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Entrevista de Rui Miguel Tovar a Pimenta Machado

«Do BCP dizem-me: 'o sr. Vale e Azevedo diga o que quiser, esse dinheiro não existe'»

E4

«Barrilete Cósmico» é o espaço de entrevista mensal de Rui Miguel Tovar no zerozero. Epíteto de Diego Armando Maradona, o nome do espaço remete para mundos e artistas passados, gente que fez do futebol o mais maravilhoso dos jogos. «Barrilete Cósmico».

Parece ter sido numa outra vida. E foi, na verdade. Rúben Amorim, por exemplo, ainda está longe do Sporting. O primeiro telefonema para Pimenta Machado é em 2019. O homem atende com saúde e chuta para canto. Insistimos no cruzamento para a área, que é como quem diz para o 96-etc-e-tal. Mais um pontapé para longe, bem longe. Uma das suas quatro filhas está em Madrid e ele, pai atencioso, vai visitá-la. Mete-se o Carnaval, depois a covid e por aí fora. Em Junho de 2023, dá-se finalmente o encontro há muito aguardado, no (re)conhecido restaurante lisboeta Dom Feijão. Aos 73 anos, Pimenta fala de mais de 50 ilustres na sua vida de três décadas dedicada ao Vitória. Ouçamo-lo.

Ganhou quantas eleições?

Sete, sete eleições. A primeira foi em 1982, ganhei com 92%.

Em 1982? Mas então o Pimenta entrou em 1980.

Sim senhor, entrei a 10 Março 1980, a convite do meu primo Carlos, mas as primeiras eleições presidenciais foram em 1982.

E como encontrou o Vitória em 1980?

Mal, cheio de dívidas. A anterior direção, do Gil Mesquita, lembrou-se de levar o estádio para outro sítio, um pouco mais acima do complexo desportivo. Encomendaram o projecto, o arquitecto fez o desenho e tal, mas não foi pago e aquilo arrastou-se nos tribunais. Enfim. A primeira coisa que fiz quando cheguei ao Vitória foi assinar letras, 1600 e tal contos à segurança social entre 20 prestações de 88 contos cada. O nosso interesse era saldar a dívida e dedicarmo-nos ao jogo do bingo.

E porquê um primo seu a convidá-lo para o Vitória?

A família Pimenta Machado, da parte do meu pai, é muito conceituada em Guimarães e a expectativa era a de que tomasse conta do Vitória. O meu primo Carlos ligou-me para Lisboa e diz-me isto ‘a malta precisa de falar contigo’. E eu ‘qual malta?’ Lá me explicou por alto e disse-lhe que ia a Guimarães na Páscoa.

E?

Lá fui, falámos sobre o sentimento comum de ajudar o Vitória e avançámos com uma condição minha: alinho, sim senhor, mas quero fazer infraestruturas, o Vitória é só um clube de futebol e quero mais. Muito bem, cada um de nós foi ao [banco] Pinto & Sotto Mayor para assinar uma letra de dois mil e 500 contos. Resolvemos algumas dívidas e avançámos para reuniões mais precisas sobre o futuro. A conclusão era a de que o Vitória não era nada a nível nacional, só local, e teríamos de dar o salto.

Como?

Tínhamos de contratar nomes sonantes. E avançámos para o José Maria Pedroto, à bola do Verão quente em 1980. Fomos a uma pastelaria muito conhecida na Praça Velázquez e ele lá aceitou, depois de muita conversa.

Muita conversa?

Ele impôs, impôs, impôs.

O quê?

Isso não se pode escrever, ahahahah.

E mais?

Apostámos em alguns jogadores internacionais, o primeiro de todos foi o holandês Ton Blanker, avançado suplente do Ajax.

Mas isso é assim em 1980, queremos o suplente do Ajax?

Ahahahah.

Como é que sabia que ele era bom, à falta dos recursos informativos de hoje?

Ó Rui, fui duas vezes o melhor marcador da faculdade de Direito em Lisboa.

A sério?

A sério, a sério, em 1970 e 1971. E tinha um interesse genuíno pelo futebol, comprava sempre as France Football.

Boa boa, então Blanker em Guimarães?

Era suplente no Ajax, como lhe disse. Acho que era suplente do Johnny Bosman. Estava descontente, claro. Queria jogar. E, ainda por cima, uma tia dele morava no Porto, ali na Foz.

Bem, g’anda coincidência.

É mesmo, Rui. Ele queria sair e resolvemos facilmente o negócio em Amesterdão, por 200 contos, acho.

Resolvemos, o Pimenta foi lá?

De carro.

Chiça. E o Blanker vivia em Guimarães?

Ele e os pais, que vieram com ele. Só esteve um ano e foi vendido para o Saragoça.

E mais e mais jogadores?

Olhe o Damas, fomos buscá-lo ao Racing.

Também foi a Santander?

