Portugal ganhou 9-0. Há muito mais a dizer, naturalmente, mas parece desnecessário contornar esse facto nas primeiras palavras desta crónica.
Vamos manter-nos pelos factos mais crus e sublinhar que esta é a maior vitória da história da seleção portuguesa. O anterior recorde, 8-0 repetido por três vezes, foi alcançado há quase 20 anos e superado numa noite em que o grão-ducado só deixou o relvado depois de encher o papo.
Frente ao Luxemburgo, que levava o pleno de vitórias desde o último encontro com Portugal, Roberto Martínez fez o seu sexto jogo ao leme da seleção - o primeiro sem Cristiano Ronaldo - e escreveu o seu nome na história do futebol luso. Já é recordista, este nosso espanhol.
Ah! Caso também queira dar foco ao outro número que ficou registado nos marcadores do Estádio do Algarve, repare que a baliza continuou bem guardada. Ainda nenhum golo sofrido nesta fase de qualificação para o Euro, que já vai na segunda volta.
A evolução do futebol luxemburguês tem merecido a atenção do zerozero, mas não se pode dizer que isso tenha estado entre os pensamentos dos portugueses em nenhum momento desta noite de segunda-feira. Especialmente depois do apito inicial, que marcou o início de uma festa sempre pautada pelas corridas até à bandeira de canto, onde Portugal celebrava os golos.
Sempre belo, um primeiro golo pela seleção, mas o que se seguiu também foi bom de contemplar. Gonçalo Ramos, que não marcava desde o memorável hat-trick que fez no Mundial, voltou a brilhar na ausência de Ronaldo e não demorou a duplicar a vantagem. E veio com bis, este regresso do ponta de lança algarvio às origens! Bela rotação e finalização depois do trabalho de um intratável Rafael Leão, num dos melhores movimentos técnicos da noite.
Mas voltemos a Inácio, porque se a noite foi de Portugal então a primeira parte foi exclusivamente dos Gonçalos. A terceira internacionalização do central do Sporting foi absolutamente memorável, já que este só regressou ao balneário depois de assinalar um improvável bis, numa espécie de repetição do tento inaugural.
Se Roberto Martínez tivesse mais algum Gonçalo no banco, certamente o teria colocado a aquecer. Dada essa ausência, o jogo seguiu em nome de Portugal, com um resultado que se foi alargando...
Aos 83 minutos, a seleção portuguesa já tinha conseguido igualar a sua maior vitória de sempre, recorde que durava desde 1994 e que foi por duas vezes igualado, mas nunca superado. Até hoje, isto é. Apenas cinco minutos depois desse oitavo golo, João Félix, cuja convocatória foi tão questionada, encheu o pé e rematou para a história!
Portugal ganhou 9-0. Não foi um resultado tão redondo como Faro queria, numa noite que acabou em gritos de «só mais um», mas foi impressionante o suficiente para voltar a sublinhar esse facto antes de colocar um ponto final nesta crónica.
Não é uma conversa de hoje e certamente continuará a surgir, mas ninguém consegue negar que há um Portugal com Ronaldo e um Portugal sem, com a preferência coletiva a cair cada vez mais para a segunda opção. Como aconteceu no Mundial, Gonçalo Ramos esteve à altura da tarefa e agora foi Roberto Martínez que teve a sua primeira experiência sem o capitão.
No início desta fase de qualificação sublinhamos um sonho luxemburguês e o porquê deste ser cada vez mais realista. Voltámos a fazer isso na antevisão a este jogo. No final desta noite algarvia, só podemos sublinhar que a ambição do Luxemburgo pode ser atrasada vários anos por momentos de pura ingenuidade. O momento em que o selecionador Luc Holtz abandona o campo, depois do oitavo golo, ilustra toda a partida.