Ruud Dil nasceu em Amesterdão a 1 de setembro de 1962, filho de uma relação extraconjugal de Ria Dil com George Gullit, um emigrante da então ainda colónia holandesa do Suriname. Gullit (pai) era casado e Ria era a sua buitenvrouw, uma segunda esposa, uma tradição do Suriname, que os emigrantes do pequeno país sul-americano trouxeram consigo para a Holanda.
Como George não reconheceu o filho, Ruud acabou por ser criado pela mãe, de quem herdou o nome, e foi com ela que cresceu em Joordan, um subúrbio pobre de Amesterdão. Começou a jogar nos escalões de formação do Meerboys, contava então apenas oito anos. Em 1978, assinou o seu primeiro contrato profissional pelo HFC de Haarlem. No pequeno clube do Norte da Holanda apontou 32 golos em 91 presenças, ajudando de sobremaneira na ascensão do clube à Eredivisie, onde o Haarlem surpreendeu com um quarto lugar.
Em 1982 deu o tão ambicionado salto para um grande clube, assinando com o
Feyenoord de Roterdão, onde conquistaria a dobradinha em 1984, no ano em que teve o privilégio de jogar ao lado da lenda do futebol holandês, Johan
Cruijff.
Terminada a época, mudou-se de armas e bagagens para Eindhoven, onde o
PSV pagou a exorbitante quantia de 1,2 milhões de florins pela sua aquisição. No clube da Phillips, ao lado dos mais brilhantes jogadores da sua geração, ajudou a escrever alguns dos grandes momentos da história do clube de Eindhoven.
Bicampeão em 1986 e 1987, tornou-se uma das figuras principais do campeonato holandês, despertando a cobiça dos principais clubes europeus, saindo no fim da época de 1986/87 rumo a Itália e ao todo poderoso AC
Milan, perdendo por uma época a coroação do
PSV como rei da Europa, quando um ano depois, em Estugarda, o
PSV bateu o
Benfica e conquistou a Taça dos Campeões Europeus.
O tridente holandês
O presidente milanista, Silvio Berlusconi, sonhava transformar o AC
Milan na maior potência de Itália e da Europa. Com
Arrigo Sacchi no banco, começou a juntar alguns dos melhores jogadores italianos de então e para as três vagas de jogadores estrangeiros olhou para o emergente futebol holandês e para os seus melhores jogadores, tornando-se Gullit tornou-se um alvo óbvio.
Em meados de junho, os craques pagos a peso de ouro por Berlusconi, e o restante plantel, chegaram a
Milanello, em três helicópteros, ao som da «
Cavalgada das Valquírias», a abertura do III acto da Ópera «
A Valquíria» de Richard Wagner, imortalizado no cinema, com a famosa cena dos helicópteros no filme «
Apocalypse Now» de Francis Ford Copolla.
Il Cavalieri, sonhava em grande e o AC
Milan era o instrumento perfeito dos seus sonhos de grandiloquência, um palco de sonho para a sua veia dramática, uma ópera dentro das quatro linhas.
Ruud Gullit e Marco van Basten - proveniente do
Ajax - entraram no grande clube milanês - Rijkaard juntar-se-ia aos colegas de seleção um ano mais tarde - para formar um das mais bem sucedidas parcerias da história do futebol. O tridente holandês do
Milan, magistralmente bem secundado por jogadores da craveira de Baresi, Costacurta, Ancelotti, Donadoni e Maldini, dominou o futebol transalpino e o do continente.
Em 1989 chegaram à final da Taça dos Campeões, depois de golearem o grande
Real Madrid por 5x0 na meia-final, para no jogo decisivo, em
Camp Nou, humilharem o ex-campeão
Steaua com um concludente 4x0. Um ano depois, a vítima seria o
Benfica - 1x0 em Viena, com golo de Rijkaard - e o AC
Milan chamava a si um bicampeonato que não acontecia desde os tempos do Nottingham Forest de
Brian Clough, e que não voltaria acontecer até ao final do século.
A Laranja Mecânica e o Euro 88
Antes de conquistar a Europa pelos rossoneri, Gullit já provara o sabor da glória ao serviço da sua Holanda natal, conquistando o Euro 88, disputado na Alemanha Federal. Finalista vencida do mundial de 1974 - também na R.F.A. - e de 1978, a Holanda era a mais histórica seleção do mundo a nunca ter conquistado um troféu, mas no fim da primavera, início do verão de 1988, no mesmo local onde 14 anos antes haviam estado tão perto de conquistar o mundo, a nova geração dourada da «Laranja Mecânica», novamente conduzida pelo grande Rinus Michels, estava preparada para emendar a justiça histórica.
Apesar da derrota na estreia com os soviéticos, a Holanda mostrava estofo e futebol de campeã, e não surpreendeu que se apurasse, afastando pelo caminho ingleses e irlandeses. Nas meias-finais, uma vitória sobre os anfitriões abriu o caminho para um regresso ao Olímpico de Munique (1), onde um golo de Ruud e outro de Marco, valeram a histórica vitória, que deixou os Países Baixos em euforia desmedida, pintados de laranja de norte a sul.
Depois do Euro 88, a Holanda surgiu no Mundial de Itália (1990) como uma das grandes favoritas à vitória final, mas acabou por desiludir, sendo eliminada nos oitavos de final sem conhecer o sabor da vitória. Aos empates com Egito, Inglaterra e Irlanda, seguiu-se a derrota com a futura campeã R.F.A (1x2) e o regresso mais cedo a casa e com o amargo sabor da desilusão.
Dois anos mais tarde, na Suécia, não obstante as boas exibições e a imagem positiva que deixou em campo, a Holanda foi incapaz de defender o título conquistado em 1988, perdendo nas meias-finais com a futura vencedora da competição, a Dinamarca de
Schmeichel .
Fim de carreira e o novo desafio
Os últimos anos da carreira ainda valeram dois novos scudettos em Milão, mas Gullit começara a perder espaço na equipa, fruto das lesões e do fim da era dourada do tridente holandês. Infeliz, mudou-se então para Génova e para o Sampdoria, onde não conseguiu inverter o rumo descendente da carreira.
Em 1995 mudou-se de armas e bagagens para
Londres, tornando-se na vedeta mediática do
Chelsea. Em Stamford Bridge, que ainda não vivia os tempos endinheirados de Abramovich, gozava de um estatuto de super-estrela, o que tornou o seu dia-a-dia numa aventura diária para fugir aos adeptos na rua.
Já sem as suas
dread-locks, e com um ar muito mais respeitável, tornava-se o treinador jogador dos azuis de Stamford Bridge, conduzindo o histórico clube londrino à conquista da
FA Cup em 1997, naquele que foi o único troféu conquistado na sua carreira como treinador.
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(1) - Local onde a Holanda perdeu a final do mundial de 1974 com a Alemanha Federal por 1x2.