Em Bruges fala-se da «maldição das contratações milionárias». Bastam dois dedos de conversa com jornalistas belgas, habilitados a analisar o oponente do FC Porto nesta quarta-feira de Liga dos Campeões, para se perceber que o tema é melindroso.
Os nomes e os milhões saltam para cima da mesa. Kaveh Razai (cinco milhões), David Okereke (oito milhões), Michael Krmencik (sete milhões), Kamal Sowah (nove milhões), todos adquiridos pelo Club Brugge e todos rotulados de «flops» a dada altura.
E Roman Yaremchuk, cuja mudança do Benfica para a Bélgica implicou um investimento de 16 milhões de euros? – podem chegar aos 19.
«Ele tem sido um fantasma e tem de combater essa maldição que toma conta dos jogadores mais caros. Um fantasma amaldiçoado», explica Bart Lagae, editor do De Standaard e observador habitual do Club Brugge, ao zerozero.
É importante lembrar que Yaremchuk tem uma história na Bélgica. Antes de brilhar no Europeu de 2020 e convencer o Benfica a avançar para a contratação, o ucraniano deixara um rasto de destruição nas balizas contrárias: 61 golos em quatro épocas no Gent.«Quando o Club Brugge o comprou no final de agosto, as pessoas ficaram surpreendidas e agradadas. Ele deixou boa imagem no país e a mudança para o Benfica foi merecida», recorda o jornalista belga, ao analisar o talvez-não-tão-surpreendente pobre rendimento do atacante nesta fase inicial de 2022/23.
«Quando o vi no Gent, no início, ele não me parecia um ponta-de-lança, não me parecia um extremo e não me parecia um número dez. O Roman não fez muitos golos inicialmente, mas explodiu na última época», contextualiza, rendido ao «excelente goleador» que se foi construindo em Gent, não muito longe de Bruges.
«É por isso que agora se esperavam muitos golos dele. Mas o Yaremchuk tem um grande problema: um jovem avançado espanhol chamado Ferran Jutglà. O Ferran teve impacto imediato, está a fazer golos e o treinador Carl Hoefkens não o pode tirar da equipa.»
«Não há espaço para o Roman Yaremchuk na equipa ideal do Club Brugge», resume Bart Lagae.
Homem de poucas palavras, Yaremchuk tem-se mantido afastado dos Media e das declarações públicas. Quem acompanha diariamente o Club Brugge sabe, porém, que o ucraniano anda «infeliz com a condição» dentro da equipa.
«O Club Brugge pagou muitos milhões por ele e o Yaremchuk não entende porque não joga», prossegue Bart Lagae, experimentado repórter e analista belga. «De acordo com algumas fontes nossas, ele está até a ter problemas mentais por culpa deste insucesso – que se segue a um período de angústia e dor provocados pela guerra na Ucrânia.»
«Esta é uma das diferenças entre o Club Brugge e os outros grandes da Bélgica, como o Anderlecht, o Gent, o Genk ou o Antuérpia», enquadra Bart Lagae, para quem esta autonomia financeira do Club Brugge é um fator de «saudável independência».
«Especialmente em Bruges, a posição de ponta-de-lança parece mesmo amaldiçoada. Quando o Yaremchuk teve finalmente a oportunidade de jogar contra o Westerlo, a 8 de outubro, falhou rotundamente. E os jornais voltaram a puxar por esse lado esotérico da maldição. Objetivamente, ele pareceu-me aquele avançado sem confiança que vi nos primeiros tempos em Gent.»
As próximas semanas serão importantes para Yaremchuk. A começar já, presumivelmente, contra o FC Porto. Com o Club Brugge já qualificado, é mais do que provável a gestão de algumas pelas e o ucraniano poderá ser titular.
«O treinador tentou dar-lhe confiança e colocou-o contra o Sint-Truiden de início [19 de outubro]. Foi a melhor exibição do Yaremchuk desde que voltou e até marcou pela segunda vez esta época. Como o calendário é apertado, acredito que ele poderá ter minutos com regularidade.»
Bart Lagae não desconfia da qualidade do atacante, mas sim dos «fantasmas com que anda na cabeça».
Os golos e o tempo de jogo são os ghostbusters desta história em Bruges.
0-4 | ||
Mehdi Taremi 33' 70' Evanilson 57' Stephen Eustáquio 60' |