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Novo episódio do Ponto Final

Ep. 10 Cândido Costa: «Colocas o ponto final carregado de energia e pleno para a vida»

Este é o ponto final. Aqui vamos dar espaço ao adeus, vamos pendurar as chuteiras e vasculhar no álbum das recordações de jogadores que marcaram gerações. Não há parágrafo, sem antes haver um ponto final.

Este é o ponto final. Aqui vamos dar espaço ao adeus, vamos pendurar as chuteiras e vasculhar no álbum das recordações de jogadores que marcaram gerações. Não há parágrafo, sem antes haver um ponto final.

O nosso convidado deixou de jogar há quase uma década na distrital de Aveiro. Saiu pela porta pequena, depois de ter andado pelos grandes. Fez do lado direito uma autoestrada recheada de aventuras e desventuras, quase desde a nascença como futebolista. Foi treinado por Fernando Santos, Mourinho, Jorge Jesus ou até Jesualdo Ferreira e Jaime Pacheco. Tem no currículo provas nacionais e internacionais. O trabalho fez dele jogador profissional, ou não fosse ele da cidade do trabalho.

zerozero: Cândido Costa, obrigado por ter aceitado este convite do zerozero, com estas dicas era fácil descobrir este jogador?

Cândido Costa: Descobria, eu descobria. É um prazer estar aqui convosco. Uma pequena correção a essa entrada que considero linda. Não saí pela porta pequena, saí por um portão bem grande, no estádio Marques da Silva, em Ovar. Deve conhecer, é bem grande, portanto, a última vez que eu saí, foi uma saída gloriosa. Não foi terminar pela porta pequena, foi por um portão enorme (risos). Estou a brincar, revejo-me nesta apresentação e chegaria logo ao meu nome.

zz: Habitualmente lançamos isto para os nossos seguidores tentarem descobrir...

CC: Vão descobrir.

zz: Acha fácil?

CC: Não sei se é fácil, mas S. João da Madeira é a Cidade do Trabalho. Se souberem isso já fica muito curto para descobrirem e depois por aquilo que indica na apresentação: um começo altamente prometedor e depois um fim nada correspondente ao início. As pessoas que me conhecem, vão saber isso. Eu prometia muito, fiz uma carreira digna na 1ª Divisão, mas terminei na distrital. Não acabei como estaria planeado, acho que é fácil e não houve assim tantos. 

zz: No zerozero temos como sendo o seu último jogo algures em junho de 2015, em Avanca 7-1 Ovarense. Sabia que ia ser o seu último jogo?

CC: Não, não sabia. Nesse jogo, lembro-me de pensar para mim que já chegava. À vontade não é à vontadinha e pela primeira vez na minha carreira fiquei mesmo muito triste, não pelo resultado, mas porque olhei à minha volta e senti que as coisas eram más. Eu não estava a fazer nada de jeito em campo, a minha equipa também estava completamente desligada e estava a levar olés, na distrital. Sei que estava no chuveiro, a pensar em tudo aquilo e a refletir se não seria melhor acabar. Na viagem para Ovar vinha calado e isso não é costume. Vinha calado e vinha a sentir tudo, sem saber se tinha forças para ir ao treino na semana seguinte. E assim foi. Acabei.

zz: É difícil tomar essa decisão assim a frio, quando tem tantos de futebol? Ou quando não se pensa que pode ser o último jogo.

CC: É a constatação oficial que a vida não pára, o tempo é precioso e o cavalo branco já passou. Isto acontece com toda a gente ao longo da vida, mas no futebol, em particular, tu colocas o ponto final carregado de energia e pleno para a vida, só não estás para o futebol. É um luto precoce de trabalho, é o fecho de uma carreira curta.

zz: O que sente que perdeu logo após o final da carreira?

CC: Quando estava a escrever o meu texto para publicar nas redes sociais a anunciar o meu fim de carreira, não escrevi por impulso, parei várias vezes de escrever e foi escrevendo essa publicação durante alguns dias. Percebi que estava a escrever algo importante, para mim. Chorei várias vezes, mas não era um choro de tristeza, era um choro de perceção clara que fizesse o que fizesse, a partir dali, e acho que agora já estou mais habilitado para falar disso, porque as coisas têm-me corrido bem noutra área, nunca mais ia ser um Super Homem. Nunca mais ia ter a possibilidade de pertencer a uma estirpe de pessoas e a um trabalho que não somos, mas achamos que somos. Nós somos incríveis, temos estádios de 50 mil pessoas a baterem-nos palmas e entramos em qualquer sítio, somos super atletas, o corpo espetacular...

zz: E só sentem isso quando acaba...

CC: Sim. É constatação de que faças o que fizeres, ali acabou. Podes até ter sucesso noutra área e até mais sucesso, mas é o adeus a uma vida. No meu caso, por exemplo, eu vivi para o futebol. Eu sonhei com o futebol, eu consegui chegar ao futebol, eu vivi do futebol, eu sobrevivi por causa do futebol, eu lesionei-me no futebol, eu chorei no futebol, eu alegrei-me no futebol, eu fui pai no futebol, eu casei no futebol. Eu fui tudo no futebol, fui tudo à volta do futebol e tinha de construir algo novo. Ter essa constatação é sempre um choque. Veio-me à memória, de forma quase mágica, pessoas que não me lembrava há muitos anos: os roupeiros, os treinadores, os golos nos infantis, a primeira oportunidade, o primeiro contrato, as palhaçadas... foi dizer adeus a isso tudo. Foi perceber que tinha acabado aquela coisa de chegar ao balneário e cumprimentar os meus colegas todos com um «Estás bom, mano?». Em mais nenhum trabalho fazes isso. Não acabas duas horas de trabalho, vão tomar banho todos juntos e andas ali a brincar, a mandar coisas uns para os outros, como a tal lapada no rabo. Podes ter um excelente ambiente de trabalho, mas não fazes isso em mais área nenhuma. Aqueles códigos de ética e de honra que se criam num balneário. Era disso que eu ia ter saudades.

qA minha carreira chegou ao fim como se tivesse sido anónima e somente na distrital. Eu não tive tempo de me achar. Na altura já tinha dois filhos, o plano tinha sido ao contrário, os últimos anos foram muito difíceis e não criei um enquadramento para ter tempo de pensar no que iria ser.
Cândido Costa, antigo futebolista

zz: O seu dia-a-dia passa a ser diferente.

CC: Foi difícil. Foi muito difícil, até porque eu não tive tempo para andar a falar sobre isto, como estou a falar agora. Estar tardes e tardes a falar com os meus amigos sobre este tema, sobre o fim de uma carreira. O meu tempo era curto e a necessidade estava inerente a isso. Não tive tempo de fazer o luto futebolístico. A minha carreira chegou ao fim como se tivesse sido anónima e somente na distrital. Eu não tive tempo de me achar. Na altura já tinha dois filhos, o plano tinha sido ao contrário, os últimos anos foram muito difíceis e não criei um enquadramento para ter tempo de pensar no que iria ser. Foi o pensamento de raça: onde posso ir? O que tenho de fazer? Qual é a missão? Fazer isso com um sorriso na cara, limpar-me das gorduras dos troféus, que representam o passado e mérito passado, para construir um novo mérito, um novo Cândido. Felizmente, a minha ambição não era grande. A minha ambição era, apenas e só, ter trabalho. Era a coisa mais digna e mais honrada que podia fazer. Com aquele enquadramento ninguém me ia bater à porta e dizer: 'Queres ir trabalhar para aqui, queres fazer televisão, fazer isto ou fazer aquilo?' Eu agarrei o que tinha à mão de semear e à mão de semear estava o IEFP (Instituto de Emprego e Formação e Profissional), depois treinar meninas...

zz: Um excelente trabalho que fizeste lá na Ovarense.

