Da saída do Corinthians à chegada ao Flamengo: Vítor Pereira contou a história pela primeira vez

O treinador português falou pela primeira vez sobre a polémica mudança que teve no Brasil e o que isso significou para si. Vítor Pereira contou a história da saída do Timão e da forma como foi convencido pelos dirigentes do Mengão. Esta é uma parte da entrevista que deu ao podcast Ataque Rápido, do zerozero.

«Eu e a minha equipa técnica decidimos que não seria possível continuar no Corinthians pela necessidade que as nossas famílias tinham naquele momento. Estive três anos na China, eram 21 horas de distância para casa. Estás a ver os débitos que acumulas com a tua família. Sentes que os teus filhos estão a crescer, estão naquela idade da adolescência e a precisar de um pai e tu não estás lá. Isto aconteceu-me durante 12 anos. Em conversa entre todos, decidimos vir embora do Brasil, vir para casa ter um tempo para estudar, para refletir, para melhorar. Despedi-me do Corinthians desta forma, para vir embora, por razões familiares. Por gostar muito das pessoas, não quis apontar que não via um projeto, um projeto ganhador, capaz de nos valorizar a nós e ao clube mais do que o que já tínhamos feito. Numa conversa pessoal com o presidente, uma conversa pessoal e de amigos, atenção, disse-lhe que precisava de voltar para casa», começou por contar.

«O que acontece a seguir? Tínhamos combinado, eu com a minha família, que eles iriam ter comigo à Bahia para uma semana de férias. Acha-se que um treinador goza muito a vida, mas eu tinha aquela semana de férias apenas. Nos três dias anteriores, em que fiquei em São Paulo, o Flamengo vem ter comigo. Eu nunca tinha falado nada com os meus assistentes nem a ninguém porque, de facto, nós não tínhamos nada e vínhamos para casa. Era essa a decisão. O que acontece? Eles vêm ter comigo e dizem: 'Vítor, nós gostávamos que fosses o treinador do Flamengo'. Isto foi dois dias antes de vir embora. No dia seguinte, fui à Avenida Paulista. Sentei-me com dois amigos para beber uma cerveja, mas não estive sentado 30 segundos, porque começou a formar uma fila enorme para tirar fotos comigo. Porque senti, de facto, que os corinthianos tinham comigo uma relação muito forte. Naquele último dia, ligaram-me do clube para eu transmitir alguma coisa e eu não conseguia. O sentimento era tão forte que eu nem conseguia falar», continuou o técnico.

Vítor Pereira seria criticado no Brasil por ter argumentado a doença da sogra como motivo para a saída, que não significou um regresso a Portugal. Nesta intervenção, o técnico ripostou o que foi dito sobre o tema e deixou implícito que o presidente do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, não respeitou a conversa privada entre ambos.

«Depois, eu vou para a Bahia e os dirigentes do Flamengo vêm atrás de mim. Tive uma semana de férias que não foram férias, estragaram-me isso. Estiveram lá comigo. Nessa semana, em que eu estava com a minha família, eu liguei para várias pessoas e ninguém queria que eu continuasse no Brasil, queriam que eu fosse para casa. O problema de saúde [n. d. r.: da sogra de Vítor Pereira] que toda a gente fala e brinca com a situação é um problema muito grave. A única vez que falei daquilo foi numa conversa de amigos. Só que essa conversa de amigos passou para a imprensa». 

«Ligo aos meus assistentes, que já estavam em Portugal, a dizer que tínhamos o Flamengo e a perguntar o que é que eles achavam. Eles disseram que tínhamos prometido às famílias ficar três ou quatro meses em casa para partirmos depois e, portanto, não era possível. Então, tive que formar uma equipa técnica em dois dias. O que é que eu achei? Achei que, em termos estruturais, dinheiro, capacidade de investimento e os títulos que havia em mãos, com quatro possibilidades de títulos em dois meses, seria um risco enorme, mas eu fiz a minha carreira toda em cima do risco. Eu não tenho medo. Abraço o projeto e só depois de ver é que percebo se é possível. Fui para o Flamengo com uma equipa técnica formada em dois dias. Eles foram à frente e eu tive de esperar que o meu contrato acabasse para ir. Passado semana e meia estava a jogar a primeira final, contra o Palmeiras, que tinha três anos de Abel. Depois outra final, e outra e mais outra. O projeto no Flamengo foi jogar finais, sem tempo de trabalho, com uma equipa técnica nova, a ter de os organizar e perceber a dinâmica do grupo, que era completamente diferente do do Corinthians», concluiu.

Pode ver a entrevista completa aqui