Ganhar jogos na Liga dos Campeões nunca é fácil, mas é, para um Benfica que se quer e se mostra cada vez mais ambicioso no plano continental, uma necessidade. Só vencendo se chega às rondas mais adiantadas, como os encarnados provaram nas últimas duas temporadas.
O Red Bull Salzburg nunca é um adversário fácil, mas é, na teoria, o oponente mais simpático que a sorte trouxe às águias neste Grupo D. E se havia obrigação de vencer em alguma das seis jornadas desta fase de grupos, então teria sido nesta. Não só pelo adversário, mas também pelo timing do jogo e pelo incontornável fator casa.
Depois de uma época em que saiu invicto desta fase, o Benfica entrou da pior forma e registou uma derrota no seu próprio reduto. Início infeliz e marcado por erros, um pouco à semelhança do que aconteceu há cerca de um mês na Liga.
Mais um belo espetáculo de luzes e led e sons clássicos precedeu o pontapé de saída na Luz, mas foi a equipa da casa que pareceu ficar mais afetada pela sua parafernália audiovisual, uma vez que foi o adversário quem entrou com tudo. O apito inicial foi como um portão de praça em Pamplona, soltando onze touros vermelhos a correr em todas as direções, com a potência de quem só poderia estar a representar uma bebida energética.
Foi um pouco excessivo, o alarmismo com que a águia reagiu ao arranque do adversário, uma vez que este encaixou tão bem na reputação do mesmo. A linha defensiva tremeu... e os elementos mais jovens foram os primeiros a tombar.
Anatoliy Trubin, novamente titular e com aprovação de Schmidt, errou. Não foi necessariamente culpa dos 22 anos, nem de qualquer suposta inexperiência de um guardião que aqui iniciou a sua quarta participação consecutiva na liga milionária - mal seria dar esse motivo como justificação, frente a uma equipa que se destaca pela juventude. Ainda assim, bastaram dois minutos para que o ucraniano concedesse um penálti sem necessidade.
O central viu o cartão vermelho e cedeu aos austríacos a segunda grande penalidade do jogo. Roko Simic, filho do ex-Inter e Milan Dario Simic, fez o que o parceiro de ataque não tinha conseguido minutos antes, e assinalou o 0-1.
Se por um lado a noite não ficou mais fácil, o que é natural quando se joga com 10 e com um guarda-redes evidentemente ansioso, a verdade é que o Benfica até reagiu bem à expulsão e desvantagem. Até ao final da primeira parte, conseguiu superiorizar-se ao adversário várias vezes, chegando a atirar ao ferro em mais do que uma ocasião e a ameaçar o golo olímpico (Di Maria foi o autor dessa audaciosa tentativa, pois claro).
Pelo meio, e para que a fé encarnada não embalasse demasiado, o Red Bull Salzburg dilatou. O segundo golo, marcado pelo prodígio israelita Oskar Gloukh ainda numa fase inicial da segunda parte, deitou abaixo vários elementos da equipa da casa. João Neves foi um dos que mais lutou, com pilhas mais duradouras que as dos experientes campeões do Mundo, Di Maria e Otamendi, mas nem ele, nem a entrada de Neres (os adeptos quase forçaram Schmidt a mexer...), conseguiu dar o embalo necessário.
No final, uma derrota que pode ser encarada de duas formas. Ou será símbolo de uma má prestação europeia em construção, como foi nas outras sete vezes em que o Benfica entrou a perder (nunca passou o grupo...), ou então terá maior semelhanças com a forma doméstica da atual temporada, iniciada com uma derrota contra o Boavista mas continuada com uma forma que tinha sido, até esta noite europeia, imaculada.
Não foi por Halil Umut Meler que o Benfica não venceu esta quarta-feira. O árbitro turco foi forçado a assinalar duas grandes penalidades muito cedo no jogo e também cumpriu as regras na expulsão. Roger Schmidt queixa-se de uma grande penalidade por assinalar a seu favor e não seria injusto se essa tivesse sido assinalada, não foi, ainda assim, tão evidente como as restantes.
O Benfica sai derrotado do seu próprio reduto e isso será sempre encarado como um fracasso, mas há positivos a retirar. Mesmo que não tenha tido sucesso, a equipa de Roger Schmidt pareceu confortável a atuar com apenas 10 elementos, no seguimento da expulsão. Uniu-se mais, o que era necessário a nível defensivo, mas também se soltou no ataque e conseguiu criar muito perigo. Numa noite menos marcada pela inspiração do guarda-redes adversário, talvez tivesse sido construída uma história diferente.
Há muito mérito do Red Bull Salzburg na forma como veio a Lisboa buscar três pontos, voltando a vencer fora na Liga dos Campeões quase três anos depois. Foram os austríacos que entraram de forma avassaladora e foram também eles que colocaram a bola dentro da baliza em duas ocasiões, mas houve também algum demérito do lado do Benfica. Trubin não deu a confiança que a Luz pedia, António Silva teve uma noite para esquecer e os erros cometidos nos minutos iniciais custaram pontos que podem vir a fazer falta.