CC: Ali perto de casa, treinar o futebol feminino da Ovarense e que ajudou a reacender aquela coisa do jogo, pois estava um bocadinho apagada. Elas estavam sempre à minha espera a tocar viola, antes dos treinos, e aquilo reacendeu a minha chama, foi quase como magia. Senti-me o puto Cândido da Mourisca (bairro de S. João da Madeira). Passou a ser divertido ir para o treino novamente, mesmo que aquilo na representasse nada em termos financeiros e trabalhar para o meu irmão, até começar a fazer televisão no Porto Canal, por uma oportunidade que surgiu.

zz: 90/91 é o teu primeiro no futebol? Talvez seja o primeiro oficial, porque já deveria haver alguma coisa antes...

CC: Sim, eu comecei na Sanjoanense com sete anos, mas já jogava, antes, nas ruas. No Parque da Gena, nos arredores do Bairro da Mourisca.

zz: Tinha um bom relvado...

CC: Verdade. Eu tive uma infância incrível.

zz: Havia ali um polidesportivo bem arranjadinho...

CC: E hoje está melhor. Em termos de infraestruturas está melhor, não sei se está melhor em termos de espírito, pois quem faz o espírito são as pessoas.

zz: Na altura, podíamos sair de casa à vontade...

CC: A minha infância foi mesmo muito bonita. Se tivesse que recuar a algum tempo da minha vida, e tendo em conta que tenho três filhos e esses momentos são sempre marcantes, mas sem dúvida que ia para a minha infância. Eu fui extremamente feliz, pois os meus pais proporcionaram-me ter sempre tudo certo, no momento certo. Nunca me faltou comida, carinho e lapadas bem dadas. Nunca me faltou companheirismo, aventura, espírito de missão. Eu encarnei várias personagens em mim mesmo, via um filme e podia replicar na rua. Fosse o Indiana Jones, fosse o Rambo III, fosse o Rocky Balboa e nós vivíamos isso em plenitude, havia uma comunhão boa, de rebeldia boa. Não era uma rebeldia má, de andar a roubar, a fumar às escondidas ou a beber. Era rebeldia de ir à fruta, de nos aventurarmos, com as pistolas de setas, com as fisgas e com os carrinhos de rolamentos e no meio de tudo isto erámos os melhores do mundo inteiro, no nosso mundo pequeno.

Cândido Costa esteve nos estúdios do zerozero

zz: Mas esses são os sonhos de uma criança...

CC: Eu vivi isso e isso permitiu-me a encher o tanque para nos momentos de maior adversidade voltar a esse local da minha infância e tornar-me imbatível. Ainda hoje sou. Eu não me sinto especial por nada que tenha feito em termos de trabalho, sinto-me especial porque há pessoas que não sabem do que estou a falar. Onde ganhei força, porque é que aos 15 anos foi para o Benfica jogar e aos 18 anos estreei-me pelo FC Porto. Há ali coisas que eu não consigo descrever, mas teve muito a ver com a minha infância e a forma como ela foi vivida, no bairro onde foi vivida, sempre com a bola debaixo do braço.

zz: Ias a pé para o Estádio Conde Dias Garcia?

CC: Sim, até isso era incrível. Era uma aventura. Imagina se hoje disséssemos a uma criança que vai ter de sair da escola, fazer cerca de três quilómetros a pé para o estádio da Sanjoanense, três quilómetros que vão ser incríveis, mas cheios de perigos. Depois de acabar o treino de hora e meia vais sair do campo e vais cerca de dez quilómetros para casa. Eu e os amigos queríamos fazer e eu dizia ao meu pai que queria fazer isso, mesmo que ele tivesse hipótese de me ir buscar de carro.

zz: Como era a dinâmica depois do treino?

CC: Tínhamos um jogo. Cada um tinha o seu saco e éramos quatro ou cinco a ir para o bairro. Escolhíamos uma letra e o carro que passasse com a letra que tínhamos escolhido - naquela hora já não passavam muitos - a pessoa em questão, tinha de levar os sacos de todos, até aparecer outra letra. Isso era o suficiente para a gente se divertir. Tive uma infância absolutamente incrível e bem equilibrada. Eu era rebelde, mas ninguém deixou de falar comigo por causa desse tempo.

zz: Começou logo como extremo?

CC: Não, comecei como avançado, na Sanjoanense. Dos poucos vídeos que tenho em VHS, estou como ponta de lança. Naquelas idades, entre os oito e os dez anos, havia alguns adeptos da Sanjoanense que me chamavam de Papin. Naquelas VHS que tenho em casa consigo ouvir isso... 'Lá está o nosso Papin...' (risos)

zz: Algumas parecenças... era loirinho, olhos azuis...

CC: À mesa (risos)... ele fazia golos e eu também fazia alguns. Aquilo pegou. Eu fui para avançado não porque o Zequinha (primeiro treinador) encontrou aptidões para eu ser avançado. Nessa idade, era muito precoce em várias coisas, por causa do meu contexto: jogava bem com o corpo, era muito astuto, tinha muita manha, aquela manha da Mourisca (bairro onde cresceu), daqueles jogos de campos inclinados e jogar futebol em terrenos a descer, com pedras e bolas precárias. Posto isto, quando eu apanhava um mínimo de condições era terrível. A juntar a tudo isso, era a minha paixão pelo futebol. Eu gostava muito do jogo. Naquela idade podia jogar em qualquer lado. O mister colocava-me à frente, pois sabia que assim talvez fossemos mais perigosos. Comecei como avançado centro.

qEu não me sinto especial por nada que tenha feito em termos de trabalho, sinto-me especial porque há pessoas que não sabem do que estou a falar.
Cândido Costa, antigo futebolista

zz: A Sanjoanense tem muitos jogadores a saírem ao longo dos anos: Veloso, António Sousa, Vermelhinho, Rui Correia, Secretário, mas o que acha que naquela fazia daquela formação tão especial? Foram várias jogadores a sair e as equipas da formação chegavam às fases finais dos nacionais.

CC: Fomos campeões distritais nos infantis e iniciados, tínhamos uma equipa muito forte, que componha a seleção de Aveiro que foi ao Torneio Lopes da Silva. Éramos muito fortes fisicamente, uma geração de raça, éramos bravos e quis o destino que nos encontrássemos todos aos oito e nove anos. Ganhámos um dinâmica de grupo muito forte. Falou do Gustavo, mas havia o Tiago Teixeira antes de ir embora, o falecido Vítor. Na primeira convocatória fomos três à seleção: eu, o Carlos (central) e o Vítor. O Nhinha - João, que é treinador de guarda-redes do Pepa -... tínhamos um misto de jogadores muito interessante e que tinham muita vida para a idade que tinham. Só perdíamos contra o FC Porto e Boavista, o resto ganhávamos.

zz: Como foi a história de ir à Constituição pedir para treinar no FC Porto? Foi antes de ir para o Benfica?

