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A preto e branco
Luís Cirilo Carvalho

Assembleia Geral

2021/05/21
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"A Preto e Branco” é uma coluna de opinião que procurará reflectir sobre o futebol português em todas as suas vertentes, de uma forma frontal e sem tibiezas nem equívocos, traduzindo o pensamento em liberdade do seu autor sobre todas as questões que se proponha abordar.

O Vitória Sport Clube realiza, no próximo sábado, dia 29 de maio, uma das Assembleias Gerais mais importantes dos últimos anos que está a justificar um inusitado interesse por parte de uma massa associativa que vive tudo que se relaciona com o clube de uma forma intensa e apaixonada.

Ao longo dos já muitos anos que levo como associado, e alguns como dirigente em mandatos anteriores, assisti a muitas dezenas de Assembleias Gerais que foram do mais pacato e rotineiro ao mais exaltado e tumultuoso conforme os tempos que se viviam e os assuntos que nelas eram debatidos.

E assisti a Assembleias Gerais em muitos sítios.

Desde o salão nobre da antiga sede na rua D.João I, onde não cabiam nem cem pessoas, até á bancada poente do estádio D.Afonso Henriques com milhares de associados presentes, passando pelo Teatro Jordão, pelo pavilhão do Vitória, pelo ginásio do estádio, pelo pavilhão da escola João de Meira, pelo salão do patronato da Oliveira, pelo palácio de Vila Flor e, provavelmente, por mais alguns locais da cidade de Guimarães.

E com assistências que iam, num passado já remoto, de poucas dezenas de pessoas a milhares de associados presentes, lotando o pavilhão do clube ou a bancada poente do estádio.

Havendo, sempre, em diferentes presidentes da Mesa da Assembleia Geral (e nos restantes membros é claro), a sensibilidade para a cada momento se escolher o espaço mais adequado ao previsível número de presenças de molde a que as AG pudessem decorrer com condições mínimas de conforto para todos quantos quisessem estar presentes.

Recordo até uma assembleia que começou no antigo ginásio do estádio. Era eu secretário geral do clube e o Eng. Raúl Rocha presidente da Mesa, mas, face ao número inesperadamente elevado de associados presentes que tornaram o espaço exiguo, decidiu-se suspender a assembleia por uns minutos de modo a que todos os associados pudessem passar para a bancada poente e os orgãos sociais para o relvado, continuando então a assembleia nesses espaços sem transtornos de qualquer espécie.

Depois da construção do pavilhão do Vitória, situado no complexo desportivo António Pimenta Machado, ficou resolvido definitivamente o problema do lugar das Assembleias Gerais que, desde finais do século passado, se realizaram todas nesse espaço e algumas delas foram verdadeiramente memoráveis quer pelo milhares de associados presentes, quer pelo fervor e paixão com que alguns assuntos foram discutidos.

Mas também pelas polémicas e divisões entre associados, algo que não foi comum durante décadas, mas que se tornou hábito desde o início deste século.

Especialmente nas últimas assembleias de Pimenta Machado nalgumas de Vitor Magalhães (talvez as de maior controvérsia) e em praticamente todas de Emílio Macedo da Silva, isso foi bem patente.

Tudo isto para dizer que cada Assembleia Geral do Vitória tem a sua própria história e, como tal, deve ter o seu tratamento adequado em função daquilo que se suponha poder acontecer em termos do interesse dos associados em estarem presentes.

A do próximo dia 29 promete ser aquela que nos últimos anos mais interesse desperta nos vitorianos.

Por várias razões:

Desde logo porque por força da pandemia não se têm realizado Assembleias com a periodicidade habitual, pelo que os associados estão carentes de explicações sobre a vida corrente do clube.

Mas há também razões excepcionais a justificarem redobrado interesse.

- A compra das acções ao accionista Mário Ferreira, que tornaram o clube maioritário na SAD, e os contornos do negócio em termos de percentagens já adquiridas e respectivo pagamento.

- O adiantamento de receitas a que a SAD procedeu, no valor de 20 milhões de euros, e o destino que foi dado a essas verbas.

