No jogo 100, mais uma vitória para Fernando Santos. Depois da vitória categórica frente à Suíça, Portugal precisou apenas de 30 minutos de ritmo alto e muita qualidade para bater a seleção chéquia, que ainda não tinha perdido nesta Liga das Nações, e isolar-se na liderança do grupo.
João Cancelo e Gonçalo Guedes apontaram os golos da seleção nacional, mas foram Ruben Neves e sobretudo Bernardo Silva a fazer dançar os portugueses.
Todos aos santos
Ai-i-ó-ai, lari-lo-lela
Todos a Alfama
Ver se a tradição nos chama
A música chama-se «Chegaram os Santos» e pertence aos Diabo na Cruz. A época festiva - Santo António em Lisboa - parece-nos apropriada para resgatar esta música, até porque na seleção portuguesa havia um Santos em festa.
Falamos de Fernando Santos. O Engenheiro celebrou, frente à Chéquia, o jogo 100 pela seleção nacional. Já há muito que é recordista, mas uma marca centenária é sempre especial. Louve-se o selecionador! Ai-i-ó-ai, lari-lo-lela! As críticas que lhe são apontadas têm legitimidade, mas não há quem tenha vencido mais do que Fernando Santos.
«Todos ao(s) Santos.» Embebecido do espírito de festa, com o tambor festivo na retaguarda da baliza checa na primeira parte, Portugal quis dançar o baile frente a uma seleção que já tinha derrotado a Suíça e tinha empatado com a Espanha. Uma ameaça contrariada pelos bailados portugueses.
«Chegaram os novos
Com saberes de muitos povos»
Não estamos propriamente a falar de uma revolução, até porque do meio-campo para a frente só entraram Guedes e Bernardo Silva. Falamos, sim, de uma nova forma de jogar. A ideia, pasme-se, passa por utilizar o talento à disposição de Fernando Santos. E quando isso acontece os portugueses cantam: «Ai-i-ó-ai, lari-lo-lela».
Os passes de Ruben Neves e Bernardo Silva deliciavam os portugueses e os turistas, que nos dias de hoje aterram em Portugal para provar a sardinha e a cerveja. Vêm «todos aos Santos».
Depois de um período em que Portugal teve algumas dificuldades para dar aquele primeiro passo, como o mais tímido dos portugueses num baile de verão, foi preciso inaugurar a pista de dança. A dupla Bernardo e Cancelo fez uma espécie de «dança do quadrado» e cá vai disto! Estava desfeita a segurança checa.
Lançada a festa, não tardámos a ver todos a dançar. Guedes, ele que tanto defendia à direita como aparecia ao centro, fez o 2-0 a um ritmo mais digno de uma valsa. 1, 2, 3... 1,2,3... 1 - passe de Ruben Neves; 2 - visão de Bernardo Silva; 3 - finalização de Guedes. Sai da frente, Chéquia!
Depois de uma primeira parte de muita dança e ritmo alto, especialmente a partir dos 20 minutos, a equipa portuguesa entrou naquele ritmo de fim de noite. Ainda há quem tenha vontade de dar um último passinho - João Cancelo foi um desses - e há já quem tenha alguns momentos de desorientação, como aconteceu com Diogo Costa e Ruben Neves, bem diferente da primeira para a segunda parte.
Nas bancadas, a música repetia-se: «Só mais um. Só mais um.» A equipa portuguesa mostrou ter ainda forças para cumprir o desejo dos adeptos, mas aqueles passos de magia da primeira parte foram cada vez mais raros.
Amanhã (domingo, frente à Suíça) também é dia. Recuperem-se as forças porque amanhã (sexta-feira), tal como hoje, é dia de Portugal!
Rúben Neves e Bernardo Silva foram um tratado neste aspeto, bem auxiliados por William Carvalho, embora esta noite mais dado a processos simples do que no encontro com a Suíça. Os dois médios encontraram os melhores caminhos para atacar a baliza checa e a qualidade dos restantes acabou por resolver a partida a favor de Portugal.
A ideia passava por criar perigo pelos flancos, mas a estratégia portuguesa, com Guedes a fechar à direita e Cancelo a ocupar um espaço mais central, tapou esses caminhos à seleção checa. Sem essa hipótese, faltou um plano B e talvez um pouco mais de talento - a ausência de Schik fez-se sentir.