CC: Sim. Eu achava que chegando lá e mostrando vontade e desejo de treinar me iriam aceitar. Já tornei esta história pública e parece que foi vítima de alguma coisa, mas nada disso. Foi apenas mais um dia normal para a pessoa que me mandou embora. Ele não fez mais do que a sua obrigação. Se assim fosse havia filas de gente a pensar que podia ir lá treinar. Eu na minha cabeça, com aquela idade, achava que se chegasse ao estádio do FC Porto na Constituição com as minhas chuteiras e dissesse que era bom, que ia conseguir treinar com a equipa. Na minha cabeça aquilo soou como um: 'Vai à tua vida.' Magoou-me. Parece que me estava a fechar um portão de oportunidade para a vida. Era o FC Porto, era onde eu queria estar. Andava na escola e defendia as cores do FC Porto. Senti que foi uma grande traição, mas nada mais egocêntrico da minha parte. O senhor fez, e bem, o seu trabalho. Na cabeça de um jovem, aquele foi o pensamento. Eu cheguei ao carro do meu pai a chorar e a dizer que iam arrepender-se. O meu pai sempre a encorajar-me.

zz: Se hoje um dos seus filhos, com aquela sua idade, lhe pedisse isso ia concordar e iria ao local e encorajar, como o seu pai?

CC: Não.

zz: E o que fez o seu pai fazer isso?

CC: O meu pai tinha a certeza absoluta que naquela idade eu não perdia para ninguém. O meu pai via os jogos todos e sabia do meu potencial. Por isso mesmo é que no ano a seguir eu pode escolher para onde ir, pois todos me queriam. Fui o único jogador na altura e sei que me manteve durante a algum tempo, a ser o único atleta, enquanto jogador da Sanjoanense, a ficar nos 18 escolhidos de uma seleção. Isso fez soar os alarmes todos, sobre quem seria o jogador da Sanjoanense.

Cândido Costa durante a gravação do programa Ponto Final

zz: Como acontece a escolha pelo Benfica?

CC: Na altura, isso ainda me magoava, o facto do FC Porto não me ter escolhido, mas o Benfica, naquela altura, foi o único que se predispôs a recompensar a Sanjoanense. Um verba monetária (nunca soube quanto foi) e equipamento desportivo. Apesar do duro golpe que era ir para Lisboa, senti que houve mais vontade do que por parte dos outros clubes. Acabei por ir para Lisboa.

zz: Custou muito?

CC: Vivia no Estádio da Luz, no Lar. Custo muito, custou muito... Como é que posso dizer isto aos 42 anos a falar de algo quando eu tinha 15: se fosse hoje não ia. Custou a este ponto. E não ia por estar arrependido, não é isso. Não ia, porque não aguentava a dor. O que me fez aguentar, enquanto estive lá, foi a vontade de ser jogador de futebol e a inconsciência positiva. Hoje, já não conseguiria ser inconsciente positivamente. Ia pensar em todas as condicionantes: ficar sozinho, dormir com uma pessoa que não conheço, sair do meu enquadramento familiar, ir para um sítio onde não vou ter amigos, vou desafiar jogadores que jogam no Benfica há quatro ou cinco anos, filhos de jogadores, vou para uma nova escola, financeiramente não vou melhorar nada, nem sei se vou ter direito a algum dinheiro e ainda não sabia que me iam partir o pé, ficar com um osso de fora, dar despesas terríveis aos meus pais, que ia fazer sofrer o meu pai e a minha mãe, que o meu irmão Fábio ia sentir muito a minha falta. Acha que eu ia? Claro que não. Custou a este ponto. Perdemos, enquanto somos jovens, com os erros que cometemos e não sabemos onde nos estamos a meter, mas temos a força, a ilusão de ir buscar coisas que, se calhar, um adulto consciente não iria.

zz: É a esperança...

CC: Custou muito... Por exemplo, se fosse hoje, não sei se iria para o estrangeiro trabalhar e deixar tudo o que eu tenho dos meus laços familiares.

zz: Do Benfica salta para o Salgueiros. Ao serviço do Benfica esteve presente em todas as seleções nacionais, mas também teve o infortúnio da lesão gravíssima. O que o fez ir para o Salgueiros? Sentiu-se dispensado do Benfica?

CC: Não. Tinha feito uma época incrível, era capitão dos juniores, tinha sido campeão da Europa de Sub-18. Não há outra forma de dizer: o FC Porto queria-me muito e o Salgueiros foi uma forma de poder chegar ao FC Porto. Podia não ir, mas se correspondesse ao esperado o meu passe iria pertencer ao FC Porto. O Benfica tinha-me muito em conta, eu tinha um contrato profissional, mas houve uma conjugação de alguns fatores que não tornam isto assim tão linear: eu achava que deveria estar a treinar mais vezes com os seniores, alguns colegas meus já tinha melhorado os contratos substancialmente e comigo ninguém tinha falado. A possibilidade era eu jogar na 1ª Divisão e ainda com idade de júnior, o Dito queria muito que eu fosse para o Salgueiros e havia a promessa do Jorge (Mendes) de que se eu fizesse uma época boa no Salgueiros, o portão do FC Porto poderia abrir.

qIa pensar em todas as condicionantes: ficar sozinho, dormir com uma pessoa que não conheço, sair do meu enquadramento familiar, ir para um sítio onde não vou ter amigos, vou desafiar jogadores que jogam no Benfica há quatro ou cinco anos, vou para uma nova escola, financeiramente não vou melhorar nada, nem sei se vou ter direito a algum dinheiro e ainda não sabia que me iam partir o pé, ficar com um osso de fora, dar despesas terríveis aos meus pais, que ia fazer sofrer o meu pai e a minha mãe, que o meu irmão Fábio ia sentir muito a minha falta. Acha que eu ia? Claro que não. Custou a este ponto.
Cândido Costa, antigo futebolista, sobre a ida para o Benfica com 15 anos

zz: A questão de ser dispensado do Benfica vai nesse sentido: pelo facto de não ter sido alvo do mesmo tipo de aposta que os seus colegas.

CC: Eu merecia mais, mas sei perfeitamente que era uma aposta firme. Por vezes somos ingratos e é preciso ter cuidado. No Benfica, nunca escondi o meu clube, nunca tive necessidade disso e fui sempre muito bem tratado. Cheguei lá com 15 anos, fui sempre muito bem tratado, muito acarinhado, tive no Lar e tive um trato de excelência. Trataram sempre muito bem os meus pais, quando perceberam as dificuldades que eles tinham para ir ver os jogos, passaram a dar uma verba que não eram obrigados, para os meus pais irem ver os jogos todos. Tive a lesão, mas fui muito bem tratado e permitiu que eu fizesse uma carreira mais à frente. Fui muito bem operado pelo Dr. Martins, mas eu não estava apenas a decidir entre os juniores do Benfica ou os seniores do Salgueiros, com a possibilidade de ir para o FC Porto. Não era só esta decisão. A decisão era: voltar para perto dos meus amigos; voltar para os meus pais; voltar para S. João da Madeira. Foi tudo isto que pesou e financeiramente também ia ganhar mais. Já era um salário que permitia tirar a minha mãe do trabalho.

zz: E é nessa altura que tira a sua mãe do trabalho?

CC: Sim, com o meu primeiro ordenado. Quando recebi o meu primeiro salário foi para a porta da fábrica onde ela trabalhava, na Charles, e mal ela saiu, chamei-a e disse: 'Mãe, anda aqui ver uma coisa...' Achava que estava milionário e era só bocadito de dinheiro. A minha mãe não queria sair do trabalho e eu obriguei-a a sair para ficar mais tranquila.

zz: E arranjou-lhe outro trabalho, certo?

