Primeira mão de duas caras. Da loucura ao medo, da confortável vitória ao quase empate, os adeptos do Atlético viveram de tudo na receção ao Borussia Dortmund. No final, aperceberam-se que é mais benéfico começar bem que acabar e, nesse sentido, venceram com dois golos na primeira parte (2-1).
45 minutos ideais para ver a décalage - que, no final, mostrou significar pouco. De um lado, uma equipa que, nos últimos dez anos, chegou sete vezes aos quartos de final (e duas à grande final). Do outro, uma que só aos quartos chegou por quatro ocasiões e de nunca lá passou. Fácil adivinhar quem, menos nervosa, começou por cima.
Habituado a estas andanças, o cínico Atleti castigou o tremido Dortmund. Dois erros na primeira fase de construção foram fatais. Demasiado inocentes, os alemães ofereceram o ouro ao bandido e os espanhóis não se fizeram rogados: primeiro, De Paul não pediu licença a ninguém e abriu o marcador; depois, Griezmann lançou Samuel Lino, que, com espaço, não perdoou.
Face ao sufocante domínio, o marcador até foi lisonjeiro. Pressionantes e aguerridos, os esfomeados homens de Simeone, sobretudo no meio-campo, engoliram o adversário. Experiência, hábito e conforto: diferenças gritantes entre os conjuntos. Até os líderes do Dortmund mostraram dificuldades.
Ainda assim, os últimos cinco/dez minutos da primeira parte foram menos maus. Os visitantes, sempre pela criatividade de Sancho — elemento em destaque pelo baile que proporcionou e pelos problemas que criou (Sancho contra o mundo) —, deram um ar da graça alemã e, pelo menos, chegaram à área contrária: Maatsen teve a melhor ocasião, com um remate forte de fora da área.
Brandt serviu Haller — outro recém-entrado — e, após o ressalto, o costa marfinense enquadrou-se e chutou forte. Eliminatória, contra a maré, relançada. Contudo, a maré, assim que foi remada em sentido contrário, ajudou o marinheiro e mudou.
O ouro estava mesmo no banco. Bynoe-Gittens também entrou e criou perigo. Vertiginoso, o extremo saiu da linha lateral, fletiu para dentro, foi rápido e chutou com estrondo à barra — e, quem salva uma, salva duas. No último minuto da compensação, o cúmulo surgiu — da sorte ou do azar, depende da perspetiva —; Brandt recebeu um cruzamento da direita e, no centro da área, Brandt cabeceou para novo beijo nos postes.
Fim tremido: Madrid colocado em sentido e tudo em aberto para a segunda mão.
Foi por isto que a eliminatória não ficou já decidida. O Borussia foi ao banco, chamou Brandt, Haller e Bynoe-Gittens e foram todos essenciais. Com remates aos ferros, assistências e golos, deram uma nova vida: ao Dortmund e à eliminatória.
O Borussia demorou meia hora a entrar no jogo. Nesse período, deu dois golos ao Atlético, que por pouco não matou a eliminatória. Além disso, foi impotente, não criou e perdeu-se no meio-campo adversário. Péssima meia hora, inadmissível neste nível.
Exibição positiva de Marco Guida. A partida pareceu aquecer perto do intervalo, mas Guida foi ao bolso e controlou bem os ânimos. De resto, deixou jogar. Sai de Madrid com uma boa nota.