Claaaaro, encontrei-me com o Damas num grande restaurante em Santander. Ele queria vir e isso desbloqueou a transferência. Quem me ajudou, há cada coincidência, quem me ajudou foi um diretor do Braga chamado Fernando Freitas, com quem me encontrava regularmente num bar. Num dia, estava lá o Chico Faria, que tinha jogado com o Damas no Sporting. Ele passou-me o telefone, liguei-lhe, acertámos a viagem, fui de carro lá para cima em Santander e resolveu-se tudo. Depois também fomos buscar o Alfredo Murça ao FC Porto e começámos a trepar por aí acima.

Esse ano de 1980 é o do autogolo do Manaca, certo? [o Sporting ganha 1:0 em Guimarães a uma jornada do fim, com um golo do ex-sportinguista na própria baliza, e impede o tri do FC Porto]

Certíssimo. Lembro-me bem, o João Rocha até lhe deu uma fábrica de meias perto de Santarém pelo autogolo e disse ao Manaca que nunca mais jogaria pelo Vitória.

Pelo autogolo?

Claaaaro. Também joguei futebol, como lhe disse, e ele fez uma rotação inapropriada com a cabeça. [e faz os gestos] Em vez de fazer assim, fez assim. Mas, enfim, isso não interessa nada. Não se pode provar nada.

Adiante, o Pedroto fica quanto tempo em Guimarães?

Dois anos. Depois volta para o FC Porto. Uma noite, estou a jantar com o Jorge Nuno num restaurante nas Antas e ele diz-me ‘você vai ficar sem o treinador’. Era a altura em que o Américo de Sá sai e o Jorge Nuno ganha as primeiras eleições.

E agora?

O Jorge Nuno diz isso do Pedroto, mas depois solta ‘mas deixo-lhe ficar o António Morais [adjunto]’. E a verdade é que o Morais lutou pelo título de campeão.

Lutou?

Estávamos a ganhar 1:0 na Luz quando houve um penálti fora da área. Aquilo foi um escândalo, uma roubalheira. O gajo dos árbitros da FIFA estava no camarote e foi-se embora, deu muito nas vistas.

Não me lembro.

Não se lembra? Então e esse arquivo na cabeça? Ou é memória seletiva? Hmmmmmmm.

Olha agora, queres ver?

Ahahahah.

Quem era o árbitro?

José Guedes, do Porto. Era para ser promovido e tal, mas nunca mais foi.

E depois?

O Morais morreu num estúpido acidente de automóvel e trago o Marinho [Peres].

De onde?

Guarani.

Como?

Veio através de um empresário chamado Ronaldo Nunes. Ele indicou-me uns quantos jogadores, como Roldão e Ademir.

E que tal o Marinho?

Boa impressão do princípio ao fim. O Marinho foi o gajo que tinha sido treinado por Rinus Michels do 3-5-2 e pressão alta. O Vitória acabou em terceiro lugar e fomos roubados em Elvas pelo Santos Ruivo. E, pronto, lá foi o Benfica campeão outra vez. Atenção, sou benfiquista desde pequeno. Ia ver o Eusébio, o Coluna e o Simões, que tem sido tão maltratado pela sua gente do Benfica, à Luz de 15 em 15 dias e cheguei a ir ao estrangeiro para ver jogos europeus.

Como por exemplo?

Amesterdão, fui de carro, num Mercedes 190 preto, com o Miguel Magalhães, futuro presidente do Conselho Fiscal do Benfica, e o irmão dele, agora dentista. Ganhámos dinheiro no casino do Estoril e decidimos ir à Holanda na hora. Quando o Benfica ganha 3:1 debaixo de neve. Depois, na segunda mão, o Ajax devolve na mesma moeda, com o Cruijff a abrir o livro, ele deu cabo daquilo, e eu estava lá no Terceiro Anel. Depois foi o jogo de desempate em Paris, 3:0 para o Ajax, após prolongamento. Mas a pior de todas do Benfica foi a final da Taça dos Campeões 1968, em Wembley, 4:1 para o Manchester United, também após prolongamento.

Foi ver esse?

Não, não.

Só ia ver quando havia dinheiro?

Ora aí está, ahahahah. Esse Benfica é o grande Benfica. Esse e o do início da década 60, com Costa Pereira, Mário João, Cruz, Germano, Ângelo, Cavém, Neto, José Augusto, Coluna, Cavém e Santana. Ainda me lembro do ambiente frenético pela estreia do Eusébio, três golos ao Atlético e encostou o Santana. E também me lembro bem do Cavém, que jogava em qualquer posição, de extremo vs. Barcelona na final europeia de 1961 até lateral na outra final, vs. Inter, em 1965. Só que a realidade do nosso futebol daquele tempo dos anos 80 era essa: o Benfica era campeão.

E qual era a realidade do Vitória?

Em Guimarães, as obras avançavam para a cidade desportiva e isso foi muito importante para tanto FIFA como UEFA olharem para o Vitória com outros olhos. Por isso mesmo, o estádio do Vitória foi um dos eleitos para o Mundial sub20 em 1991 e, depois, para o Euro-2004. Veja lá bem ó Rui, Guimarães foi a única cidade sem ser capital de distrito comparticipada pela FIFA no Mundial sub20. Quem ficou danado comigo foi o Cintra, ahahahah. Tinha boas relações com o Havelange [presidente da FIFA] e, em abono da verdade, contei com a ajuda de políticos ilustres como Mirandela Costa e o Coronel Oliveira Santos.