CC: O meu irmão é que abriu um quiosque e ela esteve lá algum tempo, mas ela teve algum tempo em casa antes disso. Eu pensava que estava a fazer bem, mas hoje não faria. Ela não é de estar parada, mas eu achava que estava a dar um pouco de paz à minha mãe. Nós fomos terríveis para a minha mãe: três reguilas em casa, três velocistas, muitos quilómetros a pé, muita paciência e não foram tempos fáceis. A minha mãe trabalhava muito, o trabalho era difícil e eu achava que estava a dar tempo à minha mãe para ela respirar. Mas a minha mãe era muito feliz. Por vezes fazemos falsos julgamentos: a minha mãe era muito feliz onde estava. Por vezes ter os nossos colegas de trabalho é o principal. Ela não foi mais feliz em casa. Passado pouco tempo estava a trabalhar, novamente.

zz: Do Salgueiros passa para o FC Porto. Tem a estreia na 1ª Divisão num Salgueiros x Marítimo. Lembra-se dessa estreia?

CC: Tenho uma vaga ideia. É algo que marca muito. Senti que estava num jogo dos grandes, era assim que diziam quando estava na formação. Sentia que estava nos tubarões da bola.

zz: E quando vai para o FC Porto sente ainda mais isso?

CC: Claro. É aí sentia medo. O primeiro jogo que fiz pelo FC Porto foi contra o Sporting.

zz: Sim.

CC: Eu estou a falar para a tribo do futebol: não me cabia um feijão. Estava cheio de medo. É num contexto em que não estava à espera, pois quem ia jogar era o Capucho. Ele lesionou-se no aquecimento. Já tinha celebrado a convocatória. Quando cheguei ao papel e vi o meu nome na convocatória já tinha feito notícia disso. Foi aberto champanhe no meu bairro. Eu tinha ficado na pré-época pelo mérito. Fui fazer a pré-época, mas o cenário era competir na equipa B. Mas nessa pré-época convenço o Fernando Santos e o figurino mudou. O primeiro jogo da temporada foi a supertaça, não tenho dúvidas disto. São momentos que nos marcam: tivemos jogos contra o Sunderland, uma equipa brasileira e fizemos o estágio da pré-temporada em França. O Capucho ia, naturalmente, jogar de início. A equipa desce para o campo nº 2 para o aquecimento e eu ficou no balneário com os suplentes. Eu estava a viver aquilo tudo.

zz: Há uma eliminatória da Liga dos Campeões contra o Anderlecht...

CC: Aí fiquei de fora...

zz: Depois há jogo contra o Sporting.

CC: Veja lá se não estou a titular.

zz: Confirmo.

Cândido Costa teve a estreia pelo FC Porto contra o Sporting @Getty /
CC: São coisas que não se esquecem. Estádio cheio. Fui convocado e fiquei em êxtase. O meu pai a dizer: 'Vamos lá ver se ele te coloca um minuto.' Estou à espera que apareçam os titulares, no meu cantinho, e de repente entra o Rodolfo, que era treinador-adjunto, com uma cara de acelerado e diz: 'Miúdo, estás pronto?' E eu a questionar: 'Pronto, como?' E ele: 'Vamos, vais ser titular, o Capucho rasgou. Vamos embora que vais lá para dentro.' E eu: 'Lá para dentro, como? De início? A titular?' E ele: 'Sim, porquê? Estás com medo?' E eu: 'Medo? Não... Mas é para ir aquecer?' E ele ao seu jeito diz todo despachado: 'Anda lá, tira o fato de treino, deixa-me ver os teus pitões... Isso mesmo, de alumínio.' Tirei o fato de treino, fui para o campo n.º 2 onde estavam a aquecer, o Capucho passa por mim e diz: 'Vai miúdo, vais rebentá-los todos.' E eu digo: 'Bora, bora.' Mas por dentro estava cheio de medo, só me apetecia chamar a minha mãe. Ouvias o bruaá do estádio...

zz: Tudo pronto.

CC: Nunca tinha estado numa realidade daquelas, apesar de ter estado numa equipa grande na formação e mesmo as seleções. Nunca tinha estado num contexto daqueles, daquela rivalidade. Faço o aquecimento e lembro-me de estar no túnel do Estádio da Antas para entrar a titular num jogo contra o Sporting. Os jogadores do Sporting ao meu lado, o Bicho, Jorge Costa, à minha frente. Acho que nunca tive aquela sensação em mais nenhum momento da minha vida. De repente, começam a puxar aquela lona para trás, entro, ouço os cânticos, vejo os fumos e só desejava que começasse rapidamente. Foi até tocar na bola. Depois de tocar a primeira vez na bola, tinha o Rui Jorge a marcar-me, fiz um passe para alguém e tudo normalizou. Era um jogo de futebol. Não me lembro na totalidade do que fiz no jogo, mas terei feito alguns cruzamentos e ouvi algumas palmas. Era sinal de que não era mau de todo. Senti que tinha os mínimos (risos).

zz: E fazes muito jogos na equipa do FC Porto.

CC: Essa é a época em que jogo mais. Tinha o sentido de ser muito comprometido fosse pela tensão, pela responsabilidade, que me fez mal, e que não consegui gerir. Era um miúdo de 18 ou 19 anos e não consegui abstrair-me do peso da oportunidade que me estava a ser dada. Apaguei um bocado o Cândido desequilibrador, achei que não era capaz, que tínhamos suficientes e melhores que eu. Não me achava capaz de ser naquela equipa o que foi na formação toda.

zz: Quis ser equilibrado para não perder a oportunidade e perdeu mais oportunidades.

CC: Deixei de ser o criativo, ou pelo menos de ter a mania que era o criativo e tornei-me num jogador raçudo, fiel às ideias do treinador e que ele poderia contar comigo. Senti o peso da oportunidade que me estavam a dar, não queria perder. A oportunidade que me estava a ser dada não era por eu ser raçudo: não foi isso que os fez contratarem-me, nem o Benfica, nem o FC Porto. Era terrível no um contra um. A pressão e os holofotes fizeram-me recuar.

zz: Quem era o seu jogador favorito na infância?

qA pressão e os holofotes fizeram-me recuar.
Cândido Costa, antigo futebolista

CC: Não tem nada a ver com as minhas características, mas gostava muito do Redondo. Pela pinta. Sempre aquele cabelo lisinho, ar altivo, sempre focado. Era mais estilo, mas aquela canhota bem medida. Elegante. Lembro-me de estar a jogar com os meus colegas e apesar do meu futebol não ter nada a ver, eu passava e dizia: 'Lá vai o Redondo, a classe, a mestria...' (Risos) Não tinha nada a ver, eu ia a narrar-me enquanto fintava os meus colegas. Parecia mais o Dominguez ou o Paulo Futre.

zz: Está num momento de FC Porto que é uma verdadeira montanha-russa. Fim da época do Penta e há Fernando Santos, Otávio Machado e José Mourinho. Está no início de Mourinho: o que se via de diferente, naquela equipa?

CC: Vamos por partes. Na meia época com Otávio Machado foi francamente mau para todos. Não conseguimos encaixar nas ideias dele. Para o meu lado, pessoalmente, apagou-se um bocado a chama que tinha acendido atrás. Tinha recebido prémios na época anterior, dividi lugar com o Capucho, mas a entrada de Otávio Machado significou, para mim, meia época quase desaparecido.

zz: Percebeu porquê?

CC: O mister não gostava de mim e tinha legitimidade para isso. Está no seu direito. Provavelmente até mais por responsabilidade minha. Não consegui perceber o que ele queria. Nunca soube, mas não tenho mágoa nenhuma. Ele era o líder, provavelmente por eu ser miúdo, talvez tenha sido uma lição. Foi duro para mim, esperava mais, mas por alguma razão ele tomou aquela decisão. Se calhar, devia ter percebido, mas joguei muito pouco. Não tenho de fazer um caso disso, tal como não tenho de fazer um caso pelo Fernando Santos me ter adorado. A vida é mesmo assim e nós não temos de estar sempre a discutir lideranças. 

zz: Bom ponto de vista.

