Muito sofrimento, pouca qualidade futebolística e um Cristiano Ronaldo para a história. Palavras que podem ou não já ter sido escritas neste site, tal tem sido a tendência portuguesa. Desta vez, Cristiano Ronaldo começou por desiludir com um penálti desperdiçado na primeira parte, mas o capitão português apareceu muito perto do fim para, com duas cabeçadas, conseguir mais um marco na história do futebol mundial e, acima de tudo, os três pontos para Portugal frente à República da Irlanda (2x1), que, no Algarve, morreu mesmo na praia.
O Euro já lá vai, mas os problemas da seleção portuguesa continuam bem presentes. No regresso à qualificação para o Mundial, onde Portugal tem toda a obrigação de estar presente e fazer boa figura, a equipa comandada por Fernando Santos não se limitou a fazer mais do mesmo, fez pior.
Num jogo contra uma seleção irlandesa que ainda não tinha qualquer ponto e que a nível individual é vários degraus abaixo da seleção nacional, Portugal voltou a mostrar o mesmo deserto de ideias em que vai vivendo nos últimos tempos, com a diferença que desta vez as invididualidades não só não estavam a resolver, como iam complicando.
Parecia que tudo ia correr de forma tranquila para Portugal, num Estádio do Algarve bem preenchido - 7831 espetadores -, não só com adeptos portugueses como irlandeses, com todos a prepararem-se para celebrar mais um feito de Cristiano Ronaldo, que, a partir da marca de penálti, iria tornar-se o melhor marcador da história das seleções. Pela segunda vez num curto espaço de tempo, os irlandeses erraram na saída de bola e Bruno Fernandes saltou na pressão para ganhar penálti para o agora colega de seleção e de equipa converter e festejar o golo 110 por Portugal.
Só que Ronaldo também falha. Da marca dos 11 metros, a estatística por Portugal nem é particularmente famosa (falha um a cada quatro), mas tendo em conta que não desperdiçava um penálti desde o Mundial 2018, poucos esperariam que o capitão da seleção nacional fosse travado pelo jovem Bazunu, de apenas 19 anos, que havia falhado momentos antes. Desta vez foi Cristiano a falhar.
Tudo bem, pensar-se-ia, recorde adiado por mais uns minutos, afinal a República da Irlanda mostrava as debilidades que todos esperavam. Mas, se recordarmos a conferência de antevisão, Rui Patrício destacou as bolas paradas dos irlandeses como o principal ponto forte. O guarda-redes da Roma não estava errado.
Antes do golo sofrido, na sequência um canto, lá está, Portugal ainda teve uma bola no poste através de Diogo Jota, um dos que mais criou na primeira parte, juntamente com Cancelo, praticamente a única solução para atacar a baliza irlandesa. Se ofensivamente a situação era, à falta de melhor e mais adequada palavra, deprimente, defensivamente também não estava muito melhor.
Palhinha foi ganhando duelos físicos, cumprindo a missão que lhe foi atribuída, de forma a salvaguardar Bruno Fernandes e Bernardo Silva, lado a lado no meio-campo, mas Portugal recuperava a passo e num passo ligeiramente mais rápido a Irlanda começava a ganhar confiança. O pontapé de canto nasce assim, num lance em que Connolly esteve perto de bater Rui Patrício. Egan, que tinha apontado o último golo na carreira precisamente a Rui Patrício, voltou a fazê-lo, desta vez pela seleção irlandesa.
Ao intervalo, o volume ofensivo era totalmente diferente e não se pode dizer que a vantagem irlandesa era justa, mas a exibição de Portugal, tão pobre em ideias como em golos, justificava tamanho castigo.
No regresso dos balneários, Portugal não trouxe propriamente novas ideias, mas apresentou-se com um novo figurino. Ronaldo passou para a esquerda, Jota para a direita e André Silva deu uma referência mais fixa aos centrais irlandeses.
Claro que o golo apontado em cima do intervalo levou a República da Irlanda a recuar ainda mais as suas linhas, a perder mais tempo (o árbitro facilitou imenso o trabalho irlandês) e a sair com menos homem para o ataque. Mais do que nunca, a bola estava do lado português, mas o problema manteve-se o mesmo: O que fazer com ela?
Sem grandes espaços pelo meio, Portugal teve muito volume ofensivo. A isso era obrigado, não só pela desvantagem mas também porque a República da Irlanda convidou a que tal acontecesse. Sucederam-se cruzamentos, remates desenquadrados e o desespero, que cedo saltou das bancadas para o relvado.
Parecia que aquela ponta de sorte que muitas vezes Portugal consegue ter ou aquela pitada de Ronaldo não iriam acontecer, mas esta foi mesmo uma noite para dizer que o melhor estava guardado para o fim.
Com uma cabeçada, Cristiano Ronaldo bateu mesmo o recorde e tornou-se no jogador com mais golos de sempre por uma seleção. 110, um número redondo, mas que não era suficiente para chegar a um resultado que Portugal tinha forçosamente de conseguir. Depois de uma exibição muito abaixo do que pode fazer (já estava no bolso do zerozero), o golo 111 apareceu na altura certa.
Ronaldo deu mais uma cabeçada nos irlandeses e os três pontos aos portugueses, que saltaram das bancadas para, em uníssono, gritar «siiiiii». Não apaga a péssima exibição portuguesa, mas mais uma vez temos de olhar para o desfecho final, o triunfo português.
Falhou um penálti e até aos 88 minutos tinha sido dos piores em campo na seleção portuguesa, mas como tem sido desde que veste a camisola de Portugal, Ronaldo foi decisivo. O melhor marcador de sempre por uma seleção tinha mesmo de ser ele.
Tão pobre o jogo da seleção portuguesa. A qualidade é claramente acima da seleção irlandesa, mas em campo a equipa de Fernando Santos voltou a mostrar muitas debilidades, ficando bem abaixo do que pode e deve mostrar. Defensivamente muito passiva e ofensivamente pouco criativa e demasiado lenta, esta seleção vai mostrando que depende bem mais de invidualidades do que das ideias que possam ter trabalhadas na Cidade do Futebol. Demasiado mau. Uma vez mais deu para vencer, mas e nas horas decisivas?