A tal cidade desportiva nasce em?

O complexo começou a construir-se em 1990 e foi inaugurado em 1997 pelo Jorge Sampaio. A sede tinha sete andares e esta malta de Porto, Benfica [aponta para Capristano] e Sporting iam ver aquilo para absorver conhecimento. Digo eu.

E como é que o Pimenta viu essa cidade desportiva?

Foi uma aposta pessoal, como lhe disse no início desta conversa. O futebol em si está viciado, ganham sempre os mesmos. Por isso, mais valia fazer infraestruturas para beneficiar o crescimento do clube.

E o Pimenta absorveu conhecimento em algum lado?

Milanello e Toca da Raposa.

Uauuu.

Fui lá pessoalmente, vi aquilo e tirei indicações preciosas. Em Milão, o Galliani foi receber-me ao aeroporto e o Berlusconi foi simpatiquíssimo. Abriram-me as portas a tudo e mais alguma coisa, foi bar aberto. Em Belo Horizonte, as condições também eram exemplares à exceção da residencial para os jogadores, que não era nada de jeito.

Isso de Guimarães ser cidade-sede do Mundial sub20 caiu que nem uma luva, porque o Vitória foi campeão nacional de juniores nesse ano de 1991.

É verdade, é verdade. Ganhámos a final ao Sporting do Figo e Peixe.

Onde?

Mira D’Aire, estava lá no estádio e vibrei com o desempate por penáltis. Uns anos depois, 1996 se não me engano, também fomos campeões nacional de iniciados. E a final foi com o Benfica, acho. O Rui que veja isso, acho que foi Benfica [correcto i afirmativo, 1:0 por Kipulu].

E nos seniores?

O tal terceiro lugar com o Marinho mais Autuori a adjunto, quatro presenças seguidas na Europa, eliminámos Parma e Atlético Madrid.

Quem era o presidente do Atlético, Gil y Gil?

Ainda não, era o Vicente Calderón.

Espectáculo.

Coitado do senhor, já tinha um cancro na garganta. Não foi ver o jogo, mas foi ao jantar das direcções e esse gesto sensibilizou-me.

[entra José Manuel Capristano no restaurante e senta-se ali perto; cumprimenta Pimenta e trocam galhardetes, é só rir]

Estávamos a falar da eliminatória europeia com o Atlético.

O Jesus fez defesas brutais, transcendeu-se.

Até defendeu um penálti.

Verdade, verdade. E só sofremos o golo nos descontos. Também nessa época apanhámos o Sparta e fomos massacrados em Praga, aquilo era a selecção da Checoslováquia e levámos quatro bolas na trave. Cá, ganhámos 2:1. Se não me engano, um contra-ataque do Roldão e um de calcanhar do Paulinho Cascavel.

Roldão e Cascavel, brasileiros bom de bola.

Também houve portugueses bons, como Adão, Costa e Bobó.

E o Isima, nigeriano?

Outro.

Contam-me que andava nu em Guimarães durante a noite.

Ahahahahah. Sei lá. Não era grande profissional, mas era um leão. Há um jogo inesquecível, 4:3 vs. Salgueiros no meio do temporal. O gajo passou por cima deles todos [2:3 ao intervalo, Isima faz o empate, Paulo Ricardo fixa o 4:3].

E os zairenses?

Uyyyyyyy, o N’Dinga era para ir para estes [e volta a apontar para Capristano, tranquilo da vida e a ler o jornal]. Os gajos [zairenses] aterram em Lisboa com o Valter Ferreira [empresário] e hospedam-se num hotel em Sete Rios, agora é o Corintia. Eu, por acaso, entrei lá para passar a noite e tropeço sem querer no Valter Ferreira, sentado no bar da entrada. Falamos e tal, o Valter diz maravilhas dos três jogadores.

Quais?

O Basaúla e o N’Kama iam para o Nice, o N’Dinga ia para o Benfica. Fala-me deles muito e bem. E diz isto ‘o Vitória não tem pedalada para eles.’ Eu mantive a postura e disse-lhe ‘ai é? mas você só traz barretes.’ O Valter, claro, empertigou-se. E eu fiz uma espécie de aposta: ‘fazemos o seguinte: dou-lhe sete mil contos pelos jogadores e agora vamos para Guimarães.’

Qual foi a resposta do Valter?

Foi chamar os três jogadores aos quartos e lá fomos para Guimarães no meu Mercedes.

Naquele momento?

Naquele momento, fomos de noite, cinco pessoas no Mercedes.

E no dia seguinte?

Foram treinar os três às ordens do António Morais.

E?

O veredicto foi que nenhum deles tinha físico para aguentar o nosso futebol, mas que o N’Dinga era uma pérola e que o N’Kama era o novo Mendes, conhecido como pé canhão nos anos 60 e 70. Uma vez, e dessa lembro-me eu, o Mendes rematou um livre tão forte que o Rosas, guarda-redes do Leixões, entrou pela baliza dentro.