CC: Vem Mourinho em janeiro e eu reacendo o meu nome. Faço o melhor jogo de todos, que foi o Porto 3-2 Benfica.

zz: Entra logo no segundo jogo de Mourinho contra o Varzim.

Cândido Costa nos tempos de FC Porto @Getty /
CC: Sim, ganhei um penálti. Fica feio dizer isto assim, mas foi mesmo grande penalidade. Até já discuti isto com o Mendonça. Foi uma meia época muito boa com José Mourinho, onde tive contribuições muito importantes: faço um golo ao Gil Vicente que nos permitiu ficar numa posição de irmos à UEFA que ganhámos. Deixa dar aqui uma nota de rodapé: ao dia de hoje, eu sou ainda o jogador mais internacional de sempre da formação do Benfica. Quem me contou isto foi uma pessoa relevante do Benfica. Na época seguinte, na pré-temporada, tive bastante utilização, prometia a titularidade e não há outra forma de dizer: na antecâmara de começar o campeonato borrei-me todo, acusei a pressão. Fiz a pior semana de treinos da minha vida e sem qualquer razão para isso.

zz: E nem aos dias de hoje consegue perceber?

CC: Não. É legítimo alguém pensar que eu me deslumbrei, dizer que andava na noite... Mas não foi nada disso: acha que andaria na noite a uma semana de começar o campeonato e com a possibilidade de ser titular do FC Porto? Com a pré-época que eu fiz, onde joguei quase todos os jogos de início? Tive uma semana horrível e atribuo isso à pressão. Senti que aquilo estava a acontecer, que ia começar uma época a titular e nenhuma das outras tinha começado assim. E logo com Mourinho, que era um treinador que prometia muito, com treinos diferentes. Nós percebíamos logo isso, o quão ele era diferente. Os mais velhos comentavam isso, diziam que ele era especial. Nos dois anteriores treinadores tinha observado as palestras e visto o comportamento corporal dos meus colegas. Com ele (Mourinho) foi diferente. Ele falava como Russel Crowe no Gladiador... quase que se ouvia a música. Se tu estivesses concentrado, ele conseguia colocar o balneário com logística de gladiadores. Eu acho que acusei isso tudo. Questionei-me: 'Este gajo gosta de mim? Vai escolher-me para ser titular?'

zz: E alguma vez falou consigo sobre isso?

CC: Logo nessa semana, vamos jogar contra o Belenenses e na quarta ou quinta-feira dessa semana, o Mourinho veio ter comigo durante a parte dos alongamentos, dá-me um chuto, eu olho para cima e ele diz-me: 'Então, o que é que tu tens?' Eu digo: 'Não tenho nada mister...' E ele: 'Não dás uma para a caixa, não fazes um passe a cinco metros. Tu ponhas-te a jogar com esta semana de treinos?' Eu disse: 'Não, mister.' E ele: 'Não te vou por a jogar. Foca-te...' e saiu da minha beira. Eu não joguei, jogaram outros e jogaram bem.

zz: E partir daí?

CC: Participo bastante, mas quase sempre a entrar como suplente, mesmo na UEFA. Em dezembro percebi que vinha o Marco Ferreira, converso com o Jorge Mendes, pois nesse meio ano comecei a perder espaço, num contexto onde tinha tido sempre muito espaço, como a seleção Sub-21. Começam a aparecer novos nomes, Ronaldo e Quaresma à cabeça. Tão ou mais novos que nós, mas a serem mandados para os Sub-21. Eles chegam ali e eram muito melhores que nós. Vimos a fazer coisas inacreditáveis. Ficávamos espantados com as fintas, aquelas vírgulas, passar a bola pelo meio...

zz: E a trivela...

CC: Sim. Pareciam que tinham mais pernas que o normal. Eles faziam de nós o que nós fazíamos aos nossos colegas nas férias, aqueles que não jogam futebol. Talvez esteja a exagerar, mas eles faziam isso aos colegas da seleção nacional. Estavam um bocado mais à frente que nós.

qEu digo que o Setúbal quer-me e o Mourinho diz-me: 'Espera aí para ver se compreendo: estás a pedir-me para sair do FC Porto, quando eu não te estou a dizer para tu saíres e queres ir para o Vitória de Setúbal?'
Cândido Costa, antigo futebolista

zz: Então e como foi  a conversa com o Jorge Mendes?

CC: Sim, eu falo com o Jorge Mendes e explico que talvez seja melhor sair, pois estava a ser suplente do Capucho e a chegada do Marco Ferreira significava que o Mourinho não estava contente comigo. O Jorge Mendes a tentar demover-me, mas ao mesmo tempo a compreender o facto de eu ter de jogar. Certo dia, no final de um treino, vou ter ao gabinete do mister para ter uma palavrinha com ele. Manda-me entrar e eu disse que estava a jogar pouco, que ele tinha o Capucho, que vinha o Marco Ferreira e que se calhar o melhor era sair. O Mourinho diz algo do género: 'Vais sair e vais jogar para onde?'. Eu digo que o Setúbal quer-me e ele: 'Espera aí para ver se compreendo: estás a pedir-me para sair do FC Porto, quando eu não te estou a dizer para tu saíres e queres ir para o Vitória de Setúbal?'  Eu digo que preciso de jogar, que não estou chateado com ele, mas que queria jogar. Ele disse-me que não faria o que eu queria, mas que não me iria cortar as pernas. Saí do treino, fui para casa, tinha os meus pais à porta de minha casa, acabo de estacionar na minha casa do Furadouro e liga-me o mister José Mourinho. Atendi e ele estava num último esforço à aconselhar-me para eu não sair. Até acho que há alguma nobreza naquele ato, porque não estava agarrado ao emblema de um clube grande. Eu queria jogar mais, gostava do futebol e queria sentir-me importante numa equipa. Tinha tido papéis importantes nas equipas que tinha estado e ali estava a sentir-me um eterno suplente.

zz: Hoje fazia o mesmo?

CC: Claro que não. Com a maturidade que eu tenho? O homem gostava de mim, era um miúdo, estava num clube com todas as condições e foi uma má decisão minha.

zz: Acha estes exemplos faz com que os mais novos tenham mais calma na hora de tomar algumas decisões?

CC: Eu não tornava a fazer isto, porque o clube não me pediu para sair e porque tinha utilização, com essa equipa que ganhou tudo. Não era fácil e o Mourinho gostava de mim... Eu fui pedir a este homem para ir embora de um clube grande. Agora, há casos em que acho que os jogadores devem sair. Quando não são opção, têm de procurar solução, pois quem não é visto, não é lembrado. No meu caso foi uma má decisão, pois o passado de sucesso que tinha, exigiu ao miúdo orgulhoso, que achava que merecia mais, sair. Nada mais falso. Nada a ver com o Vitória de Setúbal, pois infelizmente quis o destino que o Vitória FC não estivesse a viver momentos felizes. Nos seis meses restantes dessa temporada, quem me ficaria a pagar o salário era o Vitória FC. Nesse período não recebi um ordenado, tive quatro treinadores e desci de divisão. Na mesma época em que ganho Campeonato, Taça de Portugal, Taça UEFA e desço de divisão... isto define um bocado a minha carreira: é um paradoxo. Foram muitas emoções para a pouca idade que tinha.

zz: Na época seguinte foi emprestado logo ao Derby County. Quando chegou ao FC Porto nessa pré-época já entrou pela porta pequena.

