O Famalicão voltou com vontade de continuar a surpreender as principais equipas do futebol português. Mais uma jornada, mais uma vitória, desta vez em Barcelos, por 1x3, que possibilita aos comandados de João Pedro Sousa alcançar o Sporting no quarto lugar da tabela, pelo menos de forma provisória.
Num jogo nem sempre muito bem jogado, a qualidade individual e o talento famalicense acabou por fazer, mais uma vez, a diferença. O Gil lutou muito, mas os pontos para a manutenção ficam para depois.
Por razões distintas, esperava-se que este Gil x Famalicão pudesse ser o início perfeito da segunda jornada pós-covid. Os de Barcelos tinham contas a ajustar, com a manutenção, desde logo, que ainda não está garantida, e com o seu nível exibicional, que poucas vezes apareceu no relvado de Portimão. Por outro lado, em caso de vitória, o conjunto de João Pedro Sousa podia colar-se ao Sporting. Sim, depois daquela pequena crise de resultados que marcou os meses de fevereiro e março.
Não que tenha sido uma primeira parte fraca, longe disso. Por estas bandas, as portuguesas, entenda-se, já se viu muito pior. mas faltou mais brilhantismo e inspiração a duas equipas que tentaram, é certo, muitas vezes com mais atitude do que clarividência. E, depois, os episódios insólitos ainda tiraram alegria e ritmo. Porque se os problemas no auricular do árbitro não são de agora, as queixas perante as bolas suspostamente vazias já trazem consigo uma certa novidade não muito agradável.
Foi, ainda assim, o Famalicão a entrar melhor. Não com aquele futebol que já apaixonou as gentes de Vila Nova, mas com pressão, velocidade, objetividade e boas combinações, essencialmente na meia esquerda, entre o trio Pedro Gonçalves-Lameiras-Martínez. Foi precisamente daí que surgiu o primeiro golo, depois de uma má abordagem da novidade Banguera na sua própria área. Aproveitou Fábio Martins para inaugurar o marcador, na marca dos onze metros.
Soavam os alarmes para o Gil. A equipa tinha entrado algo errática e seria preciso uma outra atitude para buscar o empate. Ela apareceu mesmo. Nem sempre a equipa de Vítor Oliveira tomou as melhores decisões, também por culpa do poderio físico da última linha famalicense, fortalecida com mais um central, mas justificou o empate, especialmente quando Sandro Lima tinha a baliza à mercê e deixou fugir a bola pela linha final. Mas era, aí, uma estratégia inteligente dos parte dos de Barcelos: roubar a bola cedo e partir com tudo rumo à baliza de Vaná.
O Famalicão sentia dificuldades para construir com qualidade e para jogar bem dentro do meio campo contrário. As más decisões individuais e a insistência pelo passe longo dificultaram a ação a uma equipa que, mesmo assim, criou quase sempre perigo no último terço. Fábio Martins obrigou Denis a uma grande intervenção, depois de um bom momento individual de Lameiras, antes de Diogo Gonçalves deixar João Pedro Sousa bem mais tranquilo. Mais uma boa movimentação de Toni Martínez, ainda melhor cruzamento e remate assertivo do jovem português. Era um primeiro final perfeito.
A desvantagem de dois golos obrigou o Gil a entrar mais dominador no segundo tempo. A equipa de Vítor Oliveira teve mais bola, obrigou o Famalicão a recuar, mas a criatividade foi quase nula, mesmo com as mudanças a partir do banco. Sempre que circulava bem, os barcelenses eram quase sempre capazes de estragar boa parte das jogadas. E um Famalicão controlador e sólido agradecia...
O Famalicão sentiu o golo. Não que o Gil tivesse melhorado muito, e esse foi precisamente o pecado capital dos barcelenses. O acerto continuou a ser pouco e nem mesmo a pressa do adversário em despejar a bola para o mais longe possível ajudou. Pior, a equipa de Vítor Oliveira sofreu mesmo o terceiro e decisivo golo, num cruzamento venenoso de Diogo Gonçalves que colocou à vista as limitações de Banguera.
E o apito final veio para confirmar mais uma alegria para as gentes de Vila Nova de Famalicão. Está batido um novo recorde de triunfos na primeira divisão, haverá espaço para ainda mais história?
Faltou alguma qualidade de jogo coletiva ao Famalicão a espaços, em Barcelos. Ainda assim, em registos diferentes, o trio da frente merece destaque. Rúben Lameiras teve um par de momentos de genialidade, Diogo Gonçalves voltou a desequilibrar e Toni Martínez movimentou-se muito bem. Talento que marcou diferenças.
Edwin Banguera. O nome não é de todo familiar a quem acompanha só a espaços este Gil Vicente. O colombiano de 23 anos não jogava desde janeiro e esta oportunidade não foi muito bem aproveitada. Andou perdido nos dois primeiros golos e falhou redondamente no terceiro. Não mostrou ser um upgrade em relação a Ygor.
Acertou nos lances mais complicados e não cometeu erros graves no capítulo disciplinar, apesar de alguns jogadores do Famalicão terem pisado o risco do amarelo. Faltou ainda o cartão para Ivo Pinto, que se dirigiu de uma forma deselegante para o banco do adversário.