A última palavra era de quem?

Minha e tive dúvidas sobre o negócio, vou ser sincero, mas o Morais disse-me para segurar o N’Dinga. Então paguei sete mil contos ao Valter pelos três, era esse o negócio inicial. Queria pagar em prestações, o Valter queria a pronto e fiz-lhe a vontade. Arrisquei. E a verdade é que o N’Dinga foi considerado o sétimo melhor médio direito da Europa pelo France Football e, depois, chegou a capitão do Vitória.

E os outros?

O Basaúla era brinca na areia, o N’Kama provou tudo com aquelas pedradas nos livres directos. Todos os três eram gente boa, tranquila.

Por falar em livres directos, o famoso Heitor entra em Portugal pela porta do Vitória. Quem o alertou para esse pé canhão?

O tal Rolando Nunes. Só que o Heitor tem uma mancha no currículo, porque marcou dois autogolos numa eliminatória europeia com o Borussia M’Gladbach. Ficou marcado.

E quem foi o seu substituto?

José Carlos. Ele ficou mal visto por um jogo do Benfica em Barcelona para a Liga dos Campeões, culpa do Stoitchkov e tal. Aproveitei e, pumba, fui buscá-lo. A ele e ao Neno, que ia assinar pelo Sporting e, à última hora, assinou pelo Vitória.

Neno, que personagem.

Ninguém estava triste ao lado dele.

«No casamento do Ziad estava a malta toda do governo da Tunísia»

O Pimenta também foi buscar o Ziad. Como?

Mais uma história com o Valter Ferreira. Aparece-me na sede velha do Vitória a dizer-me que tem um avançado metade Van Basten e metade outro craque qualquer que agora não me lembro. Chama-se Ziad. E eu ’então traga-o’. E ele ‘Ah, mas tem de pagar’. Muito bem, quanto? 50 mil contos. Ó Valter, até pode trazer o Van Basten, não tenho a mínima hipótese por esse dinheiro. Tire um zero, fica em cinco mil contos. E o Valter ficou de ir falar com o pai do Ziad.

A resposta chega quantos dias depois?

Dois dias depois, o Valter liga-me de Lisboa a dizer-me que o pai do Ziad vai negociar comigo em Guimarães. Atenção, o pai do Ziad era um gajo ligado ao governo da Tunísia. Quando fui convidado para o casamento do Ziad, estava lá a malta toda do governo.

E que tal a negociação?

O pai do Ziad foi muito claro: vocês não podem dar 50 e eu não quero menos de 30. Ficou mesmo ali nos 30 mil contos. O Ziad veio e marcou muitos golos numa equipa com Pedro Barbosa, Dimas, Paulo Bento e ainda o maluco do Alexandre, um central do Cruzeiro que acabou mal.

Então?

O Alexandre era fascinante, um central do melhor que há. Só que o Jaime Pacheco não o metia, pura e simplesmente. Um dia, fomos a Setúbal e apanhámos 3:0. Disse-lhe ‘ó Jaime, por amor de Deus, dê uma oportunidade a este gajo.’ O jogo seguinte era com o Parma, para a Taça UEFA. O Alexandre, que só tinha 21 anos, estreou-se e foi o melhor em campo a secar o Chiesa. Fiz uma coisa inédita.

Conte.

Fui ao balneário dar os parabéns ao Alexandre. A partir daí, o Alexandre jogou sempre. Só que era um doido. Às tantas, o Betis quis contratá-lo e foi a única vez que disse não, não, não e não. Veja bem, o Lopera, presidente do Betis, até foi a Itália, onde estava eu a passar férias numas termas em Montecatini. Ele foi acompanhado pelo empresário do Alexandre, um tal Adelson Duarte, e eu nem assim mudei o meu não. Quiseram pagar 500 e tal mil contos, qualquer coisa como três milhões de dólares e eu não, não e não. Foi o meu maior erro. O Alexandre ficou tão chateado que só me criou problemas e acabou por ser emprestado ao Palmeiras. Foi à selecção brasileira e o Palmeiras contratou-o por 200 mil contos. Foi o único negócio em que perdi dinheiro.

E o Ademir Alcântara?

Que jogador de categoria, era dez clássico, tinha a classe de um Rui Costa, de um Aimar. É verdade que ele era para assinar pelo FC Porto, só que foi para o Benfica. Agora nada disso teve a ver comigo. O FC Porto falou primeiro, sim, o Benfica, através de Adriano Afonso e Gaspar Ramos, foi atrás do Ademir e encontrou-se com ele em Viana do Castelo, onde estávamos a estagiar. O Ademir disse-me então que os do Benfica eram pessoas simpáticas e escolheu o seu futuro.

E o Pimenta?