CC: Claro. Aí já não era o mesmo Cândido, que era uma das maiores promessas de não sei de onde.

zz: Aí o Mourinho já não falou.

CC: Não, nem foi equacionado, sequer, eu ficar no plantel. Percebi logo no discurso do Jorge Mendes quando me ligou a dizer que me ia levar para Inglaterra, pois o Derby County tinha gostado muito do meu nome.

Cândido Costa somou 75 internacionalizações pelas seleções jovens portuguesas @Getty /

zz: Gostou de estar lá?

CC: Adorei, mesmo com todas as peripécias... Parti os dentes logo no início época, contra o Mallorca do Jaime Pacheco. Foi o nosso jogo de apresentação e recordo-me de estar a falar com ele no túnel de acesso ao relvado e passado uns minutos estava sem os dois dentes da frente. Mas adorei.

zz: Foi um bom ano...

CC: Division One foi incrível.

zz: E era Division One.

CC: Fabuloso. Grandes condições, excelente trato com as pessoas, tivemos a época toda a lutar para não descer de divisão e não descemos. Sempre estádio cheio, mesmo que as coisas não nos saíssem bem havia uma fibração incrível. Sempre a apoiar até ao final do jogo. Eles só queriam que houvesse dignidade competitiva e bravura. Até era um pouco estranha, porque eles fora dos estádios só fazem asneiras, mas ali havia um civismo notável e uma educação muito boa. Tinham sempre palavras de apoio e uma positividade que quase nos responsabilizava a ter de dar tudo. Nem sempre os gritos ou uma forma mais ditaturial é que leva a uma ação forçada, por vezes a empatia gera mais força. É a responsabilidade dada pelo carinho e pelo apreço. Senti muito isso em Inglaterra. Havia a possibilidade de eu ficar, havia o convite para eu ficar, mas tudo aconteceu num timing incrível. Entretanto o Mourinho saiu do FC Porto e vem Del Neri. Havia uma indecisão de Del Neri se me queria no plantel. Ele queria que eu ficasse, mas queria ver-me primeiro. Pensei logo que era treinar à experiência de forma camuflada.

zz: É de pensar isso.

CC: Novamente, o orgulho bacoco de quem não tem a maturidade e pensa: 'Quer me ver? Tenho três anos de FC Porto...' Foi nessa altura que rescindi contrato e fui para o SC Braga.

zz: Como surgiu a ida para Braga?

CC: O professor Jesualdo Ferreira já me conhecia dos contextos de seleção e queria muito que eu fosse para lá. Fui para um clube que já era muito daquilo que era agora. Eu não estranhei a mudança: não me faltava nada. Muito organizado, financeiramente robusto, pagamentos certinhos. Não faltava nada, condições de trabalho, mentalidade vencedora, cidade incrível para viver, em todos os aspetos. Com juventude e vida, até porque eu era um jovem, pessoas muito civilizadas, pressão aliada a um clube grande, bom estádio. Senti-me parte de algo de grande, não me incomodou representar o SC Braga. Já na altura. Fizemos duas épocas maravilhosas com o professor Jesualdo Ferreira.

zz: E porquê saiu do SC Braga?

qDepois da apresentação no Restelo, chegou à roda onde estão os meus novos colegas e o Jorge Jesus diz: 'Está aqui o reforço, o Cândido, veio para ajudar...' Olhou para mim de cima para baixo e continuou: 'Tás muita gordo, se soubesse que estavas assim não vinhas. Vais sofrer muito.'
Cândido Costa, antigo futebolista

CC: Tinha uma terceira época, mas o Jesualdo Ferreira saiu e o mister Carlos Carvalhal, que assumiu o cargo, não me fez sentir que eu fosse indispensável para ele. Ele nunca me disse, mas o Jorge Mendes ia arrastando a decisão, como eu já o conhecia há muito tempo e sabia compreender as suas mensagens percebi que o caminho no Braga poderia estar a chegar ao fim. Isso veio a confirmar-se. Eu não era a prioridade para o mister. Eu percebi isso e foi tudo feito às claras, mas tinha mais um ano de contrato e não poderia dar ao luxo de ficar desempregado. Encontrar uma solução não foi fácil, pois eu tinha um salário muito decente no SC Braga e havia interessados, mas chegar ao valor do contrato foi um problema. Eu estava seguro nesse ano e não queria abdicar disso. Vários clubes jogaram com isso e penso que foi mesmo no último dia do mercado de transferências que tive de sofrer com essa pressão. Vários presidentes a ligar para o Jorge (Mendes), neste caso o Cristiano a gerir este processo (ele agora já não está lá). Eles foram me atualizando de tudo e o Belenenses não era hipótese. Até que ele liga-me e diz: 'Olha, o Jesus quer-te no Belenenses.' Eu conhecia o Jorge Jesus, mas não conhecia o seu temperamento, nem os seus métodos de trabalho. Pensei que o Belenenses era um clube top e soube que ele me queria muito, além do capítulo financeiro ser idêntico com outras opções. Eu tive de decidir na hora, pois aquilo estava a acontecer na manhã do último dia do mercado de transferências. Mandei-o dar o ok ao Belenenses. Era um ano de contrato, o mesmo ano que tinha no SC Braga e acabei por ficar quatro. O Tuck, na altura coordenador técnico do Belenenses, deslocou-se de Lisboa a Coimbra e eu fui com o Cristiano da Gestifute do Porto para Coimbra. Ele parecia que estava a conduzir um Fórmula 1. Eu cheio de medo ao lado, dizia que preferia ficar sem clube, mas ficar vivo. Assino o contrato em Coimbra, para conseguirmos enviar a tempo de entrar na Liga. É deste episódio que origina aquele momento do Jesus, depois da minha apresentação no Restelo: 'Tás muita gordo...' Eles já tinham um mês e meio de treinos e eu estava de férias na churrascada. Iam fazendo uns treininhos, mas nada daquilo que os meus colegas faziam. Mas recordo-me perfeitamente... Chego à roda onde estavam os meus colegas, depois das fotos de apresentação, vou a correr para me encontrar com o grupo de trabalho, ainda não tinha sido apresentado a ninguém. Chego ao grupo, cumprimento o mister Jorge Jesus e ele diz ao seu: 'Está aqui o reforço, o Cândido, veio para ajudar...' Olhou para mim de cima para baixo e continuou: 'Tás muita gordo, se soubesse que estavas assim não vinhas. Vais sofrer muito.'

zz: E sofreste?

CC: Logo no primeiro treino. Eu queria sobreviver ao primeiro treino. Era um reforço, tinha que me matar lá dentro. Era o primeiro dia de trabalho, tinha de causar boa impressão e assim fiz. Mas foi muito na raça. Eu estava pastoso, não estás lesto...

zz: Não estavas soltinho...

CC: Exatamente (risos). É mesmo isso. Acaba o treino e senti que tinha sobrevivido. Era tudo: o stress do momento, a viagem, o último do mercado, a pensar que podia estar a treinar à parte no SC Braga. Toda aquela tensão, já era pai, senti uma preocupação muito grande. Naquela altura, do fim do treino, senti um momento de descompressão. Tinha baixado as meias e a respirar fundo. Ele (Jorge Jesus) passa ao meu lado e diz: 'Então? Estás a tirar as meias?' E eu pergunto: 'Mas não acabou, mister?' E ele diz: 'Acabou para os teus colegas... vamos fazer um treininho para soltar as pernas.' Eu pergunto se era preciso chuteira e ele disse cheio de ironia: 'Não, vais correr descalço...'

zz: Foi das melhores personagens que encontrou no futebol?

