Não há fã de futebol que não se lembre de uns quantos golos de Maniche (no mínimo, aquele contra a Holanda no Euro2004, da esquina da grande área). Não era avançado, era um médio box to box bem capaz de transportar jogo para o ataque, mas explorou ao máximo a apetência para os grandes golos de longa distância e deixou momentos inesquecíveis pelo YouTube fora. Um jogador talhado para grandes momentos, aliás.
Nuno Ribeiro, Maniche no mundo futebolístico, é dos poucos jogadores que passaram pelos três grandes do futebol português. Nasceu no Benfica, foi campeão europeu no FC Porto e despediu-se no Sporting, clube de que sempre foi sócio. Pelo meio passou ainda por grandes clubes lá fora como Chelsea, Atlético Madrid ou Inter. Na seleção acumulou mais de meia centena de internacionalizações.
Crescimento nas águias até aos atritos
O futebol apareceu-lhe pelas ruas de Lisboa, mais precisamente no bairro da Boavista, freguesia de Benfica. A infância foi dura e o pequeno Nuno refugiava-se nos toques na bola, tendo chegado ao Benfica aos nove anos. Era (e é) sportinguista, por influência do pai, mas «queria era jogar e o bilhete do autocarro só dava até à Luz». Teve Arnaldo Teixeira como primeiro treinador nas camadas jovens benfiquistas e foi ele quem o rebatizou: Maniche, pelas semelhanças físicas com o dinamarquês Michael Manniche, que andava pela equipa principal.
Ainda jovem, não teve logo direito a lugar no plantel. Foi crescer, ganhar calo, para a vizinhança: no Alverca (onde já andava também um jovem Deco) passou três temporadas, sempre sob a atenção do clube encarnado, que acabou por chamá-lo de volta quando Jupp Heynckes era o homem do leme. E logo na primeira época em que foi opção consistente no Benfica... 12 golos em 35 jogos, a jogar no flanco esquerdo. Nem nos seus maiores sonhos Maniche imaginava um número de golos assim, mas estava claro que este era um médio diferente, principalmente num Benfica muito abaixo dos seus melhores anos.
Glória europeia na Invicta
O pouco tempo que Mourinho tinha passado no comando do Benfica tinha chegado para que o treinador conhecesse bem Maniche, e quando foi para o FC Porto quis levá-lo também. Mourinho continuou a espicaçá-lo, relatou o próprio Maniche que o técnico lhe dizia que não seria titular e lhe dava o colete dos suplentes nos treinos... até que lhe deu a titularidade. Tudo funcionou, Maniche correspondeu logo, deixando para trás uma época de deserto competitivo.
...Como na época seguinte, a época de mais um campeonato e da conquista da Liga dos Campeões. Terá essa sido a melhor época a nível individual para o médio, autor de dez golos. Na fase de grupos marcou um contra o Marselha, nos quartos-de-final marcou dois em Lyon, assegurando o salto para as meias. Ocupava um dos vértices do losango de meio-campo, dava músculo, passe e capacidade de remate de fora da área a esse FC Porto que tocou o céu.
Muitas das estrelas do plantel do FC Porto tinham saído no fim da época, Maniche ficou, porque o clube não queria que a equipa fosse destruída de um dia para o outro. Ficou mais uma temporada, que lhe permitiu juntar ao palmarés uma Taça Intercontinental graças a um jogo em que foi o melhor em campo. A saída, porém, iria chegar mais cedo ou mais tarde. Se calhar poucos esperavam era que o destino fosse... Moscovo.
A saltitar até ao clube de sangue
A escolha do Dínamo Moscovo prendeu-se mais com a vertente financeira do que com outra coisa... por 16 milhões de euros pagos ao FC Porto, Maniche foi para a equipa que lhe pagava mais, e onde encontrou os colegas Seitaridis, Costinha e Derlei. Não durou muito tempo por lá até que o Dínamo aceitou emprestá-lo ao Chelsea para que reencontrasse Mourinho, na segunda metade de 2005/06, e aproveitasse para juntar ao currículo uma Premier League.
Seguiu-se uma transferência para o Atlético Madrid, em agosto de 2006, que lhe permitiu reencontrar (mais uma vez) Costinha e apontar quatro golos na primeira temporada de La Liga... até que um alegado desentendimento com o treinador Javier Aguirre o deixou de fora das opções até um eventual empréstimo ao Inter de Milão, onde jogou onze vezes e marcou um golo.
Com o cartão de sócio do Sporting no bolso, Maniche teve por fim a oportunidade de ser leão. As lesões, porém, foram impiedosas, e o médio viria a acabar por terminar contrato no fim dessa temporada, pendurando as chuteiras. Com 14 troféus no currículo.