É verdade, criei expectativa para o Ademir assinar pelo FC Porto ainda antes do Benfica falar com o jogador em Viana do Castelo. Um dia até estava no Porto Cale com o comendador Gomes, um homem muito portista e que se dedicava muito ao contrabando do bacalhau, e o Pôncio Monteiro, um gajo porreiro, quando o comendador disse que ‘o Ademir é meu’. Eu reagi logo, ‘é seu? Isto é bacalhau? O tempo da escravatura já acabou há muito.’ Agora digo-lhe ó Rui, o Ademir devia ter ido para o FC Porto, a sua maneira de jogar encaixava-se melhor. Quem rendeu bem no Benfica foi o William, aquele central. Vendi-o no tempo do Jorge de Brito, esse é que era um benfiquista a sério que metia dinheiro do seu bolso. Meteu muita massa, 700 mil contos. Não tinha era perfil para presidente.

E o Raymond Goethals a treinador?

Foi uma loucura minha, hoje não fazia isso. O Goethals estava suspenso e não podia treinar, o Vitória tinha vindo de um campeonato mau com o Stessl e resolvi apostar num gajo com nome internacional. Arranjou-se o expediente de o Goethals ser delegado e o treinador ser o Manuel Machado.

Mas como chegou a ele?

Foi um empresário cujo nome não me lembro. Sei que me telefonou a indicar o Goethals, o nosso encontro foi no Ritz e chegámos a um entendimento. O Goethals vivia no Hotel Fundador – na altura, só havia dois hotéis, o Fundador e o Guimarães, que ainda estava em obras. Só esteve um ano e não resultou, muito embora o Manuel Machado tenha dito sempre que aprendeu imenso com ele.

Atiro outro nome para a mesa: Paulinho Cascavel.

Quem o indicou ao FC Porto fui eu, numa das minhas visitas ao Brasil. Falei com o Jorge Nuno e disse-lhe para ir buscá-lo porque era um avançado extraordinário.

E o FC Porto, mexeu-se?

Hesitou, porque tinha o Gomes e ele não se aleijava nunca. Mas depois foi mesmo buscá-lo. Só que o FC Porto jogava com um só avançado e o Gomes não dava hipótese a ninguém, nem na Europa. Por isso, aproveitei o interesse do FC Porto pelo guarda-redes Best e levei o Paulinho.

Grandes épocas em Guimarães, e depois no Sporting.

Foi o jogador que mais me custou vender, 75 mil contos. O Nice estava interessado no Paulinho, só que a pressão do Sporting, através do Dias Ferreira e Amado de Freitas, fez a diferença. Só fiz o negócio para fechar o complexo desportivo. À uma da manhã, o Dias Ferreira liga-me para casa a dizer que o negócio entre o Paulinho e o Sporting está fechado. Falei então com o Paulinho e fez-se o contrato. O pagamento seria feito por letras. Só que essa direcção do Amado de Freitas saiu, entrou a do Jorge Gonçalves e o Sporting demorou a pagar. Seja como for, o Paulinho ainda hoje é um ídolo em Guimarães e, coincidência das coincidências, voltou a cruzar-se com o Gomes, já no Sporting. O Paulinho é como o Edmur [primeiro brasileiro a sagrar-se melhor marcador da 1.ª divisão, e pelo Vitória].

Alguma vez viu o Edmur?

Na Amorosa, tinha nove anos de idade. Ele, o Carlos Alberto, o Caiçara.

E o pai do Manuel Machado?

O pai do Manuel Machado?

Sim, foi guarda-redes do Vitória e, certo dia, defendeu dois penáltis do FC Porto no mesmo jogo.

Guarda-redes? Isso é um furo desgraçado que me está a dar, que falhanço. Havia um Machado na baliza do Vitória, de facto. Isso é um falhanço meu desgraçado. Olhe, o Manuel Machado até era do andebol e fui eu quem o puxou para o futebol.

Já que falamos de treinadores, quem foi o melhor na sua era no Vitória?

A nível psicológico, Pedroto: seja a interagir com o grupo de jogadores, seja mediático no passar a mensagem através da imprensa.

E mais treinadores?

Jaime Pacheco. Estávamos em 10.º com o Vítor Oliveira e vamos buscar o Jaime Pacheco. O Jaime era o treinador do Lamas e foi jogar às Antas para a Taça de Portugal. Estava 0:0 a um minuto do fim, o FC Porto faz 1:0 aos 90' e fiz a viagem de carro Lisboa-Guimarães a ouvir o relato. Como tinha boa relação com o João Freitas, d'A Bola, pedi-lhe para marcar um encontro com o Jaime Pacheco e lá nos encontrámos no campo de treinos em obras do FC Porto, ahahahah.

Ahahahahah.

Eu no meu carro, eles num outro carro. Contei-lhe a história do relato e o Jaime respondeu ‘e eles foram apurados porque falhámos um penálti’. Falei-lhe então do meu interesse imediato e perguntei-lhe quanto queria ganhar. A resposta dele desarmou-me, o ‘que você quiser dar’.

Quanto?

450 contos. Foi tudo rápido e o Jaime apareceu no seu Porsche em Guimarães às nove da manhã do dia seguinte para a apresentação. Na estreia, 1:0 ao Farense em Faro com golo do Dane no último minuto.

Belo jogador.

Grande jogador, estava era sempre lesionado. Esse Vitória foi sempre a ganhar e, se não me engano, foi a equipa com mais pontos na segunda volta.

Sim senhor, é verdade.