CC: Das melhores? Foi a melhor. Eu meto as meias, ele manda-me ir para uma bandeirola do canto e fica no grande círculo do meio campo. O meu pensamento foi: 'Não acredito que ele vai fazer isto...' Mas foi mesmo o que estava a pensar: enquanto ele dava uma volta ao grande círculo a caminhar, eu tinha de dar uma volta ao campo inteiro, por fora das bandeirolas, a correr. A meio percebi que o meu ritmo não chegava e tive de fazer quase todo em sprint. Fiz a primeira e a minha respiração estava com um ritmo de maratona. Mandou-me recuperar da primeira para a segunda e eu mal conseguia respirar. Na segunda só me apetecia vomitar. Imagina, tu dizeres ao teu patrão, no primeiro dia, que não consegues trabalhar mais, pois o teu limite já foi ultrapassado. É muito duro. Mas a aflição já era tanta que eu disse-lhe que ia vomitar, mas ele mandou-me dar mais uma volta. Fiz mais uma volta a fazer promessas. Foi quase tudo em sprint. Na última já ia de cabeça para trás e as pernas para a frente. Tenho uma relação muito boa com ele e uma admiração incrível. Adorei trabalhar com ele. Conto estas coisas com fascínio, não é com desdém.

Cândido Costa disputou uma final da Taça de Portugal pelo Belenenses, frente ao Sporting @Getty /

zz: Mas julgo que ele compreende isso.

CC: Sim, sim. Já falei com ele, na altura das histórias do Sagrado Balneário - programa do Canal 11 - e ele disse que sou igual a imitá-lo. Acho que tenho a sensatez de saber contar as peripécias do balneário colocando-me sempre no lugar do visado. Se eu sentir posso ferir alguém ou ir longe demais, prefiro ficar calado, prefiro não ser engraçadinho. Eu conto histórias que se contassem de mim não ir ficar chateado, tal como foi o episódio do 50 Cent.

zz: Foram os seus melhores momentos?

CC: Eu gostei muito. Os primeiros dois anos foram anos de sucesso, individual e coletivo. Fiz duas renovações de contrato. Eu sou daqueles que defende que uma carreira não deve ser avaliada só pelos títulos. Quem me pesquisar no zerozero vai encontrar o meu percurso e os meus dados: os jogos, os amarelos e tudo o resto. Para mim, isto é currículo, carreira é outra coisa. Porque não diz lá as lesões que superei, o que perdi, o que fiz de errado, o que fiz de bem, quantas vezes eu chorei, quantas vezes emprestei dinheiro no balneário e me emprestaram a mim, quem é que toquei verdadeiramente, as coisas que vi e ouvi e o quanto eu fui feliz. Eu olho para a minha carreira e o meu currículo. Tive épocas em que joguei mais, infelizmente não correspondi às expectativas da minha formação, prometi mais, mas fiz uma carreiraça em termos da relação com a tribo do futebol.

zz: E é muito respeitado por todos e não é só por agora.

CC: Eu sei disso. Até os jantares são carreira, as palhaçadas, as palmadas no rabo dos colegas, as saunas, os banhos turcos, as saídas à noite, as mentirinhas ao treinador, as tangas, isso é carreira. Acha que o saudosismo do futebol tem apenas a ver com o jogo jogado ou por aquilo que ganhaste? Eu ando por esse país fora a fazer o Cândido On Tour, a boca começa a tremer e olhos a ficarem vidrados quando eles começam a falar dos companheiros, do espírito do balneário. As memórias que ouço estão sempre relacionadas com essas jantares e brincadeiras, quase nunca relacionadas com uma final e o cruzamento que foi feito... A magia do futebol é a nossa capacidade prolongar a infância. Ali permitem-nos ser um bocado criança durante a semana, no final do treino e naqueles momentos extra jogo.

zz: Quem estiver chateado tem de deixar de estar.

CC: Claro. Ficam logo mais bem dispostos. Repara, não deve haver muitas profissões onde é permitido fazer palestras na ante câmara de uma grande batalha. Se tiveres numa reunião de empresa, o CEO vai apresentar os objetivos que são para ser cumpridos, no futebol não é assim. Começa logo: 'Meus guerreiros, sentem-se aí... estou a olhar nos vossos olhos e nós somos especiais.' Quem começa assim uma palestra? Os empregados ficariam cheios de medo, pensariam logo que o CEO estava tolo. O futebol tem esta especificidade, é uma atuação em grupo, lutamos por cor, por um emblema, lutamos pela aldeia, pela vila, pela cidade, pelos antepassados, não é rei morto, rei posto. Temos um legado para respeitar. Os jogos são como lutas entre dois clãs e tudo isto torna o futebol apaixonante, até para pessoas de outras áreas e que invejam um bocado isto. Não tem nada a ver com isso, mas um jogo grande como FC Porto x Benfica, Benfica x Sporting ou Sporting x FC Porto é quase como um dia sagrado. Andamos o dia todo a pensar no jogo e queremos ver o jogo. De repente tudo passa para segundo plano, as nossas mulheres até podem nos dar a melhor novidade do mundo que nós só estamos focados no jogo. Tudo isto é carreira.

Cândido Costa durante a gravação do programa Ponto Final

zz: Olhamos para os últimos anos da sua carreira: esteve na Roménia e depois voltou para Portugal. Foram anos difíceis para si?

CC: Sim. Aí já me contentava em ter equipa, ter clube e ser um fiel lateral direito. Longe já vão os tempos de quem assumia o batimentos dos livres.

zz: Como foi parar a lateral direito?

CC: Foi com o mister Jesus, na segunda época.

zz: Deve ter sido a primeira adaptação dele...

CC: Pelo menos a um nível mais alto, devo ter sido. Explico rápido: primeiro meio campo de sucesso em losango, na primeira época: Sandro Gaúcho, Cândido Costa, a médio interior direito, Zé Pedro, a médio interior esquerdo, e Silas. Correu bem, chegámos à final da Taça de Portugal. Foi top. Na época seguinte, o Rúben Amorim emerge e era Rúben e Hugo Leal. O Rúben Amorim entrou para trinco na pré-época e mantenho a médio direito, titularíssimo, que nem uma barra de ferro, mas o mister queria um trinco mais pensante e o Rúben vai para interior direito. Ele começou a olhar para lateral direito e a pensar em colocar-me lá. Certo dia, num treino disse-me para ir para a zona onde estava o Amaral. Eu perguntei-lhe se era para lateral e ele pergunta-me logo ao seu jeito se eu não queria. Eu disse que estava só a perguntar e quando cheguei perto do Amaral ele diz: 'Cacete... sobrou para mim. Já fui...' E eu digo: 'Não digas isso...' E ele continuou: 'Tens dúvidas, tu vais ver esse sacaninha a me lixar...' Passado uns minutos o mister diz: 'Cândido passa aí para a frente.' O Amaral disse logo: 'Não falei, já fui.' E foi assim que comecei a jogar a lateral direito. Nunca mais mudei de posição.

zz: Voltando ao período mais difícil.

CC: Sim, foi difícil. Aquela lesão no Arouca foi machadada final. Tinha acabado de assinar pelo Arouca e no segundo treino tenho rotura de ligamentos cruzados. Nunca tinha tido qualquer problema nos joelhos.

zz: Não fez qualquer jogo no Arouca.