- A possível entrada de um novo accionista minoritário e as condições que envolverão essa entrada.

- Aspectos da gestão da anterior Direcção/SAD que tem sido alvo de notícias variadas e que envolvem processos em tribunal.

- A classificação da equipa no campeonato, que foi uma profunda desilusão para todo o clube sem excepção e que nos deixou um ano mais fora da Europa.

- O projecto desportivo com a saída de Carlos Freitas e a entrada de novos protagonistas.

- As acusações de um comentador desportivo sobre negócios do clube que devem ser devidamente explicadas, não pelas perguntas do comentador (não faltava mais nada), mas porque é do interesse de todos que não fiquem dúvidas sobre o assunto.

Estas (e outras) são razões que levam a um enorme interesse dos associados vitorianos por esta Assembleia Geral e que fazem prever uma enorme afluência dos mesmos ao pavilhão do Vitória Sport Clube.

E aqui põe-se um problema que tem de ser resolvido.

Aquando do pedido da direcção para a realização desta AG, decidiu a Mesa, e bem, consultar a DGS para saber das condiçoes sanitárias em que mesma se deveria realizar face aos condicionalismos postos pela pandemia.

Marcada a AG, e após a pressão de alguns associados que não viam na convocatória qualquer restrição ao número de presenças, o que causou lógica surpresa face ao que tem sido a doutrina ( já a prática...) da DGS na matéria, a Mesa lá acabou por informar que só poderão estar presentes duzentos e oitenta e dois associados.

O que é inaceitável para um clube com a grandeza do Vitória e face ao interesse de que a AG se reveste.

Há que encontrar uma solução alternativa para que todos os associados, que o desejem, possam estar presentes e para que a direcção tenha a oportunidade, algo que é do seu máximo interesse, em ter o máximo de associados a ouvirem as suas explicações e esclarecimentos de modo a que, ultrapassado este momento, nos possamos todos preocupar com o futuro.

E essa solução chama-se estádio D. Afonso Henriques.

Onde, como em AG do passado, os orgãos sociais poderão estar no relvado (onde ainda hoje estiveram na apresentação do Pepa) e os associados na bancada poente, todos eles devidamente espalhados e respeitando todas as prescrições de segurança.

Segundo a meteorologia no próximo sábado, em Guimarães vai estar um dia de sol, com temperatura máxima de 27 graus, pelo que o receio de mau tempo nem sequer se pode colocar em causa, retirando o que poderia ser um argumento importante para a AG não ser lá.

Creio que a Mesa da AG, ajudada se necessário pelos restantes orgãos sociais, deve proceder a uma reflexão rápida, mas também profunda, sobre este assunto e concluir pela necessidade de mudar o local de realização da AG do pavilhão para o estádio, dando assim oportunidade a todos os associados para estarem presentes e esclarecerem as suas dúvidas.

Há um ano afastados do estádio (e de outros espaços desportivos) pela pandemia, com a ameaça de no pós-pandemia dele continuarem longe durante meses face às atitudes persecutórias do CD da FPF e da APCVD, ao menos que naquilo que apenas depende do Vitória não se vejam também os seus associados privados de assistirem a uma AG tão importante para o clube pela escolha errada do espaço em que ela deve ocorrer.

Creio que é o tempo do bom senso.

Porque apenas ele, bom senso, pode defender os interesses do Vitória num momento tão delicado da sua vida associativa e impedir que aquilo que deve “morrer” na AG continue a existir e até alastrar se a ela não tiveram acesso todos aqueles que estejam em condições estatutárias de estarem presentes.

Manter a AG no pavilhão pode servir outros interesses, até daqueles que nos querem mal por razões várias, mas não serve os interesses do Vitória, da sua direcção e dos seus associados que são os únicos que interessa defender.

E quero acreditar que a Mesa da Assembleia Geral levará isso em linha de conta num tempo em que ainda está muito a tempo de tomar a decisão adequada e transferir a realização da AG para o estádio D.Afonso Henriques.

Mais cedo ou mais tarde, por razões naturalmente diversas, todos lamentaremos se isso não acontecer.



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