Veja bem ó Rui, por sorte estava a ouvir o relato na rádio.

«Tinha uma adoração enorme pelo Pedro Barbosa»

Quem eliminou a Real Sociedad, o Jaime ou o Quinito?

Boa pergunta. Não sei, só sei que o Quinito estava sempre disponível para fazer as malas e estar em Guimarães connosco.

E o Pedro Barbosa?

Tinha uma adoração enorme por ele. Fui buscá-lo ao Freamunde por cinco mil contos. Outro engraçado foi o Abel [Ferreira]. Fui buscá-lo ao Penafiel, onde morava um presidente chamado António Gomes que negociava em pneus. Fez o negócio do Abel por 20 mil contos, paguei em quatro prestações. O Abel fez coisas boas. Quando saí do Vitória, ele disse-me ‘se você sai, eu saio’. E saiu mesmo, e para o Braga. Acabava o contrato, saiu a custo zero. Depois foi para o Sporting e agora é o que é, bicampeão mundial sul-americano.

E a conquista da Supertaça portuguesa?

Grande momento, ó Rui. Ganhámos 2:0 em Guimarães, golos de Chiquinho e Décio António, será?

Décio António, que memórias boas.

Fui buscá-lo ao Criciúma. Na segunda mão da Supertaça, o Neno fez uma exibição memorável e empatámos 0:0. Levantámos a taça nas Antas.

[Pimenta e Capristano falam entre si e, de repente, a conversa muda de flanco]

Estávamos a falar de outros tempos.

Quais?

Ó, Fernando Martins e tal. Ele fez as obras todas. E o Vieira fez o Seixal. Mas quem comprou e fez o negócio dos terrenos do Seixal foi o Vale e Azevedo, há mérito nisso. Agora quem desenvolveu o projecto foi o Vieira. Já o novo estádio foi o Mário Dias. Dava-me bem com ele, era do tempo do Vilarinho. Ahahahah.

Então?

Gostava muito do Vilarinho. [vira-se para trás e cá vai disto] Este que está aqui é do tempo do Vale e Azevedo ahahahahah. Lembra-se daquela história do ‘vou participar de si à Judiciária?’

[Capristano abana a cabeça]

Este e o juiz Cândido Gouveia estavam lá, a propósito do Meira. Então o homem [Vale e Azevedo] mandou-me letras falsas e em inglês para me impressionar.

[Pimenta vira-se ainda mais para Capristano e riem-se]

Esse Vale e Azevedo teve a lata de me chamar ao escritório, um escritoooooorio enorme para impressionar. Esperei 10/15 minutos e disse à secretária para avisar o presidente de outros compromissos. Bom, lá me chamou e fechámos o Meira por 900 e tal mil contos. Deu-me uma letra de 500 mil e disse-me: ‘isto é de um fundo meu porque o Benfica não tem dinheiro, assine aí’. E eu, já de pé atrás, ‘assinar agora? Primeiro vamos ver se a letra é verdadeira.’ E o Vale deu-me um contacto do BCP chamado Jorge Godinho, gerente do balcão na Avenida de Roma. Desci e liguei na primeira cabine telefónica que apanhei na rua. Atende-me o Jorge Godinho e disse-lhe ao que ia. Ele só me diz isto ‘esse dinheiro não existe aqui, o senhor Vale e Azevedo pode dizer o que quiser, esse dinheiro não existe.’

Uiiiii, e agora?

Subi de novo para o escritório e a secretária disse-me que o doutor tinha saído, que estaria de volta às três. Muito bem, às três lá estava eu à sua espera. Qual quê, nunca mais voltou. No dia seguinte aparece Meira no Benfica por três épocas, na manchete do Record.

Uiiiiii, outra vez.

Deve ser o tratador de relva mais caro da história, porque como jogador não vai para o Benfica. O assunto arrastou-se, foi para a comissão paritária e a gente [do Vitória] lá conseguiu ganhar por 5 votos a 4. Ou 4 a 3. Tive de me mexer, de contactar alguma malta, porque o gajo de Setúbal era do Benfica, o outro também era do Benfica.

Meira no Vitória, então. Nada de Benfica?

O Vale e Azevedo liga-me para almoçar no Ritz com um elemento de um fundo do Manchester United. Confrontei-o finalmente com o Jorge Godinho, marquei uma reunião com 14 pessoas e a situação só se resolveu com o José Couceiro, presidente do Sindicato dos Jogadores.

E o Meira?

Lá assinámos o contrato na minha casa em Lisboa, ali na Júlio Dinis. Ó Rui, tenho de ir embora.

Também eu.

Então cada um vai à sua vida. Foi um prazer. Vai para onde?

Para a RTP, vou gravar o programa.

Ah, então apanha aqui o metro em Roma, muda na Alameda e pára em Chelas.

Isso mesmo, muito obrigado.

De metro entendo eu.

[Chego a casa, teclo ao Pedro Jorge Cunha (esse mesmo, o homem que seguramente edita esta entrevista e cola-a no site do zerozero) e a única reacção é ‘o que hoje é verdade, amanhã é mentira'. Ó caraças, tanto parlapié e não falei disso ao Pimenta. Vale mais um almoço? Vamos a isso, novamente no Dom Feijão, agora em Novembro. O tema é o Benfica actual e vejo ali uma oportunidade de puxar o filme atrás.]