CC: Nenhum, mesmo. Era para recuperar em seis meses, mas não fiquei igual. Atenção, nada a ver com a operação. Mas a fisioterapia teve influência: foi feita com muito carinho, mas não num sítio direcionado para a componente desportiva. Eu era tratado com pessoas ao lado que nada tinham a ver com o desporto. A recuperação era competente, mas não era direcionada para a alta performance. Eu já tinha tido lesões e sei. Aquilo não era chegar lá, por um eletros, passar sabão no joelho, estar a conversar e ir embora. Tens de ir mais fundo, a pessoa tem de sofrer. Sabes como são os jogadores, se não houver sofrimento, também não vai pedir. Quando me disseram que estava pronto, cheguei ao campo e vi que estava manco e não tinha força na perna. Parecia que estava a arrastar a perna. Perdi potencialidades. Enquanto que na primeira lesão, no Benfica, eu nunca senti isso. Quando voltei até me senti mais forte na dividida, o joelho, ainda hoje, sinto umas falhas.    

zz: Dá para entender, então, alguns takes falhados no Cândido On Tour... (risos)

qFoi um carreira honesta, quem dera a muitos, são muitos jogos na Primeira Liga. Mas a primeira apreciação era muito por baixo. Eu não via o valor e há valor, aqui, para o que eu faço hoje.
Cândido Costa, antigo futebolista
 

CC: Também é um bocado para me desculpar (risos). Foi um final de carreira mais na raça e a tentar fazer de tudo com que o tinha ao meu alcance, para tentar perpetuar ainda mais o meu tempo no jogo e no futebol. Também nunca tive vergonha de percorrer esse caminho. Vim da Primeira Liga para a Segunda Liga e quando não me quiseram no S. João de Ver não tive vergonha de ir para a distrital. Nem sei se recebi alguma coisa na Ovarense. Eu estava a tentar chegar aos 35. O meu plano era: começar uma carreira pequenininho, chegar a um grande, ficar num grande, ser feliz num grande, fazer o contrato da minha vida no estrangeiro, ser internacional A, ter uma casa com aquelas palmeiras de perder de vista, em que temos de chamar os bombeiros para cortar, ter montes de carros, esse era o grande plano. Não acontecendo, foi um fracasso, mas eu não sabia que este mundo de altos e baixos, que na primeira análise, objetiva e verdadeira, em termos desportivos não foi aquela que eu pensava. Foi um carreira honesta, quem dera a muitos, são muitos jogos na Primeira Liga. Mas a primeira apreciação era muito por baixo. Eu não via o valor e há valor, aqui, para o que eu faço hoje.

zz: Há muito.

CC: Joguei a Champions, na 1ª Liga, no estrangeiro, na 2ª Liga, no Campeonato de Portugal, na Distrital e se quiserem até na Inatel, ou nos veteranos e com os amigos ao fim-de-semana. Tenho mundo. Sei como se entra num balneário da distrital, da 1ª Liga, o que pode ser dito e o valor está aí.

zz: Quem merece o seu maior agradecimento?

CC: Os meus pais. Acima de qualquer coisa. Todos os dias.

zz: A D. Preciosa e o Sr. Nóe.

CC: Esses mesmo. Nos bons e nos maus momentos sempre ao meu lado. A conduzir um Fiat Uno, a conduzir BMW, a aparecer na TV, a fazer publicidade ou amanhã, outra vez, a entregar material, sempre os meus pais.

zz: E os teus filhos?

CC: Esses também, mas esses querem que eu continue a trabalhar bem e a aparecer que é para lhes fazer MBways (risos). Agora, os meus pais sempre foram muito fiéis, contra tudo e contra todos, se tiver de ser. É incomparável, por isso é que os temos de tratar bem, pois deram tudo. Investiram muito em mim, na passagem de valores, num sentido apurado de trabalho e de consciência para o meu lugar no Mundo, assim como dos outros terem o seu espaço, de não ser egoísta, de não ser mal criado. Nunca olharam para mim e mudaram a postura deles conforme o meu status social. Foi sempre a mesma coisa. Mais ninguém é assim.

zz: Para terminar só falta sabermos quem é o seu 11. Qual é a equipa do Cândido Costa.

CC: Vai ser terrível. Ou vão pela carreira, ou vou pelo currículo. Vou misturar as duas coisas. Na baliza vou colocar o Sérgio Leite. Foi um companheiro, faz parte da minha geração, viveu muita coisa comigo, foram muitas viagens de autocarro, muitos estágios. Brutal. A lateral direito vou colocar o Secretário, esse campeão, que está a recuperar agora. Central: vou escolher alguém que mistura performance, companheirismo e bravura. Sei que o FC Porto alberga muita gente que transporta a mística, mas do meu tempo, não quer dizer que seja de todos os tempos, mas do tempo, Jorge Costa. Treinar com dois ramalhetes no joelho e sabe Deus como. Era um centralão, o jogo começava e ele transformava-se num Viking. Ao seu lado, é muito difícil. Vou colocar o Tarzan, o Ricardo Costa. Ele faz uma carreira brutal e era um companheiro enorme. Da minha tribo ele é o jogador que vai mais longe. Começou comigo nos Sub-15, era central do Boavista, e foi o que fez o melhor currículo e a melhor carreira, pois também era um aglutinador de grupo. A defesa esquerda... outra novidade, joguei com muitos, mas sou muito de coração. Entre o coração e a razão, eu escolho o coração. Jorge Ribeiro, irmão do Maniche. Grande colega de quarto durante muito tempo. Olho para ele e faço a pergunta se envelheci assim tanto, também. Eu lembro-me dele muito puto e ele lembrar-se-á também de mim muito puto e a viver aqueles sonhos de Sub-15 e Sub-16, além de ser um grande defesa esquerdo. A trinco vou colocar o Costinha. É alguém com quem continuo a manter a amizade, o compaheirismo de forma intacta. Um senhor em toda a linha. Médio interior direito vou colocar mesmo pela qualidade: Alenichev. Já não falo com ele há muito tempo e gostava de falar novamente. O russo era incrível e craque. Para médio interior esquerdo escolho outra surpresa. Nunca percebi como não chegou a um grande: Zé Pedro. Metia a bola onde queria, aquele pé esquerdo era fabuloso. Tudo era fácil, quando recebia a bola vinda do pé esquerdo do Zé Pedro. Além disso, o jeito dele: o Zé Pedro está no limbo entre o introvertido e o sacana. Dizia as coisas no momento certo. Podia dizer o mesmo do Silas, mas o Deco matava-me. A 10 é o Deco. Meu colega de quarto durante dois anos no FC Porto. Um monstro futebolisticamente e para a moral que tem é humilde demais. Na frente se eu fosse daqueles fanfarrões escolhia o Cristiano Ronaldo, pois fiz um estágio ou outro com ele. Na frente... Postiga. Postiga tem de estar, por tudo e mais alguma coisa. 

Na última peça tenho de arranjar alguém que faça um bom casamento com o Postiga. Tenho um, que é um parceiro e já o conhecia num contexto mais à frente. O Cássio. Esteve comigo no Rapid de Bucareste. Ele adorava o meu arroz de feijão. Jogou no Nacional... Mas falta aqui muita gente, até malta da Ovarense, do S. João de Ver. A turma do S. João de Ver foi incrível. Isto é injusto. Quero escolher 100 jogadores e seis treinadores...

zz: Fica prometido que vamos arranjar um quadro maior e fazemos esse desafio.

CC: Está combinado...

Cândido Costa com Humberto Ferreira, nos estúdios do zerozero, durante a gravação do Ponto Final

Veja a entrevista completa aqui:

 

 

Disponível em: zerozero

Recorde aqui todos os episódios do programa

Portugal
Cândido Costa
NomeCândido Alves Moreira da Costa
Nascimento/Idade1981-04-30(43 anos)
Nacionalidade
Portugal
Portugal
PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Defesa (Defesa Direito)

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