esta jornada com zero pontos na Champions - empatou em Barcelona e os aviou com 3 secos em Lisboa.

Vamos abreviar este ponto, pela dimensão do melão e pela vossa rica paciência, e dizer que por muito que o Sérgio se esforce, o Conceição agora, a escala de um jogador de futebol pode perfeitamente ser traçada de Zaidu a Cancelo. E o zero joga por nós, o que dificulta bastante. A culpa disso não é do Cavani, é de quem o trouxe, de quem o mantem, de quem o treina e de quem opta por ele. Ou seja, é de vós todos e nunca - NUNCA - do Zaidu, que parece uma jóia de moço. 

O treinador que tem hoje de meter o Zaidu a jogar, é o mesmo que, em Portimão, no final de um estágio de pré-temporada, deu a entender que, por exemplo, Oleg Reabciuk não tinha qualidade para jogar no FCP. Oh mister, nem precisamos de ir ao Oleg - feliz que anda lá pelas Helénias, o cachopo - qualquer João Mendes era melhor e, acredite, o João não pode ser titular do FCP.  Isto já para não falar de um Nhaga, estrela em potência, craque em formação e do qual vocês nunca ouviram falar. É fácil, googlem Serif Nhaga e depois venham falar-me de bruxarias e do azar que tivemos em fazer zero pontos contra o Barcelona.

Do jogo em si, fiquei com o mesmo amargo de todos os portistas: podíamos mais, merecíamos mais, tivemos o do costume.

3. Ascenção

E já que estamos nisto, reparem na forma como já nos preparam para o caminho que vai seguir o diamante Anhá. Depois de um jogo internacional em que faz duas assistências e um golo, os media que não têm sede em Lisboa, a começar pelo canal do clube, destacam toda a gente, menos o Anhá. Porquê? Honestamente, espero que seja só por distração ou falta de conhecimento futebolístico. Espero, mas tenho pouca fé.

Next, please.

Outros disparates sobre bola, a vida e copos de 3 em http://atascadosilva.blogspot.com