«Cortámos relações com o Benfica e fomos para Tribunal»

Quem foi o primeiro presidente do Benfica que conheceu?

O Ferreira Queimado. Depois Fernando Martins, João Santos, Jorge de Brito e Damásio. Foi mau, um dos piores da história do Benfica.

Ai sim?

Houve um negócio da dupla Paulo Bento / Dimas para o Benfica, a troco de 430 mil contos. Dois meses depois, recebemos um faxe do Benfica a dizer que não ia pagar nada porque o Paulo Bento não tinha vindo em condições. Não tinha ido, ora essa. Então fez testes médicos, superou-os e depois ainda fez a pré-época? Bem, cortámos relações com o Benfica e avançámos para o tribunal.

E?

Ó, a morosidade dos tribunais.

E depois?

Às tantas, recebo um telefonema do Pinto da Costa a perguntar-me se queria receber o dinheiro. Claro que sim, queria. Porque que sim, era o justo, e porque o Vitória vivia desse dinheiro das transferências.

Qual era o plano?

Subir o Damásio a presidente da Liga.

Não me lembro nada disso.

Mas foi, foi. E, claro, se quisesse ser presidente, tinha de se dar bem com todos, Vitória incluído.

E deu?

Pagou a dívida, e ainda pediu para fazer um desconto.

E o Vitória?

Tirámos dez mil contos, pronto.

Quando falei a um grande amigo meu sobre o outro almoço com o Pimenta, ele só me disse ‘o que hoje é verdade, amanhã é mentira’.

Ahahahahah. O que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira. Pode ser, e não é mentira.

A que propósito?

René Simões. O Marinho estava de saída do Vitória e indicou-me o René como treinador de futuro.

E o Pimenta?

Fui atrás dele e contratei-o, o homem estava a treinar a selecção olímpica do Brasil naquele momento. O René era estudioso na matéria e um cavalheiro no trato. Só que aquilo descarrilou bem cedo. Os resultados, digo. Perdemos muitos pontos em casa. E, uma vez, mandei-o estar na velha sede do Vitória às 10 horas de segunda-feira, após mais um resultado sem expressão. Ora bem, nesse dia, acordo com a notícia d’A Bola da saída do René. Chicotada psicológica, taaaau. O René chegou à reunião já pior que estragado, muito irritado com a notícia. E eu ‘espere lá, mas quem é que decide: os jornais ou eu? Desculpe lá, estamos a passar por horas difíceis e chamei-o para dar alento nos próximos dias, a gente vai ficar mais próximas, vamos assistir juntos aos treinos.’ Assim foi.

E o René?

Saiu da reunião com um suplemento de alma. Os jornalistas engoliram, porque o René manteve-se. No jogo seguinte, aquilo continuou a correr mal. E aí disse ao René que não tinha hipótese de continuar. Quando souberam, os jornalistas questionaram-me logo sobre o sim ao René na segunda-feira e o não no fim-de-semana seguinte. Saiu-me então ‘o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira’. Nunca me passou pela cabeça que isso se se perpetuasse, até há políticos na Assembleia da República a mencionar dessa frase para explicar um momento ou outro.

Nunca mais viu o René Simões?

Nunca mais, sei que voltou à selecção brasileira, aos olímpicos ou subqualquer coisa.

Deixe ver no zerozero. Tem 70 anos e, sim, voltou aos sub20 e sub17 do Brasil.

E outro brasileiro foi o Geninho. Chegou a ser campeão brasileiro.

Pois foi, no Athletico Paranaense em 2001, estou a ver aqui.

E ganhou a supertaça portuguesa, nas Antas.

Ahhhhhhhh, pois é, Geninho.

Geninho era outro senhor, com nível e educado.

Como é que chegou ao Geninho?

Foi o meu delegado Mesquita no Brasil.

Delegado?

Olheiro. Criei uma equipa de olheiros portugueses no Brasil, pagava-lhes as deslocações e dava-lhes um fee pelas transferências dos jogadores. Um dos que foi contratado como jogador e depois se tornou olheiro foi o Nivaldo, lateral-esquerdo, depois jogou no Benfica e no Portimonense.

Claro, claro, muito alto.

Esse mesmo. Boa gente. Quem o trouxe foi um primo meu em segundo grau, que já levara Edmur e Carlos Alberto para Guimarães nos anos 60.

Muito bem. E onde se estendia a rede do Vitória no Brasil, já agora?

Lá em baixo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Depois, no centro, São Paulo e Rio de Janeiro. E ainda lá em cima, no Recife. Apanhámos belos jogadores, como Cascavel e Chiquinho Carlos. Quando cheguei a Portugal, disse aos presidentes de FC Porto e Benfica ‘não sou empresário, mas devem ir atrás deles.’ E foram, ouviram-me e contrataram-nos. O Paulinho só não deu por culpa do Gomes, mas o Chiquinho marcou muitos golos no Benfica.

E montou outra rede?

Tentei em África, com o N’Dinga. Mas não deu certo, ele não tinha cabeça e, depois, foi viver para o Canadá, onde ainda continua.

E levou o carimbo?

Ahahahah. Isso foi uma caldeirada do [António] Oliveira, quis mostrar-se. Adiante, foi a primeira vez que a Académica perdeu uma acção nos tribunais desportivos.

Porquê?

A Académica tinha os advogados mais bem preparados, naturalmente. Eram de Coimbra.

Já falámos muito de jogadores contratados. E os não contratados, teve algum jogador mais especial que outro.

Vários.

Quem?

Um foi o Romário.

O Romário, como?

O Romário não era nada em 1983 e 1984. Nada de projecção internacional, atenção. Era novíssimo e ainda jogava nas camadas jovens da selecção brasileira. Vivia na Barra da Tijuca, num apartamento perto do do João Havelange, presidente da FIFA. O Havelange vivia à frente do mar, o Romário vivia nas costas, já no interior do bairro. E eu, às vezes, nas minhas 47 idas ao Brasil como presidente do Vitória, 47, quarenta-e-sete, ficava no aparthotel do Ronaldo Nunes. Um dia, cruzámo-nos no bairro com o Romário e o Ronaldo disse-me ‘este jogador vai dar’. Só que custava 150 mil dólares, o Vitória tinha lá dinheiro para isso.

Mais?

[Pimenta medita] Quer outro? Olhe, tome lá este, cujo nome não sei bem, estou a tentar apanhá-lo. Um dos nossos olheiros brasileiros falou ao Bernardino Pedroto sobre um jogador especial e ele apareceu em Guimarães para treinar em Junho. Eu não estava em Guimarães, tinha ido a Boston, nos EUA, para acompanhar a minha mulher, que estava a lidar com um cancro. O jogador fez o estágio lá e o Pedroto escreveu o relatório a dizer que o jogador não interessava para a posição do Dane, que estava de saída com uma série de lesões. Qual não foi o meu espanto quando vi esse mesmo jogador recusado pelo Pedroto a jogar no Barcelona daí a dois meses, em Agosto.

No Barcelona?

No Barcelona, a jogar e a marcar. Um goleador bestial, veja lá se se lembra.

Sonny Anderson?

Não.

Geovani?

Geovani, Geovani [entusiasmado, o Pimenta]. Isso mesmo. Foi jogar para o Barcelona, depois de treinar uma semana no Vitória. Não só o Bernardino fez o relatório a dizer aquilo como o treinador também disse que não. Ai ai. Claro, o Pedroto nunca mais entrou no Vitória.

Está a brincar.

A sério, estou a falar muito a sério. Isso são coisas muito sérias, o Vitória perdeu larguíssimo dinheiro com essa não transferência. Outro [jogador] que perdi.

Diga.

Mas aqui questões de dinheiro, senão nunca teria ido para o Sporting. Era um miúdo do Real Massamá.

Nani?

Nani [dá um murro na mesa como quem diz ‘está certooooo’]. O tio do Paulo Bento falou-me do Nani e fui atrás dele no Real Massamá. Só que os gajos pediram-me mil e 500 contos ou três mil contos, já não me lembro. Não tinha dinheiro. Outro jogador, mais um.

Mais um, espectáculo.

Um avançado chamado Baltazar, que foi para o Atlético Madrid e sagrou-se melhor marcador da Liga espanhola. Ainda tentei, antes de ele ir para Madrid, mas não deu. Mas essa do Romário é que era. Se houvesse dinheiro. Ele ainda não era ninguém, mas todos falavam dele no Brasil. A qualquer lado que fosse almoçar ou jantar, encontrava sempre alguém a falar dele. Deu no que deu, olhe.

Agora é que é, muito obrigado e até à próxima.

Veja lá a sua vida e almoce comigo outra vez. É a única pessoa com quem fala só de futebol comigo, venha aqui num outro dia.

Portugal
Pimenta Machado
NomeAntónio Pimenta Machado
Nascimento/Idade1950-04-12(74 anos)
Nacionalidade
Portugal
Portugal
FunçãoPresidente

Comentários

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motivo:
Pimenta
2023-11-11 21h10m por moumu
Boas épocas fez o VSC (na altura grande concorrente do BFC) e também boas campanhas na taça uefa até chegou a eliminar a lazio.
PI
Pimenta
2023-11-11 18h31m por Pinho352
Um dos presidentes mais icónicos da história do futebol português, muito frontal e sem medo de enfrentar os leões. Já conhecia essa história do Giovanni que vinha do Santos, onde era um goleador e acabou no Barça depois de ser recusado pelo Vitória.
Só mesmo em Portugal se perderam talentos do Brasil como Ronaldo, Romário, Giovanni ou Ronaldinho, entre outros, apenas por teimosia de certos dirigentes ou treinadores.
Bela entrevista
2023-11-11 09h48m por siza_banza
Sempre bom saber as histórias e relacionamentos destas figuras históricas do futebol português. É cada pérola, Romário no Vitória!
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